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Entre acusações a um Governo “incompetente” que “saiu do armário”, foi aprovado o estado de emergência até 16 de março

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José Sena Goulão / Lusa

A ministra da Saúde, Marta Temido

Esta quinta-feira foi aprovada, na Assembleia da República, a renovação do estado de emergência até 16 de março. O decreto passou com votos a favor do PS, PSD, CDS, PAN e da deputada não inscrita Cristina Rodrigues.

O decreto presidencial foi aprovado com os votos do PS, PSD, CDS, PAN e da deputada não inscrita Cristina Rodrigues. PCP, PEV, Chega, IL e Joacine Katar Moreira votaram contra, enquanto o Bloco de Esquerda se absteve. O novo estado de emergência vai vigorar entre as 00h00 do dia 2 de março e as 23h59 do dia 16 de março.

Eduardo Cabrita, ministro da Administração Interna, abriu o debate do décimo segundo estado de emergência com a apresentação, na Assembleia da República, de um relatório sobre a segunda quinzena de janeiro.

O período corresponde ao estado de emergência mais duro do país, no qual Portugal atingiu 181 mil casos ativos de covid-19, 6.694 internados e “o número de óbitos teve um crescimento dramático”. Ainda assim, destacou que nessa quinzena o país deu início à vacinação nos lares e que nem a pandemia travou a realização das eleições presidenciais.

Em resposta, André Ventura acusou o Governo de ter “saído do armário” quando “assumiu que a população não interiorizou a gravidade da situação”. “Em Portugal, a culpa não é de António Costa nem de Eduardo Cabrita, mas da população”, mas “quando morriam pessoas nos Estados Unidos ou no Brasil a culpa era de Trump e Bolsonaro”.

“Este relatório falta à verdade, não mencionou filas uma única vez. Onde é que está a verdade? Não foi capaz de referir que o Hospital de Santa Maria colocou contentores frigoríficos porque já não tinha espaço para os cadáveres”, acrescentou o deputado do Chega.

Mariana Silva, pelos Verdes, voltou a questionar a utilidade do estado de emergência que “não impediu”, por exemplo, que as escolas tivessem que encerrar a 22 de janeiro. “Este relatório de estado de emergência serve para confirmar críticas e dúvidas que manifestámos em momentos anteriores”, disse a deputada.

Já André Silva pediu uma “liderança firme e capaz”, que “não ceda a pressões“, e “respostas antes de desconfinar”. O PAN defende um plano para desconfinar com base nos vários territórios.

O CDS-PP acusou o Governo de ter esperado demasiado para tomar medidas firmes e o PCP fez pressão para que o Executivo de António Costa comece a concretizar medidas do Orçamento do Estado para 2021.

“Mais equipamentos, mais meios para o SNS. É esse o caminho correto e a prosseguir”, disse a deputada Paula Santos, apontando também o “incumprimento no fornecimento de vacinas” pelas farmacêuticas, que “colocou em causa a concretização do plano de vacinação como tinha sido definido inicialmente”.

Do Bloco de Esquerda, Moisés Ferreira tomou a palavra para dizer que “o Governo está a falhar ao país“: na testagem, na vacinação, na execução do OE, elencou.

PSD arrasa Governo e acusa-o de “incompetência”

Sofia Matos, do PSD, disse que, no que concerne à gestão da pandemia, há uma “irrefutável e sistemática incompetência do Governo“.

O confinamento – que, para a deputada, é um “instrumento que só deve ser usado quando tudo falha”- está a ser aplicado por um Governo “em permanente reação aos acontecimentos”, “incapaz de prever e de se precaver”.

Em relação aos óbitos registados em janeiro, o dedo foi apontado ao Executivo de António Costa. “Souberam poupar na despesa, mas não conseguiram proteger a vida dos que sucumbiram às mãos do Serviço Nacional de Saúde”, disse, citada pelo Observador.

“Este Governo anda sistematicamente a correr atrás do prejuízo. Com os senhores a gerir esta pandemia, o vírus esteve sempre um passo à vossa frente, não conseguiram cumprir o desígnio de não deixar ninguém para trás”, declarou, no Parlamento.

André Coelho Lima recuperou as declarações de quarta-feira de Rui Rio para defender que o PSD já apresentou “a sua própria proposta” para o desconfinamento.

“Um plano seguro. Isto é, indexado aos indicadores sugeridos pelos técnicos. Um plano que cruze os números considerados seguros em termos de novas infeções, internamentos em cuidados intensivos e do R(t) [índice de transmissão], com os números de vacinação e de testagem”, afirmou.

“Parece-nos óbvio e fácil de perceber”, disse, admitindo que o desconfinamento possa acontecer a diferentes ritmos nas várias regiões do país.

“Não há culpados, há uma doença”

Marta Temido recusou a existência de culpados. Há, em vez disso, “uma doença” que levou às medidas de confinamento geral em janeiro, permitindo uma melhoria do número de casos de covid-19. Ainda assim, avisou, “há muito caminho para fazer”.

Não há culpados, há uma doença. Somos todos portugueses”, afirmou a ministra da Saúde sobre o relatório do estado de emergência entre 16 e 30 de janeiro.

Para a governante, a decisão de encerrar as escolas a 22 de janeiro foi custosa, atribuindo à nova estirpe britânica o facto de as medidas “tradicionais” não terem bastado para conter o vírus. “Esta tendência foi invertida e é isso que vale a pena sublinhar”, disse.

Em resposta a Sofia Matos, do PSD, que afirmou que Portugal é o pais da União Europeia que menos testes realiza, Temido disse que “há pessoas que devem estar a ler números errados”, uma vez que “Portugal é o sexto país da UE em número de testes realizados por milhão de habitante”.

“Estamos hoje melhor do que aquilo que estávamos, mas não estamos ainda no sítio onde queríamos estar”, rematou.

“A mentira promove a autocracia”

O socialista Alexandre Quintanilha alertou para “os desafios que têm vindo a fragilizar as nossas democracias”. Para o deputado, “não deveria surpreender ninguém que certas decisões tenham de ser revistas regularmente, é sempre um trabalho inacabado”.

“Em momentos difíceis como o atual, procuramos alicerces que nos ajudem a encontrar um futuro melhor”, e um deles, salientou, é o “conhecimento” que se bate contra “as meras opiniões que proliferam”.

“A investigação é um processo longo e extenso, tal como a confiança e a democracia”, trabalhos que exigem “uma dedicação e uma resposta continuadas”, disse o cientista e professor universitário, defendendo a ação do Governo.

O “eu primeiro não só não ajuda como enfraquece o trabalho de construção de consensos”, sendo que “o maior inimigo não é a incerteza, mas a mentira“. “A mentira é sempre assertiva e categórica, nunca tem dúvidas, porque se baseia na ignorância, é fácil e simplista”, sustentou, sendo aplaudido pelo Bloco de Esquerda.

“Jornalistas que questionam os negacionistas são ameaçados, inclusive de morte, e até em Portugal. Repetir-se muitas vezes a mesma mentira funciona, porque a insegurança e o medo são fáceis de vender. A mentira promove a autocracia“, disse.

Liliana Malainho, ZAP //

13 Comments

  1. Depois de 1 ano e comparar-se com outros países que não confinaram e têm menos problemas, tanto do covid como da economia, é porque a receita deste desgoverno (que mente constantemente e nada lhe acontece) claramente é errada. Insistir na metodologia errada é simplesmente teimosia (com outro objectivo ou por pura incompetência).

  2. Este governo tem andado sempre 2 passos atrás do vírus. As mentiras sucedem-se não pelo povo mas, pelo ministros: António Costa; Eduardo Cabrita e a ministra da saúde. A Temido não sabe do que fala nem sabe falar do que sabe.., é uma incompetente! Quando diz que não há culpados e que só existe a doença, devia ver e ler os jornais internacionais sobre o assunto…, aí, iria considerar-se o que realmente é – uma incompetente!
    De resto todo o governo é culpado e responsável pelo descontrolo que aconteceu.
    Se olharmos para a situação de milhares de portugueses que hoje vivem sem qualquer apoio, na miséria, podemos dizer que a culpa não tanto da doença, mas da incompetência de quem nos (des)governa.

    • Atrás do virus e atrás do povo português que antecipa sempre em uma ou duas semanas as decisões que o governo depois vem a tomar (quase como que obrigado pelo povo). Foi assim desde o início da pandemia. O povo andou sempre à frente e com decisões mais sensatas. Apenas se deixaram enganar no Natal, com as promessas de que tínhamos conquistado o Natal e com os exemplos da classe política. De resto tiveram quase sempre melhor do que o governo.

      • Até parece um politico, líder da oposição, ou uma Televisão na defesa dos Interesses Privados, claro que os Portugueses tenham tido um comportamento infantil, e irresponsável, não é necessário ninguém o dizer, todos conhecemos situações faltosas, jantares, festas, de tudo muito, infelizmente não temos uma comunicação social capaz e independente, lá vai o tempo que se tinha uma televisão que defendia os interesses do Estado, logo dos Portugueses, agora temos uma televisão privada, logo defensora dos interesses dos grupos privados. Não temos uma classe politicamente edeológica, temos uma classe politica de tachos.
        Os Oportunistas em ação como sempre, com o apoio da comunicação social, apertam o cerco (como Sempre) ao governo, e farão tudo por engolir a BAZUCA todinha, e ainda ficaremos a dever, ou o Governo se impõe, se desliga dos senhores de opinião que sabem sempre tudo, e que a comunicação social os ajudará dando tempo de antena, ou os comilões comem tudo e ficaremos todos sem nada, e o País mais pobre ainda, os Portugueses tem de estar atentos, desconfiando sempre da comunicação social, já lá vai o tempo que as Televisões eram do Estado e funcionavam a favor dos Portuguesas, hoje a comunicação é privada e portando funciona em função dos interesses dos grupos de interesses privados.

      • Totalmente em desacordo. Em março do ano passado os portugueses barricaram-se em casa e só passado duas semanas é que o governo deu o braço a torcer. Já este ano veja o episódio das escolas. O povo exigiu e o governo lá teve de ir atrás. O povo tem tido muito mais juízo que o governo.

  3. É de lamentar que os nossos políticos em vez de resolverem os grandes problemas e desafios que temos pela frente estejam a ser pagos por todos nós para fazerem lavagens de roupa suja e telenovelas novelas parlamentares, chamam incompetente aos governantes, lembra-me o ditado “chama-lhes antes que te chamem a ti”, mas o que eu vejo é também 230 deputados pagos por todos nós a competência completa, ideias para um País melhor dos 230 nem uma ideia ainda ouvi nem li.

  4. Os Oportunistas em ação como sempre, com o apoio da comunicação social, apertam o cerco (como Sempre) ao governo, e farão tudo por engolir a BAZUCA todinha, e ainda ficaremos a dever, ou o Governo e o Presidente da Republica se impõe, se desliga dos senhores de opinião que sabem sempre tudo, e que a comunicação social os ajudará dando tempo de antena, ou os comilões comem tudo e ficaremos todos sem nada, e o País mais pobre ainda, os Portugueses tem de estar atentos, desconfiando sempre da comunicação social, já lá vai o tempo que as Televisões eram do Estado e funcionavam a favor dos Portuguesas, hoje a comunicação é privada e portando funciona em função dos interesses dos grupos de interesses privados.

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