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Julgamento de Pedro Dias: “Vi o meu irmão sem vida nos olhos”

Miguel Pereira da Silva / Lusa

17 testemunhas deverão ser ouvidas, esta quarta-feira, naquela que é a sexta sessão do julgamento de Pedro Dias, alegado autor dos crimes em Aguiar da Beira, na Guarda, em outubro do ano passado.

Segundo o Observador, a irmã do GNR alegadamente baleado pelo arguido, António Ferreira, foi uma das pessoas ouvida esta quarta-feira. Maria de Fátima Espadilha contou que o irmão era uma pessoa “muito divertida” e que “gostava de viver” mas que, desde a fatídica noite, tudo mudou.

Tornou-se uma “pessoa muito triste”, com “fobia social” e que deixou de poder ajudar a família. “Ele dizia ‘porque é que eu também não fui?'”, conta Maria de Fátima, acrescentando que, depois do que aconteceu, viu o irmão “sem vida nos olhos”.

O GNR, que ao contrário do colega Carlos Caetano conseguiu sobreviver, vive dependente de terceiros e não tem a vida facilitada graças à bala que continua alojada na sua cervical. “Um simples movimento, ele tem receio”, diz a irmã, citada pelo jornal online.

Vários amigos do guarda assassinado também prestaram o seu testemunho, dizendo que Carlos era uma “pessoa alegre”, “sempre pronto a ajudar” e o “braço direito dos pais”, que agora são pessoas “mais tristes” e isoladas.

Hoje, também foram ouvidas pessoas próximas do casal Liliane e Luís Pinto, assassinados quando se dirigiam de madrugada para uma consulta de fertilidade. Um “colega de trabalho excelente”, “que ajudava muito os pais” e uma companheira “muito humilde” e “atenciosa” foram algumas das palavras que se ouviram no Tribunal da Guarda.

Psicóloga e irmãs de Lídia da Conceição ouvidas

Esta terça-feira, a psicóloga que tem acompanhado António Ferreira, Andreia Campos, disse que este se sente frustrado por não ter conseguido salvar o colega. “Na cabeça dele, consegue fazer todo o trajeto daquilo que passou” nessa noite, recordando diariamente esses acontecimentos.

Apesar disso, “está mais vincado o não ter conseguido salvar o colega do que propriamente o que ele passou”, acrescentou.

A psicóloga contou também que, por sua sugestão, o guarda foi uma vez ao posto da GNR de Aguiar da Beira, mas a visita “correu muito mal” porque “ficou super ansioso e até vomitou”. Segundo a profissional, apesar de o GNR gostar do que fazia, não quer retomar a profissão e até o saco que recebeu com a farda nova continua fechado.

Na sua opinião, o militar tem “fobia social”. Quando o visita, em casa, tem a porta fechada à chave e as janelas fechadas. “Diz-me muitas vezes: ‘sou um inútil para a sociedade’“, contou, acrescentando que toma medicação para a depressão e para a ansiedade.

De manhã, tinha sido ouvida Dulce da Conceição, que disse que a sua irmã, Lídia da Conceição, identificou Pedro Dias como o homem que a sequestrou na casa em Moldes. À tarde, foi ouvida outra irmã, Maria de Fátima da Conceição, que, no geral, confirmou a versão contada por Dulce.

O Tribunal da Guarda permitiu que ambas contassem o que Lídia da Conceição lhes disse porque esta se encontra impossibilitada de falar devido a um AVC que sofreu em 29 de novembro.

Durante a tarde foram ainda ouvidas testemunhas que confirmaram que Catherine Azevedo vivia há mais de dois anos com Carlos Caetano.

Pedro Dias está acusado de três crimes de homicídio qualificado sob a forma consumada, três crimes de homicídio qualificado sob a forma tentada, três crimes de sequestro, crimes de roubo de automóveis, de armas da GNR e de quantias em dinheiro, bem como de detenção, uso e porte de armas proibidas.

O arguido, de 44 anos, esteve fugido um mês depois da noite sangrenta em Aguiar da Beira, até se ter entregado às autoridades. Tem aguardado o julgamento em prisão preventiva, na cadeia de alta segurança de Monsanto, em Lisboa.

O julgamento tem sessões marcadas para esta quarta e quinta-feira, mas ainda há duvidas se estas se poderão realizar devido à greve dos serviços prisionais.

ZAP // Lusa

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