“Fracasso abjeto” em Genebra: desilusão após negociações do tratado (que seria) histórico sobre plásticos

A ideia seria um Tratado Global sobre os Plásticos, mas 12 dias de reuniões não chegaram. Diversos representantes profundamente desiludidos.

Foram 12 dias de reuniões na sede da Organização das Nações Unidas (ONU). A ideia seria assinar um documento histórico na proteção do planeta, um Tratado Global sobre os Plásticos.

Mas essas reuniões terminaram sem acordo, na madrugada deste sábado, em Genebra.

O impasse central era sobre se o tratado deveria reduzir o crescimento exponencial da produção de plásticos, e estabelecer controlos globais e juridicamente vinculativos sobre os produtos químicos tóxicos utilizados no fabrico de plásticos.

O objetivo da última versão do documento era reduzir os produtos de plástico que tivessem “um ou mais produtos químicos que constituíssem uma preocupação para a saúde humana ou para o ambiente”, além de reduzir os produtos de plástico de utilização única ou de vida curta.

Mas repetiu-se o desfecho de 2024: as reuniões na Coreia do Sul terminaram sem um consenso.

Representantes da Noruega, Austrália, Tuvalu e outros países já disseram que saem da Suíça profundamente desiludidos.

E David Azoulay, chefe da delegação do Centro para o Direito Internacional do Ambiente, atirou em comunicado que estas negociações foram um “fracasso abjeto”.

“Nos últimos dias das negociações, vimos claramente o que muitos de nós já sabíamos há algum tempo, que alguns países não vieram aqui para finalizar um texto, vieram aqui para fazer o oposto: bloquear qualquer tentativa de avançar com um tratado viável”, cita o Euronews.

“É impossível encontrar uma base comum entre aqueles que estão interessados em proteger o status quo e a maioria que procura um tratado funcional que possa ser reforçado ao longo do tempo”, acrescentou o responsável.

A União Europeia vai continuar a insistir num acordo mais forte e vinculativo.

As negociações para o tratado começaram em 2022, envolvendo 175 países, mas os avanços têm sido mínimos.

Zero lamenta

A associação ambientalista Zero lamentou neste sábado o fracasso destas negociações e responsabilizou “os interesses instalados ligados aos fósseis” pelo impasse.

“A Zero não pode deixar de assinalar a sua deceção com a incapacidade de encontrar um entendimento alargado sobre a necessidade de reduzir os impactos negativos da poluição por plástico, mesmo perante tantas evidências científicas que apontam para a urgência de agir”, afirmou a organização em comunicado.

Apesar de reconhecer que era “muito improvável” chegar a um entendimento nesta ronda, a associação sublinha que “este fracasso não deve ser visto como o fim do caminho”. Para a Zero, “agora é hora dos países mais ambiciosos, e que lutaram até ao último minuto por um Tratado eficaz para reduzir a poluição por plástico, juntarem forças e avançarem por si”.

A organização considera que não seria aceitável ceder à aprovação de um texto sem medidas concretas e acusa a indústria fóssil de condicionar o processo. “Mais importante do que estarem todos, é não parar o processo e não ceder à aprovação de um texto que, não trazendo nada de novo, iria servir de cortina de fumo para garantir que a indústria fóssil conseguiria manter-se no seu negócio”, advertiu.

Segundo a Zero, “têm sido usados os mesmos argumentos há mais de dois anos, sem que se vislumbre qualquer convergência”.

ZAP // Lusa

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