/

Não é com água, é com terra: como travar um reacendimento, a origem de tantos incêndios

José Coelho / LUSA

Novo plano de combate aos incêndios é “areia para os nossos olhos”. Está tudo na lei de base, elaborada há quase 30 anos.

Luís Montenegro anunciou nesta quinta-feira um plano de intervenção para as florestas 2025-2050. Um plano a 25 anos, que vai ser debatido na Assembleia da República. O objectivo, explicou o primeiro-ministro, é “consensualizar um verdadeiro pacto para a gestão florestal e protecção do território”.

Mas qualquer novo plano de combate a incêndios é “atirar areia para os nossos olhos”. As críticas são de Manuel Carvalho, jornalista que acompanha o assunto há mais de 30 anos.

O especialista lembrou que desde 1996 que Portugal tem uma lei de bases da política florestal: “Está lá tudo. Não são precisos mais planos. O que é preciso é executar o que temos”.

Então porque não se executa? “Porque os planos são desenhados em Lisboa. E o nosso modelo está completamente incapaz de envolver os agentes no terreno. É impossível um Estado central gerir 3,2 milhões de hectares de floresta, com 400 mil proprietários e 308 municípios”, respondeu.

O também comentador na RTP avisou que o cenário de destruição deste Verão pode repetir-se ainda neste ano, ou no próximo. É uma discussão que “tem 10 anos”, embora admita que conhecimento da evolução do fogo “evoluiu muitíssimo” em Portugal.

O problema principal, reforça, é a transmissão do conhecimento científico para o terreno. “Há um muro, um fosso enorme”, lamenta.

Em relação ao combate no terreno, e depois de ouvir especialistas, Manuel Carvalho apontou uma falha: “É um erro combater com água um fogo que tem uma determinada produção de energia por metro quadrado. Na maior parte das vezes, tenta-se mitigar com terra, com tractores, combatendo os fogos na cauda“.

Centrando-se nos grandes incêndios deste ano, como Trancoso e Arganil que queimaram uma área equivalente a 40 mil campos de futebol, o especialista recordou que muita dessa área ardeu devido a reacendimentos.

“É impossível combater frentes de fogo que têm chamas de 10 ou 15 metros. Nem com os aviões Canadair. Mas evitar reacendimentos é algo bastante mais fácil. É preciso reflectir, é preciso formação no terreno”, reforçou.

Manuel Carvalho analisou também a postura de Montenegro no discurso em Viseu, após o Conselho de Ministros: “A linguagem, o semblante, o discurso mudaram radicalmente. Um tom mais carregado, mais próximo da realidade. Não podia ser pior do que fez nos primeiros dias, com a festa no Pontal. O primeiro-ministro errou, o Governo errou, os assessores de comunicação erraram”.

ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.