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Portugal é dos países mais brandos com multas de velocidade. Faz falta “mão pesada”?

SXC

Um novo estudo revelou grandes disparidades nas coimas por excesso de velocidade na Europa. Portugal está entre os países com as multas mais baixas. Na Escandinávia as multas são elevadas e a taxa de acidentes é menor.

O excesso de velocidade continua a ser uma das principais causas de acidentes rodoviários. Quanto mais rápido se conduz, menos tempo há para reagir e mais difícil é controlar o veículo em situações extremas.

Diversos estudos mostram que, em áreas urbanas, aumentar a velocidade em apenas 1 km/h pode elevar a probabilidade de acidente em até 4%.

A carVertical, empresa especializada em dados automóveis, fez um estudo em 23 países, incluindo Portugal, com o objetivo de analisar as multas por excesso de velocidade e o número de veículos sinistrados em cada país.

O estudo procurou esclarecer se multas mais elevadas exercem, de facto, um efeito dissuasor sobre a condução em excesso de velocidade, considerando o peso financeiro que representam para os condutores.

Multas mais elevadas = menos acidentes?

O estudo concluiu que Portugal é um dos países europeus que aplica multas por excesso de velocidade relativamente baixas.

Segundo o estudo, em Portugal, ultrapassar o limite em até 20 km/h dentro de uma localidade acarreta penalização equivale a cerca de 5,3% do rendimento mensal do condutor. Não é muito quando comparado, por exemplo, com os países nórdicos.

“Na Europa, as coimas por exceder o limite de velocidade em até 15 km/h variam entre 10€ e mais de 200€. É verdade que os países com multas mais altas tendem a ter menos veículos com registos de danos, mas a cultura de condução também pesa – a tolerância dos condutores face às infrações varia bastante de país para país”, explica Matas Buzelis, especialista do mercado automóvel na carVertical, num comunicado enviado pela empresa ao ZAP.

Escandinávia: um caso à parte

Os países escandinavos – Suécia, Dinamarca e Finlândia – aplicam multas relativamente elevadas em comparação com os rendimentos médios e registam menores taxas de veículos danificados.

Na Dinamarca, por exemplo, exceder o limite de velocidade até 15 km/h implica uma coima de 3000 DKK (cerca de 402 EUR) – aproximadamente 10% do salário médio mensal.

Na Finlândia, as infrações leves de velocidade são penalizadas com coimas fixas, mas os casos mais graves – como exceder o limite em mais de 20 a 25 km/h – implicam multas proporcionais ao rendimento do condutor.

Este sistema, conhecido como “multa diária”, faz com que os infratores mais abastados paguem quantias elevadas pela mesma infração.

Há alguns anos, houve um caso mediático em que um milionário finlandês foi multado em 121.000 euros por conduzir a 30 km/h acima do limite permitido.

E, Helsínquia, capital da Finlândia, passou um ano inteiro sem uma única morte no trânsito. Foi uma opção.

Em contraste, muitos países da Europa Central e de Leste aplicam coimas relativamente baixas por excesso de velocidade, associadas a taxas mais elevadas de acidentes.

Na Polónia, por exemplo, a multa por exceder o limite em até 15 km/h é de 100 PLN (cerca de 24 €), na Letónia é de 40 € e na Eslováquia de 39 €. Estas penalizações correspondem a apenas 1,6% a 3,3% do salário médio mensal nestes países.

Contudo, mais de metade dos veículos inspecionados em cada um destes países registava histórico de danos, com a Polónia a liderar a lista – com 62,1% dos carros tinham registos de sinistros.

Faz falta “mão pesada” ou outra mentalidade?

Apesar da relação multas baixas – mais acidentes, Buzelis alerta que a  multas não explicam tudo. A mentalidade também conta: “Multas mais baixas não significam, por si só, mais infrações ou acidentes”.

“Países como o Reino Unido, Alemanha e Espanha, que aplicam coimas moderadas, também apresentam índices reduzidos de veículos danificados. Isto reflete um grau significativo de consciencialização dos condutores – quando estes percebem as consequências do excesso de velocidade, adotam comportamentos mais responsáveis”, acrescenta.

Segundo Matas Buzelis, os condutores que excedem os limites de velocidade devem estar conscientes de que não só arriscam multas avultadas, como também podem provocar acidentes com consequências graves.

O especialista apela à responsabilidade, lembrando que ninguém deve pôr em risco a sua vida ou a dos outros desnecessariamente.

ZAP //

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