A sucralose torna a imunoterapia menos eficaz

A sucralose, substituto comum do açúcar, afeta o microbioma intestinal de formas que reduzem a eficácia deste tratamento contra o cancro. Suplementar a dieta com arginina pode ajudar a minimizar este efeito.

Doentes com certos tipos de cancro que consomem sucralose, substância presente em adoçantes artificiais, respondem pior à imunoterapia do que aqueles que não a consomem.

A conclusão é de um estudo apresentado num artigo recentemente publicado na revista Cancer Discovery.

Contudo, dizem os autores do estudo, suplementar a dieta com o aminoácido arginina poderá atenuar esse efeito.

As conclusões juntam-se a um conjunto crescente de dados científicos que mostram que o microbioma intestinal — a vasta comunidade de microrganismos que habita o nosso sistema digestivo — desempenha um papel crucial na eficácia dos tratamentos contra o cancro, nota o Science News.

Neste caso, a sucralose parece perturbar bactérias benéficas do intestino que ajudam a sustentar a função imunológica, incluindo as células T, um elemento central do nosso sistema imunitário.

“O que há de novo neste estudo é que a sucralose está a promover um microbioma com poucas bactérias benéficas e mais daquelas que não são assim tão úteis”, afirma Magdalena Plebanski, imunologista da RMIT University, em Melbourne, Austrália, que não fez parte do estudo.

“Além disso, o estudo sugere também que a sucralose pode, potencialmente, estar a afetar negativamente as células T de forma direta”, nota a investigadora.

Um estudo pblicado em 2023 já tinha sugerido que a sucralose influencia a imunoterapia, mas o mecanismo subjacente não estava claro.

Para aprofundar a questão, a imunologista Abby Overacre e a sua equipa analisaram o microbioma intestinal de ratinhos alimentados com sucralose em níveis equivalentes aos que os humanos poderiam consumir.

“Os adoçantes artificiais reduziram a diversidade do microbioma intestinal e, juntamente com isso, diminuíram os níveis gerais de arginina”, explica Overacre, investigadora da Universidade de Pittsburgh. “A arginina é muito importante para a função das células imunitárias, especialmente no contexto do cancro.”

Os ratinhos tinham sido geneticamente modificados para desenvolver os mesmos tipos de cancro que os doentes humanos. Aqueles que receberam sucralose apresentaram menor capacidade de resposta à imunoterapia, enquanto os alimentados com açúcar comum responderam normalmente, nota Overacre.

Para perceber como isto se refletia em humanos, os investigadores avaliaram 132 doentes com melanoma avançado ou cancro do pulmão de células não pequenas, em tratamento com terapêutica anti-PD1 — um tipo de imunoterapia que atua sobre uma via utilizada pelas células cancerígenas para escapar ao sistema imunitário.

Segundo os autores do estudo, mesmo pequenas quantidades de sucralose pareceram ter um efeito adverso na resposta à imunoterapia.

“Identificámos um valor limite de aproximadamente 0,07 mg por quilograma de peso corporal que separava os doentes com maus resultados daqueles que não apresentavam essa tendência”, afirma o oncologista médico Diwakar Davar, da Universidade de Pittsburgh, também autor do estudo.

Davar salienta que este valor é muito inferior ao limite diário recomendado pela  U.S. Food and Drug Administration, agência reguladora de saúde dos EUA, para o consumo de sucralose: 5 miligramas por quilograma, o equivalente a cerca de 22 latas de refrigerante para um homem de 70 quilos.

Apesar das quantidades envolvidas, Overacre aconselha os doentes em  imunoterapia a não entrarem em pânico, nem “deitar fora tudo o que têm na cozinha””: a inclusão de um suplemento de arginina ou citrulina, que aumentam os níveis de arginina, é uma medida simples que anula o efeito da sucralose.

O farmacêutico clínico em oncologia Andrew Ruplin é mais cauteloso, e sublinha que os doentes devem discutir as implicações destas conclusões com os seus oncologistas, para tomarem decisões adequadas relativamente à suplementação.

ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.