O Ministério Público instaurou um inquérito para investigar as circunstâncias da morte de mais uma vítima, além das 64 já assumidas oficialmente, do incêndio em Pedrogão Grande.
Segundo uma nota hoje emitida pela Procuradoria-geral da República, foram identificadas 64 vítimas mortais no inquérito que foi instaurado no momento em que foi conhecido o incêndio de Pedrogão Grande.
“Foi ainda instaurado um outro inquérito com vista à investigação das circunstâncias que rodearam a morte de mais uma vítima no âmbito de um acidente de viação”, acrescenta a nota.
O Expresso noticiou no sábado o nome de uma 65ª vítima, não incluída na lista oficial de 64 mortes por ter morrido de causas externas ao fogo: a senhora de uma aldeia da zona afetada que morreu atropelada quando fugia das chamas.
Entretanto, a ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, garantiu que “não existe uma lista secreta” das vítimas mortais do incêndio, sublinhando que os nomes constam de um processo judicial que está em segredo de justiça.
“Não existe nenhuma lista secreta. Todas as pessoas foram identificadas pelo Instituto de Medicina Legal” como tendo morrido “na consequência direta desse incêndio”, disse aos jornalistas a governante.
A ministra adiantou que a lista das vítimas do incêndio, que deflagrou a 17 de junho em Pedrogão Grande, no distrito de Leiria, “consta de um processo judicial”, que o Ministério Público classificou como segredo de justiça.
Também o primeiro-ministro, António Costa, apelou a que quem tenha conhecimento de um maior número de vítimas no incêndio que o comunique de imediato à Polícia Judiciária e ao Ministério Público.
Costa referiu que “não é o Governo que constrói a estatística”, indicando que são as “autoridades técnicas” a fornecer os números.
O primeiro-ministro falava aos jornalistas no final da inauguração do novo centro de contacto do Serviço Nacional de Saúde, tendo sido questionado sobre notícias dos últimos dias que dão conta de mais vítimas mortais do incêndio de Pedrógão Grande, além das 64 assumidas oficialmente.
“Se alguém tem conhecimento de um maior número de vítimas deve, obviamente, comunicar imediatamente esse facto à Polícia Judiciária e ao Ministério Público”.
António Costa acrescentou que a informação de que dispõe é que todas as aldeias foram vistas, casa a casa, pelas autoridades. “A dimensão desta tragédia não era menor se tivesse sido metade o número de pessoas que faleceram”, disse.
Autarcas sugerem divulgação da lista
Os municípios de Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos sugeriram hoje a divulgação da lista de vítimas do incêndio de junho para serenar as populações, enquanto o autarca de Pedrógão Grande apelou a que “os boateiros” sejam corridos.
“Para serenar as populações, se calhar não era desajustado que se tornasse público ou se compilasse o nome e a relação de todas as pessoas”, disse à agência Lusa o presidente da Câmara de Figueiró dos Vinhos, Jorge Abreu, que referiu ainda não ter tido acesso à lista oficial de vítimas.
No entanto, o autarca frisou que, no terreno, todos têm conhecimento “de quem faleceu e de quem foi vítima” do incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande.
Também o autarca da Castanheira de Pera, Fernando Lopes, considerou que, “se calhar, o melhor é divulgar a lista” para acalmar as populações, visto que têm corrido várias listas e rumores de mais vítimas mortais nos concelhos mais afetados.
Porém, Fernando Lopes recordou que os familiares das vítimas também poderão não estar “disponíveis para autorizar a divulgação”.
“Quem tem responsabilidade nesta matéria tem de responder por ela e desfazer as dúvidas todas”, frisou.
Já o presidente da Câmara de Pedrógão Grande, Valdemar Alves, que também não tem conhecimento da lista global, vincou que as autarquias têm a sua própria lista do conhecimento que têm das pessoas que faleceram.
“Eventualmente, poderá aparecer um cadáver aqui ou acolá”, notou, apesar de duvidar que tal tenha acontecido, visto que ninguém se dirigiu à Câmara “a reivindicar a morte ou desaparecimento de fosse quem fosse”.
Valdemar Alves sublinhou que há que “ter boa-fé”, frisando que há “pessoas que gostam de contrariar e de perseguir o poder”.
“As pessoas que andam com estas histórias devem ter o bom senso e a vergonha de parar. Sempre houve boateiros. Quero que corram com os boateiros”, disse o presidente do município, que falava aos jornalistas após visitar a Área de Localização Empresarial, nas Fontainhas, acompanhado do ministro da Defesa, Azeredo Lopes, no âmbito do programa do Dia do Município.
Das vítimas do incêndio que começou em Pedrógão Grande, segundo as autoridades pelo menos 47 morreram na Estrada Nacional 236-1, entre Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, concelhos também atingidos pelas chamas.
ZAP // Lusa
Incêndio em Pedrógão Grande
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