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Invenção engenhosa pode significar o fim do óleo de palma

Clean Food Group

Ao alterar a temperatura, a acidez e os açúcares, as leveduras podem produzir diferentes tipos de gorduras. O óleo da direita é mais saturado, semi-sólido e está concebido para substituir o óleo de palma, enquanto o óleo da esquerda é líquido e menos saturado.

Usando produtos derivados de pequenas cervejeiras suburbanas, uma nova alternativa ao óleo de palma pode proteger as florestas e reduzir os gases com efeito de estufa.

Uma equipa de investigadores desenvolveu uma alternativa ecológica ao óleo de palma, que poderá chegar ao mercado até ao final de 2025.

O óleo de palma – tal como outros óleos tropicais, como o óleo de coco, a manteiga de cacau e o óleo de soja – é conhecido pelo seu impacto ambiental negativo.

Estes óleos competem com as florestas tropicais pelo uso do solo, contribuindo assim para a desflorestação, a perda de biodiversidade, a emissão de gases com efeito de estufa e a poluição do ar e da água, especialmente no Sudeste Asiático, na América do Sul e em África.

Apesar disso, utilizamos muito óleo de palma na alimentação e nos cosméticos. Estima-se que cerca de metade de todos os produtos embalados que encontramos nas prateleiras dos supermercados contenham óleo de palma, identificado sob dezenas de nomes diferentes nos rótulos, desde a glicerina ao ácido esteárico.

Por isso, há mais de uma década que cientistas da Universidade de Bath – liderados pelo professor e engenheiro químico Chris Chuck – procuram uma alternativa.

Aparentemente, encontraram uma possível solução, diz a BBC Science Focus: uma levedura chamada Metschnikowia pulcherrima.

Ela cresce nas uvas”, explica Chuck. “Já é usada na indústria de vinhos biológicos. Aqueles aromas de groselha-preta que se encontram nos vinhos tintos – sobretudo da África do Sul, onde são muito apreciados – devem-se à Metschnikowia.”

Esta levedura contém naturalmente cerca de 20% de gordura, mas a equipa de Chuck recorreu a um processo chamado “evolução dirigida” – semelhante à seleção artificial, mas usando também pressões ambientais – para aumentar essa percentagem.

“Agora, cerca de metade dela é gordura pura”, afirmou Chuck, co-fundador da startup biotecnológica especializada em óleos sustentáveis Clean Food. “Sem querer envergonhar a coitada da levedura, mas ela está muito gorda. E também conseguimos que crescesse muito mais depressa”.

Produzir este óleo não exige muito espaço nem equipamentos complexos – basta um grande tanque. A levedura é alimentada com desperdício alimentar, como o de padarias ou fábricas de batatas – previamente decomposto para criar açúcares.

Quando atinge a maior densidade possível, as células da levedura rompem-se, libertando o óleo, que depois é refinado da mesma forma que outros óleos alimentares.

A parte não oleosa da levedura pode ser transformada noutros ingredientes alimentares, como emulsificantes naturais e beta-glucano – uma fibra benéfica para o coração, presente na aveia.

Alterando o ambiente de crescimento da levedura, os cientistas conseguem modificar o seu sabor, textura e perfil nutricional, tornando-a mais ou menos saturada, de forma a replicar diferentes tipos de gordura.

“Se fizermos isto corretamente, podemos evitar que as florestas tropicais sejam devastadas”, diz Chuck. “Atualmente, para cultivar óleos comestíveis usamos uma área equivalente à da Argentina  – um dos cinco maiores países do mundo”.

E a procura está a aumentar. Em 2021, a indústria do óleo de palma foi avaliada em 50,6 mil milhões de dólares (37,3 mil milhões de libras) e prevê-se que atinja 65,5 mil milhões de dólares (48,3 mil milhões de libras) até 2027.

Precisamos de deixar alguma floresta para ser o pulmão do planeta”, alertou Chuck. “Não podemos derrubar tudo”.

Ao mesmo tempo, substituir parte dos óleos tropicais por óleos à base de levedura poderá ajudar a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa.

Estas plantas tropicais produzem mais CO2 do que óleo”, afirmou Chuck, acrescentando que o óleo produzido por leveduras emite menos 95% de dióxido de carbono e pode ser cultivado praticamente em qualquer lugar.

“O que estas tecnologias de fermentação de precisão permitem é instalá-las localmente”, explica. “Podíamos colocá-las num bairro suburbano de qualquer cidade, recolher resíduos das fábricas da cidade, produzir o óleo e devolvê-lo ao mercado local”.

Este óleo de levedura está quase a chegar. Chuck adianta que poderá começar a aparecer em cosméticos até ao final de 2025 ou início de 2026 — e, pouco depois, começar a ser usado na alimentação.

ZAP //

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