Um membro proeminente do principal órgão consultivo político da China defende menos regulamentação e mais respeito pela escolha do consumidor — uma forma de estancar a quebra do consumo e anular o efeito dominó que causou a crise da banca e do imobiliário.
Um alto responsável político da China apelou ao alívio das restrições ao setor imobiliário e a outros mercados, com o objetivo de impulsionar os gastos entre a população mais rica, numa altura em que Pequim intensifica os esforços para estimular o consumo face a pressões deflacionistas.
“Deixem os ricos gastar. Esta é a abordagem mais direta”, afirmou Yin Yanlin, que foi entre 2018 e 2023 vice-diretor do Gabinete da Comissão Central para os Assuntos Financeiros e Económicos, órgão do Partido Comunista da China responsável pela supervisão da política económica.
Segundo Yin, atualmente conselheiro económico sénior na Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, o consumo por parte dos grupos mais abastados pode impulsionar a procura no mercado e gerar crescimento do rendimento, criando um ciclo positivo.
Um dos instrumentos mais importantes para estimular o consumo é a eliminação de restrições, como as que limitam a compra de imóveis e veículos.
A economia da China, que nos últimos anos deixou de crescer, — em grande parte devido à crise nos setores da banca e do imobiliário, e ao efeito dominó do colapso da gigante do imobiliário Evergrande, encontrava-se no início deste ano ainda a duas velocidades, mas a dar alguns sinais de recuperação.
O setor imobiliário impulsionou o boom económico da China nas últimas décadas, mas as construtoras contraíram empréstimos avultados à medida que transformavam as cidades do país.
A situação contribuiu para aumentar a dívida total das empresas, do Estado e das famílias para o equivalente a mais de 300% da produção económica anual, um valor invulgarmente elevado para um país de rendimento médio.
Segundo o South China Morning Post, várias grandes cidades chinesas têm vindo a relaxar, nos últimos anos, as restrições à compra de habitação, numa tentativa de apoiar o debilitado mercado imobiliário. Até a capital, Pequim — tradicionalmente cautelosa — flexibilizou na semana passada os controlos nas suas zonas periféricas.
Yin sublinha que certas restrições têm limitado a diversificação do consumo e enfraquecido a procura interna. Os níveis de rendimento não são o principal obstáculo, frisou, lembrando que a taxa de poupança do país tem vindo a aumentar.
Nos primeiros sete meses de 2025, as poupanças na China cresceram mais de 18,4 biliões de yuans, incluindo quase 9,7 biliões de yuans (1,15 mil milhões de euros) provenientes das famílias, segundo dados do banco central.
Contudo, segundo um relatório do Morgan Stanley divulgado na quarta-feira, que cita dados do Banco Central chinês, em julho, os novos empréstimos bancários registaram uma contração de 50 mil milhões de yuans (quase 6 mil milhões de euros) — a primeira queda mensal em 20 anos.
A descida reflete a persistente cautela de famílias e empresas, numa altura em que a prolongada crise do setor imobiliário não dá sinais de recuperação.
“Os decisores políticos devem respeitar o direito dos consumidores a tomarem as suas próprias decisões e ultrapassar a prática enraizada da intervenção administrativa”, sustenta Yin, que apela à eliminação dos controlos sobre compras, empréstimos e preços que sufocam a procura. O responsável pediu, em particular, menos intervenção direta no mercado imobiliário.
Lu Feng, professor de Economia na Universidade de Pequim, salienta que o aumento do consumo é fundamental para que o país se afirme não apenas como potência industrial, mas também como potência de consumo.
Em 2024, o consumo das famílias na China representou 46,8% do PIB — cerca de 15 pontos percentuais abaixo da média mundial. Este baixo rácio limita a procura interna e compromete a sustentabilidade do crescimento económico, disse em março Liu Shangxi, antigo presidente da Academia Chinesa de Ciências Fiscais.