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Albert Einstein, Prémio Nobel da Física em 1921
O famoso cientista foi convidado em 1952 para suceder a Chaim Weizmann e ser o segundo presidente do Estado judaico, mas recusou a oferta.
Em 1949, com o Estado de Israel recém-criado, Chaim Weizmann foi escolhido presidente do novo país, pela sua dedicação à causa sionista.
Este é um cargo mais simbólico e cerimonial do que executivo, porque Israel é uma república parlamentar, com o primeiro-ministro como chefe de governo.
Em 1952, aos 77 anos, Weizmann morreu. Israel precisava de um novo presidente.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita avançou então com nomes de judeus célebres que poderiam ocupar a cadeira e estimular a imigração para o jovem país.
Assim, o governo do primeiro-ministro David Ben-Gurion decidiu convidar, mais uma vez, um cientista para o cargo — e olhou logo para o mais famoso deles: o físico alemão Albert Einstein.
O embaixador de Israel nos Estados Unidos, Abba Eban, escreveu então uma carta em nome de Ben-Gurion ao famoso físico, que vivia nos EUA desde 1933, ano em que Adolf Hitler subiu ao poder e deu início à perseguição de judeus na Alemanha.
“Israel é um pequeno Estado em dimensões físicas”, dizia a carta. “Mas pode atingir a grandeza à medida que exemplifica as mais elevadas tradições espirituais e intelectuais que o povo judeu estabeleceu através dos seus melhores corações e mentes, tanto na Antiguidade quanto nos tempos modernos.”
O embaixador ainda reforçou que Einstein não precisaria de abdicar da sua carreira científica. Mas deveria trocar New Jersey, onde vivia e trabalhava no Instituto de Estudos Avançados de Princeton, por Israel.
Einstein, então com 73 anos, não ficou convencido. Respondeu com cortesia e mostrou-se feliz pelo convite, mas não quis embarcar na aventura.
O cientista argumentou que não tinha as aptidões requeridas para o cargo, segundo Ze’ev Rosenkranz, curador do Arquivo Einstein, da Universidade Hebraica de Jerusalém, no livro The Einstein Scrapbook, que contém correspondência e fotografias pessoais do físico.
“Estou profundamente comovido com a oferta do nosso Estado de Israel e, ao mesmo tempo, triste e envergonhado por não poder aceitá-la“, respondeu Einstein.
“Durante toda a minha vida, lidei com assuntos objetivos, portanto, careço tanto da aptidão natural quanto da experiência para lidar adequadamente com as pessoas e exercer funções oficiais”, explicou.
“Só por essas razões, eu seria inadequado para cumprir os deveres desse alto cargo. Estou ainda mais angustiado com estas circunstâncias porque o meu relacionamento com o povo judeu é o meu vínculo humano mais forte, desde que tomei plena consciência da nossa situação precária entre as nações do mundo”.
Segundo Alice Calaprice, autora de diversos livros sobre o cientista, o primeiro-ministro Ben-Gurion ficou aliviado com a recusa.
“Ele temia a franqueza de Einstein diante de políticas que poderiam ir contra a sua consciência”, escreveu em An Einstein Encyclopedia.
O primeiro-ministro desabafou ao seu chefe de gabinete, Yitzak Navon, que viria a ser presidente de Israel de 1978 a 1983: “Diga-me o que fazer se ele disser ‘sim’. Eu tive que lhe oferecer o cargo porque seria impossível não oferecer. Mas, se ele aceitar, teremos problemas“.
Assim, Einstein não aceitou ser presidente de Israel — cargo que viria na altura a ser ocupado por Yitzhak Ben-Zvi.
ZAP // BBC