A Tesla ajudou a Noruega a tornar-se o líder mundial na adoção de veículos elétricos. Os noruegueses estão a retribuir: enquanto por toda a Europa as vendas da empresa de Elon Musk continuam a cair, no país nórdico a marca mantém a liderança — e até está a vender mais.
Nos últimos meses, a viragem de Elon Musk, que assumiu publicamente posições de extrema-direita e se intrometeu na política interna de vários países europeus, provocou reações negativas em muitos europeus — e até atos de vandalismo contra carros e concessionários da Tesla.
Antigos clientes fiéis, sobretudo na Europa, decidiram mesmo abandonar a marca — colocando o seu Tesla à venda, ou desistindo de comprar um novo.
Na Noruega, porém, a ‘Vergonha Tesla’ parece ter passado rapidamente — e as vendas da construtora norte-americana de veículos elétricos estão a disparar.
“Para ser franco, dizer que tenho um Tesla é uma faca de dois gumes“, diz à Reuters o norueguês Espen Lysholm, que em maio comprou um Model Y — o seu terceiro Tesla novo em menos de uma década.
“No início deste ano, toda a gente falava da Vergonha Tesla. Chegámos a alertar para isso e dissemos que era preciso esperar pelos números de vendas do primeiro trimestre para perceber se existia ou não vergonha Tesla na Noruega”, diz Oyvind Solberg Thorsen, dirigente da Federação Automóvel Norueguesa.
“E tínhamos razão. Não existe vergonha Tesla na Noruega — pelo menos não da forma como a vemos noutros países”, nota Thorsen.
No primeiro semestre deste ano, enquanto as vendas da Tesla caíram para metade na Alemanha, Suécia, Dinamarca e Holanda, cresceram 24% na Noruega em relação ao ano anterior — o que torna o país, com 5,5 milhões de habitantes, o segundo maior mercado europeu da empresa.
Embora pequeno, o mercado norueguês tem uma importância simbólica para a marca. A Noruega foi o primeiro país fora da América do Norte a receber o modelo de topo da Tesla, o Model S, em 2013. Por outro lado, a empresa de Musk contribuiu para tornar o país no líder mundial na adoção de veículos elétricos.
“De muitas formas, pode dizer-se que a Noruega ajudou a construir a Tesla“, diz Thorsen.
As vendas da Tesla caíram em toda a Europa depois de Musk ter discursado num comício do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) em janeiro, dizendo à multidão que era hora de a Alemanha “seguir em frente” quanto ao seu passado nazi, o que desencadeou apelos ao boicote à marca de VE.
Em novembro, após o colapso da coligação de centro-esquerda de Olaf Scholz, Elon Musk chamou tolo ao chanceler alemão e apelou ao voto na AfD. Em janeiro, apelou ao Rei Carlos III para que dissolvesse o parlamento britânico e criticou o primeiro-ministro Keir Starmer — que acusou de “proteger gangs de violadores”.
Só em França, as vendas da Tesla diminuíram 67% em maio em comparação com o mesmo mês de 2024, segundo dados do registo PFA do país. De acordo com dados da ACAP, em Portugal as vendas da Tesla caíram 36% nos primeiros cinco meses do ano e 68% em maio.
O impacto não se limita a boicotes; nos últimos meses, em vários países da Europa, grupos de vândalos atacaram concessionários da empresa, e alguns proprietários de veículos Tesla encontraram os seus carros danificados.
O domínio da Tesla pode estar a ser posto à prova em toda a Europa — mas, por agora, a marca continua a resistir com sucesso às crescentes ameaças à sua liderança na Noruega.