Há 136 anos, o ousado aeronauta Edward Hogan subiu à sua gôndola, suspensa num balão insuflado de ar quente, e partiu de Brooklyn para mais um passeio de demonstração. O balão subiu no entanto a vários milhares de metros de altura, dirigiu-se para o Atlântico — e nunca mais foi visto.
Na manhã de 18 de julho de 1889, o professor Edward D. Hogan subiu a bordo do que, para a época, só podia ser descrito como uma peça futurista de tecnologia aeronáutica, que partia de Brooklyn, em Nova Iorque.
Nascido em Moretown, no Canadá, em 1852, Hogan tinha passado os vinte anos anteriores a trabalhar em máquinas voadoras, período durante o qual afirmava ter feito centenas de ascensões.
Mas esse dia fatídico de verão foi na verdade a última vez que alguém o viu, conta o Paleofuture.
Hogan mostrou desde cedo um grande fascínio pelo voo. O seu irmão mais velho, William Hogan, era um aeronauta conhecido, e Edward fez a sua primeira ascensão em balão ainda adolescente, depois de viajar até Jackson, Michigan. Dedicou a vida à aeronáutica e à construção dos mais variados e arrojados dirigíveis.
Jornais da época relatam que, em 1870, um dos seus balões foi arrastado sobre o Lago Michigan e esteve desaparecido durante dois dias. Amigos de Hogan acabariam por encontrá-lo a dormir num celeiro de um agricultor, segundo relatava a imprensa do século XIX.
Não demorou até ganhar a reputação de “ousado aeronauta”.
Os voos de Hogan eram cheios de espetáculo, e ele tinha claramente um gosto por impressionar o público.
Dizia a edição de 20 de julho de 1889 do Evening Star: “Em agosto do ano passado fez ascensões duas vezes por semana a partir de um dos pavilhões de música em Rockaway Beach e, de uma altitude de 1.500 metros, largava-se para o solo por meio de um pára-quedas. Tanto o balão como o pára-quedas tinham sido construídos por ele próprio. O balão era insuflado com ar quente”.
O jornal detalhava ainda o desenho do dirigível de 1888, descrevendo Hogan como uma figura ágil, de estatura média, cabelo escuro, olhos castanhos e cerca de 78 quilos de peso — e “embora parecesse muito mais leve, um bom atleta”.
Em 1888, Hogan realizou vinte e nove subidas nas suas aeronaves, atraindo sempre grandes multidões. Tudo isto soava espetacular e entusiasmante, mas não estava isento de perigo, por mais habilidoso que o aeronauta fosse.
O artigo relatava como, por vezes, caía ao mar durante as demonstrações, escapando por pouco de se afogar. Numa ocasião, no ano anterior ao seu desaparecimento, caiu numa poça de lama de uma altura de cerca de 30 metros, sobrevivendo por pouco. Recuperou apenas após uma longa convalescença.
O dirigível que usou pela última vez, lançado em Williamsburg, Brooklyn, foi descrito como um balão oblongo, com 15 metros de comprimento e 7 de diâmetro. Segundo o Evening Star, tinha uma capacidade de 500 m3 e era feito de seda envernizada.
A gôndola que transportava Hogan estava suspensa por uma barra de ferro, tinha uma hélice na parte inferior e podia mesmo suportar quatro homens.
O aparelho, que tinha sido desenhado por Peter Campbell, tinha recebido o nome de Campbell Dirigicycle, e uma ilustração publicada na Scientific American mostrava o seu aspeto à distância.
Arquivo Novak

Ilustração da edição de 27 de julho de 1889 da Scientific American
O custo total do dirigível foi de 3.000 dólares — o equivalente a mais de 100.000 dólares ajustados pela inflação. A Scientific American referia até que o dirigível tinha sido anteriormente testado em Coney Island e parecia funcionar perfeitamente.
A Scientific American relatou então o que aconteceu nesse dia, 18 de julho de 1889: “Hogan entrou na gôndola e deu a ordem ‘Soltem-na’, quando as cordas foram cortadas e o dirigível subiu rapidamente, entre os aplausos de uma multidão que se juntara nas imediações. A partida deu-se em direção sudeste, devido a um vento forte vindo do noroeste, embora se visse o aeronauta a girar vigorosamente uma manivela que mantinha o leme e as rodas propulsoras a rodar rapidamente, numa clara tentativa de obrigar o aparelho a enfrentar o vento. A cerca de uma milha de distância, a grande roda inferior, destinada a subir e descer o dirigível, desprendeu-se e caiu ao chão”.
Claramente, não era um bom sinal. O artigo prosseguia, relatando que o dirigível foi visto a dirigir-se para o Atlântico, a vários milhares de metros de altitude. E, embora fosse difícil de confirmar, alguns observadores presentes no local recearam que Hogan estivesse agarrado à rede do balão.
Poucas horas depois do lançamento, o aparelho desapareceu de vista.
O que aconteceu a Hogan? Ninguém sabe ao certo. Mas o capitão Eades, do navio a vapor Hogarth, que chegava a Nova Iorque vindo do Rio de Janeiro nesse mesmo dia, afirmou que por volta das 11h30, ao largo de Egg Harbor, a norte de Cape Henlopen, avistou o que poderiam ser destroços do dirigível de Hogan.
E embora nem o capitão nem a tripulação tenham achado que valia a pena aproximar-se, Eades declarou numa entrevista durante a quarentena de rotina que “não tinha dúvidas de que o objeto que vira na água era o dirigível Campbell”.
E assim terminou, aparentemente, a última aventura de Edward D. Hogan — sem que ninguém tenha a certeza do que lhe aconteceu ao certo.