O maior e mais antigo icebergue do mundo vai entregar brevemente a alma ao criador

NASA

O icebergue A23a é o maior do mundo — por muito pouco tempo

A23a, o monumental icebergue que se desprendeu em 1986 da plataforma de gelo Filchner-Ronne, na Antártida, e que tem andado a vaguear pelos mares do sul do planeta, vai despedaçar-se rapidamente em vários fragmentos muito grandes e deixar de existir.

Foi uma longa e invulgar jornada para o maior icebergue do mundo, conhecido como A23a, mas está a terminar de uma forma relativamente habitual: a fragmentar-se e a derreter nas águas mais quentes do Oceano Atlântico Sul, tal como os icebergues têm feito há milhões de anos.

Como dizia John Cleese no mortal sketch Dead Parrot, dos Monty Python, brevemente este será um ex-icebergue: irá deixar de ser, vai expirar e ir ao encontro do seu criador…

Segundo cientistas do British Antarctic Survey (BAS), que têm acompanhado os seus movimentos, o icebergue, que a certa altura chegou a ter duas vezes o tamanho da ilha da Madeira,  está a “despedaçar-se rapidamente em vários fragmentos muito grandes”,

O A23a tem sido seguido de perto pelos cientistas desde que se separou, ou se desprendeu, da plataforma de gelo Filchner-Ronne, na Antártida, em 1986.

Desde então, tem ostentado por vezes o título de “maior icebergue do mundo” — por vezes ultrapassado por outros icebergues maiores, mas de vida mais curta, recuperando-o quando estes se fragmentaram.

É também o icebergue mais antigo em circulação, tendo conseguido atrasar o seu destino natural ao ficar preso não uma, mas duas vezes, depois de se separar do seu “bergue-mãe” — o que lhe permitiu permanecer em águas mais frias por mais tempo do que a maioria.

Mas agora, com quase 40 anos, a sua viagem parece estar a chegar ao fim.

“O icebergue está a despedaçar-se rapidamente e a perder fragmentos muito grandes, considerados eles próprios grandes icebergues pelo centro nacional de gelo dos EUA, que os monitoriza”, disse Andrew Meijers, oceanógrafo do BAS, à NPR.

“O A23a derivou tão para norte que se encontra num local onde icebergues deste tamanho não conseguem sobreviver”, explica Ted Scambos, investigador sénior da Universidade do Colorado em Boulder, especialista nas regiões polares.

“Isto faz parte do ciclo de vida normal dos icebergues, algo que acontece há milénios, e não parece estar relacionado com as alterações climáticas”, explica Scambos.

É realmente bastante típico e normal. É uma daquelas coisas grandes e espetaculares que o nosso planeta faz como parte do seu funcionamento diário”, acrescenta.

O que não foi normal foi o percurso do A23a até este ponto. Ficou encalhado durante décadas no fundo do Mar de Weddell, após ter ficado preso em águas rasas depois de se desprender nos anos 1980. Só se libertou em 2020, e começou a dirigir-se para o oceano aberto no final de 2023.

Em agosto de 2024, voltou a ficar preso — desta vez a girar lentamente numa espécie de vórtice oceânico conhecido como coluna de Taylor. Ali permaneceu, a girar de forma caprichosa nas imagens de satélite, durante meses, antes de se libertar novamente no final do ano passado, impulsionado pela forte corrente em direção ao norte.

Num último ato dramático, o A23a deu sinal de que poderia atingir a ilha da Geórgia do Sul no início deste ano, ameaçando as colónias de focas e pinguins, mas acabou por encalhar a cerca de 80 quilómetros da costa da ilha em março.

Meijers explica que o A23a está agora em águas a uma temperatura bem acima do ponto de congelação, o que significa que se irá fragmentar rapidamente nas próximas semanas.

“Isto, aliado ao facto de se deslocar cada vez mais para norte e à chegada da primavera austral, faz com que seja provável que se desintegre rapidamente em icebergues demasiado pequenos para continuar a ser monitorizados”, afirma.

Por fim, tornar-se-á demasiado pequeno para ser visto por satélite, marcando o fim de uma era que durou décadas para os cientistas que o acompanharam.

ZAP //

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