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Temido desvaloriza polémica da CGTP. E admite celebrações em Fátima

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Nuno Fox / Lusa

A ministra da Saúde, Marta Temido

A ministra da Saúde deu, este sábado, uma entrevista à SIC, na qual abordou vários temas relacionados com o combate à pandemia de covid-19, passando também pela controversa manifestação da CGTP no 1.º de Maio.

Numa entrevista à SIC, Marta Temido começou por abordar as celebrações do 1.º de Maio, esta sexta-feira, nomeadamente a manifestação da CGTP, em Lisboa, que foi criticada por vários partidos da oposição e até por membros da Igreja Católica.

“As comemorações da CGTP estavam em linha com aquilo que foi a excecionalidade prevista no decreto presidencial que se referia ao estado de emergência e que contemplava uma exceção para a celebração do Dia do Trabalhador e que referia que deveriam ser respeitadas regras de distanciamento”, começou por dizer a ministra da Saúde.

“Quem estabeleceu as condições em que a celebração foi efetuada foi a estrutura sindical. Outras estruturas sindicais optaram por outras formas. Foi um número significativo de pessoas, superior àquilo que é um número-regra, mas um número enquadrado dentro daquilo que era a sinalização de uma data”, acrescentou.

“Sei que há quem gostasse que fosse de outra maneira. A forma como foi celebrado o dia foi ordeira e pacífica e não tivemos eventos com distúrbios como aconteceu noutros países europeus”.

A governante foi ainda questionada sobre o facto de a manifestação da CGTP ter contado com manifestantes que viajaram de autocarro para a capital, a partir de outros concelhos, quando os portugueses estão proibidos de o fazer entre os dias 1, 2 e 3.

“As instituições têm sempre uma outra forma de representação social que os indivíduos não têm. Porque é que o Natal é mais importante do que aniversário do que qualquer um de nós individualmente considerado?”, lançou Temido.

Sobre as declarações de Jerónimo de Sousa, de 73 anos, que afirmou na manifestação que “a idade não é um critério absoluto para determinar o risco”, a ministra disse concordar com o líder do PCP.

“As pessoas acima de uma determinada faixa etária têm um risco por si só acrescido. Agora, a opção do nosso Estado foi sempre de sugerir às pessoas que elas tinham um dever especial de se salvaguardarem. Mas não de as impedirem de saírem à rua. Não podemos confinar as pessoas só porque têm mais de 70 anos”.

Ministra admite peregrinação do 13 de maio

Questionada sobre o porquê de não se poderem aplicar estas mesmas regras em Fátima, na tradicional peregrinação do dia 13 de maio, que este ano deverá decorrer sem peregrinos, a ministra esclareceu que “é uma possibilidade”, mas esclareceu não ser a pessoa que “abre a porta” a essa hipótese.

“É possível que se possam aplicar essas regras se isso for uma opção das celebrações. Cada organizador tem de fazer juízo de valor sobre os riscos que vai correr. O estado de emergência, o estado de calamidade, não é uma emergência totalitária, é uma emergência sanitária”, respondeu.

Relativamente aos estádios e jogos de futebol, a ministra nega, por outro lado, que haja essa possibilidade. “O que está em cima da mesa neste momento são os jogos à porta fechada”.

Utilização das máscaras

Na mesma entrevista, a governante comentou o facto de as autoridades de saúde terem, inicialmente, aconselhado os cidadãos a não usar máscaras e, posteriormente, ter mudado essa informação.

“Aquilo que justificou a opção no início é o que está em documentos internacionais que se referem ao tema”, declarou Temido, acrescentando que nada teve a ver com uma eventual falta de material.

“Não foi uma questão de falta de máscaras que determinou essa opção. Foi a questão de não termos ainda uma indicação técnica de entidades que normalmente seguimos a esse propósito”.

Agora, num momento em que a utilização da máscara passa a ser obrigatória em determinados locais, nomeadamente nos transportes públicos, a governante admite que a falta de máscaras em lojas “é uma preocupação”.

“Penso que aí estamos muito apostados em que a nossa indústria nacional responda ao que foi uma alteração da forma como tínhamos esta questão das máscaras enquadrada”, disse a ministra, referindo-se à norma para o uso de “máscara comunitária”.

A ministra da Saúde sublinhou ainda que a certificação das máscaras comunitárias “é fundamental”, mas que “não está completamente fora de hipótese a possibilidade de haver produção, em casa, de artigos para esse efeito”.

A nova normalidade do Serviço Nacional de Saúde

“Contratámos mais 1800 profissionais neste período e agora temos de os manter para que os outros possam garantir respostas àquilo que ficou por fazer. É um exercício muito complicado”, disse.

Temido considera que esta situação foi também “uma enorme oportunidade para o SNS porque descobriu dentro de si uma força que estava adormecida”, para além de ter permitido encontrar “novas formas de trabalhar”, como recurso ao teletrabalho.

Porém, a governante não se compromete com aumentos nesta fase. “Temos de dar cada passo por sua vez e garantir que temos um contexto que permita responder àqueles que pelo desempenho melhor responderam também”.

“Num país coeso nós precisamos de premiar obviamente o trabalho, designadamente o trabalho da Administração Pública, mas não podemos ter um país a duas velocidades“.

Sobre as consultas, cirurgias e exames que acabaram por ser cancelados devido à pandemia, a ministra afirma que está a ser preparada “a separação de circuitos para permitir que as coisas corram bem”.

“Conseguimos reduzir a lista de espera em 2019, mas os primeiros meses de 2020 foram muito penosos”, disse Temido, salientando que “o SNS tem sido inexcedível na forma como tem servido os portugueses”.

Questionada sobre em que ponto está Portugal relativamente ao R0 (o risco de transmissibilidade), a ministra declarou que, neste momento, o R está em 0,92, ou seja, prevê-se que cada doente infetado poderá infetar, em média, uma pessoa ou menos.

“Admitindo que não há risco 0, quanto mais próximos estiver do 0, melhor estaremos. Se estivermos abaixo de 1, estaremos relativamente tranquilos com a capacidade de o sistema responder”, afirmou a ministra, declarando que “não há um número mágico”.

“Com este número de novos casos por dia, temos estado relativamente confortáveis, mas gostávamos de vir mais abaixo. Mas preocupo-me mais com os óbitos e os números de casos internados e nas unidades de cuidados intensivos”, concluiu.

FM, ZAP //

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