Keir Starmer protegeu mesmo os “gangues de violadores”?

Neil Hall / EPA

Keir Starmer, primeiro-ministro do Reino Unido

Keir Starmer está a ser acusado de ter protegido os “gangues de violadores”, que têm vindo a perpetuar crimes contra meninas, desde o século passado. O primeiro-ministro britânico acusa os extremistas de não estarem interessados nas vítimas.

Arrasta-se, há anos, o escândalo dos “gangues de violadores” ou “aliciamento”, no Reino Unido, onde milhares de meninas foram abusadas.

As investigações identificaram grande parte dos agressores como muçulmanos britânicos de origem paquistanesa.

Agora, esses factos estão a ser usados contra o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer – acusado de encobrir os violadores.

O debate em torno dos gangues de aliciamento foi reacendido na semana passada, depois de ter sido noticiado, pela GB News, a 1 de janeiro, que o Governo rejeitou o pedido do Conselho de Oldham para um inquérito liderado pelo governo sobre a exploração sexual de crianças na cidade, em detrimento de uma investigação liderada pelo poder local.

Elon Musk fez o “favor” de incendiar o debate, depois de ter denunciado, através de um tweet,  alegadas responsabilidades de Starmer, na proteção dos violadores.

“No Reino Unido, os crimes graves como a violação, necessitam do serviço do procurador (CPS) para a polícia poder acusar os suspeitos. Quem liderava o CPS quando os gangs de violadores puderam explorar jovens raparigas sem enfrentar a Justiça? Keir Starmer (2008-2013)” escreveu Musk, na rede social X.

O Partido Trabalhista tem, desde então, sido acusado de proteger os agressores para evitar tensões raciais e para conquistar votos. Pelo contrário, Elon Musk tem apoiado a agenda anti-imigração e anti-islamita.

O escândalo dos “gangs de violadores” está a servir de arma de arremesso contra o trabalhista Keir Starmer; e a extrema-direita britânica tem aproveitado para fazer várias acusações e levantar questões.

Como escreve a RTP, os Serviços Sociais e a Polícia das várias localidades afetadas têm sido acusados de minimizar o escândalo e de proteger os violadores em detrimento das vítimas, para evitar exacerbar tensões raciais, especialmente “contra as comunidades muçulmanas em geral e paquistanesas em particular”.

De acordo com o mesmo canal, são apontados vários casos em que pais e mães procuraram intervir para resgatar as filhas, tendo acabado por serem eles próprios pressionados ao silêncio por parte da polícia, com ameaça de prisão.

E até as vítimas foram duplamente vítimas, uma vez que muitas delas terão sido detidas por prostituição e desacatos sem que nada acontecesse aos abusadores.

“Num dos casos mais chocantes, uma menina de 12 anos foi encontrada embriagada e meio despida num quarto com sete homens adultos britânicos paquistaneses. Foi detida e acusada de ‘prostituição e conduta desordeira’. Nenhum dos homens presentes no quarto com ela foi questionado na altura”, conta a RTP.

As investigações levadas a cabo, até à data, num escândalo que se arrasta desde o século passado, apontam mesmo que alguns casos não foram investigados devido ao “nervosismo devido à raça”.

Extremistas não querem saber das vítimas

Em estilo de resposta, esta segunda-feira, Starmer atacou os políticos e ativistas que espalham mentiras e desinformação sobre os gangues de aliciamento.

Citado pela BBC, o primeiro-ministro britânico acusou os deputados da oposição de “saltarem para um comboio” e “amplificarem o que a extrema-direita está a dizer” para ganharem atenção.

Keir afirmou que os trabalhistas estão a abordar a questão do abuso sexual de crianças após a inação dos conservadores “durante 14 longos anos”.

“Aqueles que estão a espalhar mentiras e desinformação tão longe quanto possível não estão interessados nas vítimas, estão interessados em si próprios”, acusou.

“Quando deixei o cargo [de CPS], tínhamos o maior número de casos de abuso sexual de crianças a serem processados de que há registo”, afirmou Keir, recusando que tenha protegido os agressores.