Mário Cruz / Lusa

“Piadas” sobre ciganos, RSI, Movimento Zero, com Chega à mistura. Jorge S., polícia, acusado de sequestro e homicídio qualificado de um jovem marroquino de 26 anos.
Numa viagem à presença de Jorge S. nas redes sociais, o Expresso encontrou uma série de publicações e partilhas de conteúdos racistas, xenófobos, homofóbicos, anti-imigração e com informações falsas.
Entre “piadas” sobre ciganos, sobre “aproveitamento” do RSI por parte de imigrantes ou publicações em que contesta a entrada de “afrodescendentes, ciganos, imigrantes e LGBT” nas “forças de segurança”, o agente da PSP, acusado de sequestro e homicídio qualificado de um imigrante marroquino, partilha vídeos e fotografias de André Ventura, mas também de Rita Matias e dirigentes do Chega, em que os membros do partido criticam a imigração “descontrolada”, denuncia o semanário.
Numa das publicações, Jorge S. denuncia as “Consequências da imigração ilegal”, com uma imagem em que refere — erradamente — que em Portugal se oferece “casa grátis, serviço de saúde grátis, direito a escola, comida, telemóvel e dinheiro” a quem está ilegal.
Mensagens de apoio ao Movimento Zero, grupo que surgiu após a condenação de agentes da PSP por agressões a jovens negros na Amadora, também foram detetadas nas redes sociais do polícia, acusado juntamente com o colega Pedro B.
Aissa Ait Aissa, de 26 anos, morreu em março de 2024, após 19 dias internado nos cuidados intensivos do Hospital de Faro, vítima de múltiplas lesões na cabeça. Inicialmente, a família pensou tratar-se de um atropelamento, mas a autópsia concluiu que as marcas não eram compatíveis com tal hipótese, reforçando a versão de agressão com objeto contundente.
O advogado da família da vítima, Miguel Vicente Bernardo, sustenta que o “sentimento de ódio” do arguido foi o “verdadeiro motor da conduta criminosa”, alegando que a hostilidade contra imigrantes e muçulmanos esteve na origem da violência. Para a família, a motivação não foi apenas circunstancial, mas ideológica.
De acordo com a acusação, após dois episódios de desacatos em supermercados de Olhão, em que o jovem e um amigo estiveram envolvidos, os agentes intervieram mas, mesmo sem queixa formal, decidiram algemá-los e levá-los para um local isolado em Pechão. Foi aí que Aissa terá sido espancado, enquanto permanecia algemado, sendo depois abandonado pelos agentes.
A família da vítima exige ao Estado português uma indemnização de 1,6 milhões de euros: os pais não tinham meios económicos para se deslocar a Portugal e foi o consulado marroquino a assumir os custos da trasladação do corpo, justificam.