Entre o “desencanto” e os receios, há 3 cenários possíveis em caso de eleições antecipadas

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Tiago Petinga / Lusa

Pedro Nuno Santos, Antonio Costa, Augusto Santos Silva: o núcleo duro do Governo no Parlamento

Marcelo Rebelo de Sousa tem o futuro do país nas mãos e deve decidir, nos próximos dias, a dissolução do Parlamento, marcando eleições antecipadas. Uma situação que alimenta a esperança do PSD de voltar ao poder e que preocupa figuras da esquerda. No PS admitem-se “3 cenários” como possíveis.

A direita conseguiu “uma vitória política” com o chumbo ao Orçamento de Estado para 2022 (OE2022), o que é um dado relevante “sendo minoritária no Parlamento”, como admite o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, em entrevista à TVI24.

“Só conseguiu porque os partidos à esquerda do PS votaram com a direita contra o OE”, aponta ainda o governante referindo-se à coligação negativa motivada pelo chumbo de Bloco de Esquerda (BE) e PCP ao documento.

Mas, perante um cenário provável de eleições antecipadas, Santos Silva considera que o futuro pode trazer uma solução “estruturalmente parecida com a actual”. Assim, o ministro admite a “construção” de uma nova geringonça, desta vez entre o PS e o PAN no pós-eleições.

Santos Silva constata, contudo, que as eleições também podem resultar numa maioria de direita, ou, por outro lado, numa maioria do PS.

Independentemente do que aconteça, o ministro considera que PCP e BE vão sair a perder.

O que é que o PCP e o BE ganharam com isto que fizeram hoje? O salário mínimo aumenta mais? Não, nem aumenta. O aumento das pensões é superior ao que o Governo estava a propor? Não, com o OE chumbado nem sequer há aumento extraordinário das pensões”, atira Santos Silva.

“BE e PCP vão sair prejudicados com esta crise”

Para o professor catedrático jubilado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e apoiante do BE, Boaventura de Sousa Santos, é “natural” que os partidos à esquerda do PS sejam punidos pelos eleitores nas urnas, conforme declarações ao Público.

“É evidente que esta crise política foi provocada maioritariamente por eles” enquanto “o PS comportou-se à altura da sua responsabilidade”, aponta Boaventura de Sousa Santos.

Também o comunista Carlos Brito considera que tanto o “BE como o PCP vão sair prejudicados com esta crise em termos eleitorais”, segundo refere ao Público.

É trágico que 10 anos depois voltemos à mesma situação. Partidos de esquerda minoritários unem-se para derrubar um Governo do centro-esquerda e abrir caminho para a direita”, critica ainda o professor catedrático que está preocupado com o “momento de perigo” que o país atravessa.

O “maior temor” de Boaventura Sousa Santos é que “esta crise seja aproveitada pelos partidos da extrema-direita para crescerem e aumentarem a polarização na sociedade portuguesa”, nota ainda ao Público.

“Governo nunca quis negociar”

Já para o ex-deputado do BE Luís Fazenda a grande responsabilidade desta crise política é do Governo e do Presidente da República que deverá decidir-se pela dissolução do Parlamento “apesar de poder ter outros procedimentos”, como salienta ao Público.

“O PS tem de mudar de atitude, não pode protelar durante sete anos a legislação laboral da troika“, critica ainda Fazenda que considera que “António Costa tem a faca e o queijo na mão”.

“Não vale a pena agitar o papão vindo da direita. É preciso é concentrar a vontade do povo de esquerda e manter uma maioria de esquerda“, refere ainda.

Francisco Louçã, ex-dirigente do Bloco, acredita que “o Governo nunca quis negociar com o BE”, pois “entendia que podia submeter o PCP a um pacote de medidas pontuais”, conforme declarações citadas pelo Público.

“O Governo está a atacar os partidos com os quais se devia ter entendido e isso é uma confissão de fracasso“, conclui Louçã.

“Os trabalhares vão ficar prejudicados”

Do lado dos trabalhadores, o secretário-geral da UGT, Carlos Silva, critica o “calculismo partidário” dos políticos e alerta que a dissolução do Parlamento pode “pôr em perigo um conjunto de medidas favoráveis aos trabalhadores”.

“O que aconteceu é um erro tremendo, uma desilusão e um desencanto. Os trabalhares vão ficar prejudicados”, realça Carlos Silva em declarações ao Observador.

O ex-dirigente socialista Manuel Alegre já dizia, mesmo antes do chumbo confirmado ao OE2022, que, com esse cenário, “vão ser os portugueses a sair prejudicados”, conforme declarações ao Público.

Alegre salientava que o chumbo deita por terra algumas das medidas de benefício às famílias, considerando que não vai beneficiar “as classes trabalhadoras e a classe média baixa”.

A perda de “um grande trunfo internacional”

Entretanto, Santos Silva lembra ainda, na entrevista à TVI24, que o cenário de dissolução do Parlamento representará a perda de “um grande trunfo internacional, que era a nossa estabilidade”. “Convém recuperá-lo o mais depressa possível”, realça, apontando à maioria absoluta nas prováveis eleições antecipadas.

Contudo, o ministro quer “sossegar as pessoas”, como o próprio refere, apontando que “podemos estar tranquilos, a nossa taxa de juros está baixíssima e a confiança dos mercados em nós é grande”.

Após o chumbo do OE2022, com os votos contra de PSD, CDS, PCP, Bloco de Esquerda, Iniciativa Liberal e Chega, o Presidente da República vai decidir se dissolve ou não o Parlamento. No caso de dissolução, a chamada “bomba atómica”, terá de convocar eleições antecipadas.

Marcelo Rebelo de Sousa vai ouvir os partidos neste sábado e o Conselho de Estado na próxima quarta-feira, dia 3 de Novembro, antes de tomar uma decisão.

Em caso de eleições antecipadas, devem realizar-se em Janeiro ou Fevereiro de 2022.

O Chefe de Estado já disse que todo este imbróglio tem “uma coisa positiva” que é “devolver a palavra aos portugueses para que eles digam o que pensam da futura Assembleia da República”.

ZAP //

12 Comments

  1. Gostei do artigo, mas não é parcial. Só apresentam o ponto de vista da esquerda. E a opinião da direita. O que acham eles?

  2. O Santos Silva sempre me saíu um espertalhão…
    Então e quando o PS não tinha maioria mas obteve-a com os votos do PCP e BE para ultrapassar o PSD?
    Depois ‘amolaram-se’ para a Gerinconça e ora aí está o que deu!…

    Bem feito!

    • Acha que o PSD teria feito melhor ou escreve só com prazer de dizer mal ou que lhe convém? Sem sabermos o que outros teriam feito de melhor, fica-se em silêncio. Digo eu que é o que faço…

      • Faça como quiser e deixe-me fazer também ok?
        Não sei se o PSD teria feito melhor… mas pior seria difícil…
        Não tenho prazer em dizer mal mas isso não me impede de o fazer quando acho oportuno ou merecido.
        Não sabe o que outros teriam feito de melhor nem imagina…
        Eu imagino. Depois de já ter visto o que o PS fez em muitas ocasiões… (nada).

  3. Finalmente a esquerda abriu os olhos e percebeu que estava sendo comida por parva. Finalmente o chico esperto que se tornou ministro, mesmo perdendo as eleições, vai ser corrido.

  4. Eu penso que se tu estás a governar bem e tens a tua equipa bem oleada, então não mudas. Continuas a jogar como jogas. Se a equipa não joga, então mudas. O Bayern levou 5 do Borussia Mönchengladbach e nós levámos 4 do Bayern, logo nós leváramos 9 do Mönchengladbach. Nas políticas és igual. Se tu não tens maioria e queres governar como se a estivesses, então tu não podes jogar sozinhos. Queres jogar sozinhos, então tu levas goleada.

  5. Pois… os Srs do PCP e do BE deram um belo tiro no pé… O que é que o país ganha com esta birra???
    NADA, perde tempo e dinheiro e quem tiver mais do que 2 neurónios não volta a votar neles! Quer dizer, há sempre os ignorantes e os fanáticos, esses estão garantidos!
    O PSD esfrega as mãos de contente e o PS é a vitima da história, o resultado não vai ser uma maioria absoluta, vão ter de engolir fígados e ficar todos amigos outra vez para subir ao poleiro… Depois admiram-se dos valores da abstenção!
    O Zé povinho é que se lixa SEMPRE!!! Agora nem muito nem pouco.

  6. Para mim este desaguisado entre PS/BE/PCP, vai dar força ao Antonio Costa. Conseguiu sair de uma crise nāo só Portuguesa mas global fazendo alargar o cinto que o Passos apertou ( e de que maneira). Agora com a crise pandemica é o que toda a gente sabe: Custos com trabalhadores e empresas encerradas etc.etc.
    Mas apesar das cedências aos 2 á esquerda no OE2022,
    optaram pela dissolução parlamentar. Agora na eleições antecipadas deviam perder assentos na AR, para não serem mais papistas que o papa.

  7. O PS tem tido votações estáveis, o Bloco de Esquerda e a CDU tem vindo a perder votos constantemente. O PSD tem baixado mas não tem perdido muitos Votantes portanto não vejo muita alteração no PSD agora vejo o Chega e a Iniciativa Liberal a subir devido à desilusão de muitos Portugueses principalmente por causa de alguns Ministros do PS como o Ministro da Administração Interna e da Justiça que nos últimos tempos tem posto os pés pelas mãos. O PS não vai ganhar por maioria absoluta não acredito nisso mas vejo o PSD, Chega e Iniciativa Liberal a fazerem uma Gerigonça de Direita e formarem Governo e se isso acontecer o PS tem alguma culpa pois não sabe negociar mas atribuo a culpa maior ao Bloco de Esquerda e à CDU. Agora é esperar e votar quando nos chamarem às Urnas.

  8. Foi o maior mérito deste governo ter conseguido unir a “esquerda” e a “direita”, feito que nem o PR conseguiu. Assim, somando êxitos, uns atrás dos outros!

  9. Os trabalhadores e o povo, principalmente as camadas mais frágeis, vão ficar prejudicados., diz o texto.
    Na verdade os trabalhadores e povo, não estão prejudicados de há muitos anos a esta parte?
    A classe política quando fala em prejuízo, pretende falar é do seu próprio prejuízo e não do prejuízo dos trabalhadores e do povo. E é por isso que agora temos mais um berbicacho para resolver, atirando-se para cima dos eleitores um enorme chorrilho de medos, dúvidas e prejuízos, com o intuíto de, cada partido, retirar o máximo de dividendos que puder, com ou sem culpas no cartório, quanto ao que se passou agora com o chumbo do Orçamento.
    E aqui chegados, resta dizer que o PS tenta fazer uma jogada de mestre, baralhando e confundindo os eleitores, na miragem de uma maioria confortável nas próximas eleições.
    E não será descabido dizer que o papel a que se prestou o Presidente Marcelo, foi de muito pouca prespicácia, quase “pedindo” para que o orçamento chumbasse. Não é este o papel de um Presidente!
    Por tudo isto me parece que deve ser dada uma oportunidade aos partidos mais ao centro, incluindo os jovens partidos, na esperança de que alguma coisa possa mudar de facto.
    É preciso uma NOVA política.
    São precisos NOVOS políticos com NOVAS IDEIAS.
    São necessários NOVOS políticos com sentido de serviço público, ou nunca mais haverá crescimento económico e melhres condições de vida para todos.
    O medo é inimigo do progresso e da justiça e quem não se sente bem, deve mudar o seu voto e arriscar.

  10. Considero-me um português de centro de e não de esquerda ou de direita, com isso digo que vai haver vezes que irei identificar-me mais com a direita, outras mais com a esquerda.
    Não considero que a política deva ser um culto ou um clube de futebol para a vida.
    Na minha análise a este cenário, acho que foi de uma extrema irresponsabilidade e acima de tudo de uma enorme falta de respeito pelo Portugueses o que o Bloco de Esquerda e o PCB fizeram, especialmente o PCP, quando é um partido que se gaba por defender o Povo e em especial os trabalhadores.
    Com o chumbo do Orçamento e com um cenário de eleições antecipadas, garantidamente se o Governo mudar para a direita ou se o PS mantiver uma maioria, mesmo que apenas com o PAN, vai ser o suficiente para que o novo Orçamento venha para pior, sem os aumentos salariais e da reforma.
    No artigo é mencionado que o maior trunfo de Portugal era a credibilidade de estabilidade para a Europa, pois eu digo que também era pela diversidade política da esquerda, que obrigava ao Governo de PS negociar e chegar a outros entendimentos para que mantivesse o poder.
    Claro que, tal como no Poker, cada um deve jogar com as cartas que tem e algum “Bluff”, mas lembrando sempre que, quando o “Bluff” é demais ou escandaloso, o jogo cai por mesa, o que foi exatamente o que aconteceu com o BE e PCP.
    Se eu acho que o BE e PCP devem ser penalizados pelos Portugueses em possíveis eleições, claro que sim!
    Se eu acho que estavam melhores no Governo e ficarão pior como oposição, claro que sim.
    Contudo, mesmo que o Governo não seja destituído, ou que num cenário de uma nova Geringonça, com os mesmos partidos, em casos de eleições, a coisa não irá funcionar.
    Sempre considerei que durante a vida , qualquer relação, seja um namoro, um casamento, uma parceria, como a Geringonça, deveria ser comparada a uma esfera, que durante todo o tempo poderá estar sujeita aos percalços da vida, podendo levar alguma martelada e começar a amolgar.
    No início, esta esfera irá correr bem, mas irá chegar a um ponto que após tanta martelada, deixa de rodar.
    Não quero influenciar a votação de ninguém, mas considero que tempos negros virão.
    Não considero neste momento que a Direita tenha bons lideres, mesmo os que querem tomar de assalto o poder.
    Pior ainda, se houver necessidade de realizar uma geringonça à direita.
    Por outro lado, esta esquerda já deu o que tinha a dar e merecem que os Portugueses mostrem isso, especialmente ao BE e PCP.
    Um cenário de maioria absoluta nunca deu benefício aos Portugueses, apenas a quem ministra o País e decide à sua maneira.
    Um entendimento ao centro seria bom, mas é algo que não deverá ocorrer quando lamentavelmente há dois partidos que querem monopolizar o seu poder..
    Por fim, quero dizer que esta é a minha reflexão sobre o atual estado do país e que respeito quem tenha outra opinião ou que discorde completamente de tudo o que disse.
    Contudo, julgo que cada Português deveria formar a sua opinião e exprimi-la em caso de ato eleitoral, a abstenção nunca foi nem nunca será uma solução.

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