Artista anunciou noivado com o atleta Travis Kelce e quase que parece que a Terra parou de girar para saber de tudo. Os psicólogos explicam a obsessão infundada pelas vidas dos famosos.
Romances de celebridades deixaram de ser assunto das revistas cor-de-rosa. Agora são notícias como as outras todas, porque as pessoas parecem cada vez mais importadas com a vida dos famosos.
Esta terça-feira, foi a vez da cantora Taylor Swift anunciar o seu noivado com o atleta Travis Kelce — o mundo parece que parou. Um dia antes, adaptando à realidade portuguesa, soube-se que a “namoradinha de Portugal”, a apresentadora Catarina Furtado, namora com o músico Carlão — falou-se de poucas outras coisas nesse dia.
Segundo os psicólogos, esta reação intensa deve-se às chamadas “relações parasociais”: ligações emocionais unilaterais que os fãs estabelecem com figuras públicas e que parecem mesmo autênticas, embora não o sejam.
Dois fatores principais ajudam a explicar este estranho fenómeno, explica o psicólogo Mark Travers na Forbes.
Histórias de amor em que nos revemos
Apesar do brilho, os romances das celebridades refletem temas universais: esperança, estabilidade, desilusão, resiliência.
Quando um casal famoso se mantém unido, os fãs sentem-se extra-reconfortados com a ideia de que o amor pode resistir, mesmo sob pressões extraordinárias.
A felicidade da dupla torna-se um símbolo, uma prova de que os contos de fadas ainda existem.
O caso de Zendaya e Tom Holland é um grande exemplo. O seu alegado noivado gerou entusiasmo muito para além de Hollywood. Para muitos, a relação que começou nos tempos de Homem-Aranha é uma história romântica moderna, e cada etapa da sua vida a dois adquire um significado quase pessoal para os fãs.
Mas o efeito inverso também se verifica. Quando um casal muito acarinhado se separa, a experiência pode ser vivida como uma espécie de luto coletivo.
A ciência apoia esta perceção. Um estudo publicado em 2021 na revista Psychological Reports concluiu que as reações dos fãs às relações das celebridades tendem a espelhar os seus próprios estilos de vinculação. Pessoas com vínculos seguros podem admirar os casais famosos sem se envolver demasiado. Já quem tem vínculos ansiosos tende a projetar os seus receios e esperanças nos altos e baixos dessas relações, sentindo-se mais emocionalmente implicado.
Outros investigadores defendem que as celebridades não funcionam tanto como figuras de apego, mas antes como companheiros simbólicos que reforçam o sentido de pertença.
A ilusão da intimidade
Outra razão para este fascínio é a sensação de proximidade que as celebridades cultivam através das redes sociais. Uma simples publicação, entrevista ou fotografia pode criar a ilusão de acesso privilegiado à sua vida privada. A cantora Billie Eilish conseguiu conquistar os seus fãs com tal excelência, colocando-os a todos na lista de amigos chegados no Instagram.
O exemplo de Taylor Swift é paradigmático. Para muitos seguidores, ela não é apenas uma cantora, mas uma confidente, uma irmã mais velha, uma referência moral. A forma como partilha episódios da sua vida e a carga emocional das suas canções reforçam uma ligação de intimidade e lealdade nos seus fãs. E a sua vida amorosa é acompanhada com intensidade: os fãs debatem se os parceiros são “adequados”, defendem-na contra críticas como se protegessem uma amiga próxima. Muitas das suas fãs lésbicas garantem pelas redes sociais fora que Taylor Swift é lésbica, sem que ela o tenha dito alguma vez.
Quando a admiração se transforma em posse
A fama traz um paradoxo: quanto mais amado é um artista, menos a sua vida parece pertencer-lhe. Os fãs sentem-se por vezes autorizados a opinar sobre quem deve namorar, como deve comportar-se ou quando deveria terminar uma relação.
Mas os relacionamentos reais são complexos, privados e impossíveis de captar em manchetes ou instantâneos de paparazzi. O casal que o público “conhece” é muitas vezes uma construção — parte realidade, parte projeção, lembra o psicólogo.