O Presidente da República disse, este sábado, em Pedrógão Grande, que Portugal aguarda “as consequências que o Governo irá retirar” do incêndio na região Centro no qual morreram 64 pessoas.
“Portugal aguarda com legítima expectativa as consequências que o Governo irá retirar de uma tragédia sem precedentes na nossa história democrática”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, que nesse momento recebeu um forte aplauso das cerca de 200 pessoas presentes na sala.
O chefe de Estado fez esta declaração, tendo em conta “o anúncio feito pelo senhor primeiro-ministro”, António Costa, relativamente “a uma reflexão ponderada e exaustiva baseada no teor do relatório” da Comissão Técnica Independente, divulgado e apresentado à Assembleia da República, na quinta-feira.
O chefe de Estado intervinha na abertura do primeiro Encontro para a Autoproteção e Resiliência das Populações, organizado pela Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande (AVIPG), em que fez alguns comentários ao documento, na Casa Municipal da Cultura de Pedrógão Grande.
A presidente da Associação de Apoio às Vítimas de Pedrógão Grande, Nádia Piazza, disse que falhou toda a estrutura e a resposta no incêndio que vitimou 64 pessoas.
“O que se viveu em Pedrógão Grande no dia 17 de junho de 2017 foi algo inominável, irrepetível na sua brutalidade. Falhou toda uma estrutura e resposta naquele dia e naquele pedaço de Portugal”, afirmou a responsável da AAVPG.
“Falhou um estado de coisas e o estado da coisa. Falharam homens e mulheres à frente e atrás das suas responsabilidades. Veio a nu, de forma crua e dura, a inoperância e a incompetência das entidades no auxílio daqueles que desesperaram por proteção e socorro”, disse.
A Comissão Técnica Independente nomeada para analisar os incêndios rurais de junho na região Centro, em particular o fogo que deflagrou em Pedrógão Grande, entregou na quinta-feira no parlamento o seu relatório final.
O documento, que analisa incêndios em onze concelhos dos distritos de Leiria, Coimbra e Castelo Branco ocorridos entre 17 e 24 de junho deste ano, refere que, apesar de o fogo de Pedrógão Grande ter tido origem em descargas elétricas na rede de distribuição, um alerta precoce poderia ter evitado a maioria das 64 mortes registadas.
Além disso, acrescenta, “não foram mobilizados totalmente os meios disponíveis” no combate inicial e houve falhas no comando dos bombeiros.
A GNR fica, por outro lado, ilibada de direcionar carros para a Estrada Nacional 236-1, onde ocorreram cerca de metade das mortes.
O documento aponta falta de conhecimento técnico no sistema de defesa florestal e falta de preparação dos atuais sistemas de combate às chamas para as alterações climáticas, confirmando, por outro lado, falhas de comunicação do Sistema Integrado das Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP).
O primeiro-ministro já reagiu, em Coimbra, às declarações proferidas pelo Presidente da República. Para o primeiro-ministro, Marcelo “reiterou aquilo que o Governo tem dito: de que é fundamental retirarmos agora todas as ilações que há a retirar do relatório da comissão técnica independente”.
“A grande responsabilidade política que o Governo tem hoje é dar execução àquilo que são as recomendações desta comissão técnica independente”, disse.
Questionado pelos jornalistas, Costa afirmou que não está em cima da mesa a demissão da ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa.
ZAP // Lusa
Incêndio em Pedrógão Grande
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