O maior icebergue do mundo parou e está a girar num vórtice oceânico

Icebergue A23a

O mega-icebergue A23a está destinado a derreter depois de se ter libertado da Antárctida em 1986, mas esta pausa na sua viagem está a atrasar o seu destino, dizem os especialistas. Este é o icebergue que se recusa a morrer.

O maior icebergue do mundo, que se deslocava da Antártida em direção ao norte desde 2020, parou.

Em vez de continuar a sua trajetória em direção a águas mais quentes, está agora a girar lentamente num vórtice oceânico, de acordo com uma publicação do British Antarctic Survey (BAS) no X/Twitter .

O icebergue encontra-se agora preso num cilindro rotativo de água, a que os cientistas chamam “coluna de Taylor“, perto das Ilhas Órcades do Sul, localizadas a cerca de 375 milhas a nordeste da Península Antárctica.

Todos os dias, o icebergue, denominado A23a, roda cerca de 15 graus. Não se sabe exatamente quanto tempo durará esta pausa na viagem do icebergue para norte, salienta a The Smithsonian.

Basicamente, está ali sentado, a girar, e vai derreter muito lentamente enquanto se mantiver ali”, explica Alex Brearley, oceanógrafo do BAS, ao New York Times. “O que não sabemos é a rapidez com que vai sair desta situação”.

“Pode demorar um ano. Pode ser um par de anos. Pode ficar lá durante muito tempo”, diz por seu turno diz Ted Scambos, glaciologista da Universidade do Colorado em Boulder.

Com um tamanho cinco vezes maior do que a ilha da Madeira, A23a fazia parte da Antártida, tendo-se separado da plataforma de gelo Filchner-Ronne, no lado noroeste do continente, em 1986.

Quando se partiu, levou consigo a estação de investigação soviética Druzhnaya 1. Os soviéticos deslocaram-se ao icebergue para recolher o seu equipamento da base abandonada em fevereiro de 1987.

Durante 34 anos, o icebergue manteve-se imóvel, encalhado no Mar de Weddell, ao largo da costa da Antárctida Ocidental. Em 2020, porém, o A23a começou a mover-se. Em novembro passado, ultrapassou o Mar de Weddell e entrou no Oceano Antártico.

Os cientistas previram que a Corrente Circumpolar Antárctica levaria o A23a num caminho chamado “beco do icebergue” em direção à ilha da Geórgia do Sul, no Oceano Atlântico Sul, a mais de 800 quilómetros a sudoeste da Geórgia do Sul.

O que levou entretanto o icebergue a parar subitamente e começar a girar sobre si próprio?

Quando a topografia do fundo do oceano bloqueia o fluxo de uma corrente, pode criar um cilindro rotativo de água suficientemente grande para prender um icebergue.

“É muito fácil criar estas colunas de Taylor numa experiência com um tanque rotativo no laboratório. Mas ver isto numa escala geofísica como esta é realmente raro“, diz Till Wagner, que estuda o gelo oceânico na Universidade de Wisconsin-Madison, à NPR.

Em janeiro, o BAS divulgou uma animação que mostrava o A23a a deslocar-se para norte, saindo do Mar de Weddell, numa rota semelhante à do grande icebergue A68a, que também passou meses a girar. A NASA captou também em fevereiro imagens do A23a no Oceano Austral.

À medida que os icebergues que seguem a mesma rota que o A23a viajam para leste, para águas mais quentes, começam a derreter. Segundo os cientistas, ao ficar preso, o A23a atrasou a sua fusão.

“Normalmente, pensa-se nos icebergues como sendo coisas transitórias; fragmentam-se e derretem. Mas não é o caso deste”, diz o especialista polar Mark Brandon, da Open University, em Inglaterra. “O A23a é o icebergue que se recusa a morrer“.

ZAP //

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