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Surpresa geral com a mudança do Infarmed de Lisboa para o Porto

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José Sena Goulão / Lusa

O Ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes

Trabalhadores, deputados, indústria farmacêutica e até a própria Infarmed foram apanhados de surpresa com a decisão do Governo de mudar a sede da Autoridade Nacional do Medicamento de Lisboa para o Porto.

A decisão de deslocalizar a sede do Infarmed de Lisboa para o Porto, a partir de 1 de Janeiro de 2019, foi anunciada pelo ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, esta terça-feira à tarde.

Um anúncio que aconteceu um dia depois de o Porto ter perdido para Amesterdão, na Holanda, a corrida para acolher a Agência Europeia do Medicamento. Mas o governante nega que a deslocalização do Infarmed para a Invicta seja uma espécie de compensação, considerando que é antes “o reconhecimento de um enorme trabalho da região norte”.

Os trabalhadores da Autoridade do Medicamento asseguram que só ficaram a saber da mudança pela comunicação social. E até o Conselho Directivo do Infarmed ficou surpreendido com a notícia, assegura o líder da comissão de trabalhadores da entidade, Rui Spínola, em declarações à RTP. “Nem por brincadeira nos referimos a esta possibilidade. Fomos apanhados mesmo de surpresa“, salienta.

A presidente do Infarmed, Maria do Céu Machado, só terá tido conhecimento da notícia esta terça-feira de manhã, depois de um telefonema de Adalberto Campos Fernandes, segundo avança o Público. Esta responsável diz que o ministro não lhe apresentou quaisquer justificações para a medida.

“Sei que a administração pública está muito centralizada em Lisboa e obviamente que vem no contexto da candidatura da cidade do Porto à EMA. Houve muito trabalho da Câmara do Porto. O ministro viu isto como uma possível descentralização“, considera Maria do Céu Machado, citada pelo mesmo jornal.

“Uma decisão estritamente política”

“Não é uma decisão técnica, não existe qualquer parecer técnico, caso contrário os funcionários do Infarmed teriam tido conhecimento dele. Logo, é uma decisão estritamente política“, considera o líder da comissão de trabalhadores do Infarmed, ao Observador.

Rui Spínola reforça no Público que o Conselho Directivo passou uma mensagem “de tranquilidade” aos trabalhadores, notando que “ninguém seria obrigado a mudar”. Mas há apreensão entre os funcionários da Autoridade Nacional do Medicamento.

O Público repara que “segundo o balanço social do ano passado, 65,8% dos funcionários têm até 44 anos – muitos deles com filhos em idade escolar”.

Vamos pedir a 70% das pessoas que vivam separadas ou que procurem trabalho para o cônjuge?”, pergunta Rui Spínola naquele jornal, ilustrando a preocupação dos trabalhadores.

Rui Moreira diz que “não houve negociações”

Entretanto, também deputados e a própria indústria farmacêutica ficaram surpreendidos com a mudança, escreve o Diário de Notícias. A Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (APIFARMA) só ficou a saber da notícia pelo DN, assegura o jornal.

Satisfeito com a “boa notícia” ficou o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, que assegura que “não houve negociações” com o Governo.

“Este assunto foi-me a mim comunicado esta manhã, a única condição que foi posta pelo Governo, foi naturalmente se o Porto estava interessada e se o Porto estaria em condições de garantir a instalação, no mais breve possível, de uma parte significativa dos serviços do Infarmed”, referiu o autarca esta terça-feira, em declarações divulgadas pela Lusa.

Rui Moreira acrescentou que a decisão “pode ser muito significativa para a economia do Porto, para a economia da região” e para “a indústria” local.

A mudança do Infarmed para o Porto efectiva-se a 1 de Janeiro de 2019, mas a instalação será progressiva, e Lisboa vai manter um “pólo regional”, segundo o ministro da Saúde.

ZAP // Lusa

14 Comments

  1. E nem os trabalhadores avisaram?! Se fosse uma qualquer entidade privada a fazer isto caía o carmo e a trindade. Como é o Estado… tudo se aceita. Acho isto inqualificável e um total desrespeito pelos trabalhadores. Isto é o Estado Opressor do quero posso e mando à boa maneira comunista.

    • O total desrespeito pelos trabalhadores e pelo dinheiro do estado, ou seja, as nossas contribuições! Basta que um ministro, ou um governo, se lembre da noite para o dia de deslocalizar pessoas e instituições e já está. Com os custos para os trabalhadores e para o erário público, sim porque a deslocalização não é barata tanto para a instalação propriamente dita, como para as pessoas. O Rui Moreira arranja tudo o que for necessário porque quem paga somos todos nós, e obviamente vão ser necessárias mais pessoas, porque quem vive em Lisboa e aí tem a sua família não vai querer viver no Porto, ou seja, vamos aumentar a despesa do estado com um duplo Infarmed, um em Lisboa e a nova sede no Porto. A propósito de quê?? Era necessário? Não, nunca o foi! É apenas mais uma bi(u)rrice deste Desgoverno! Sou de esquerda, e não admito que brinquem desta maneira com o país e com as pessoas, até porque daqui a uns anos estes senhores já lá não estão e estas decisões vamos senti-las por muito tempo. Será que a história não ensina as pessoas e não as torna mais inteligentes? A ver pelos nossos politicos e governantes não! A qualidade baixa em cada mudança de governo, sejam eles de que partido forem. Só de pensar nos próximos, até me arrepio.

      • E se estivesse na antiga URSS ou num qualquer país de leste, levava em sua casa com mais três ou quatro famílias, quer quisesse quer não, enquanto as cúpulas do partido viviam à grande e à… russa…

  2. Pois …toda a gente parece surpreendida e ainda não apareceu uma justificação.
    Para além do rebuçado (ao Porto) pela “perda” (por Portugal) da AGÊNCIA EUROPEIA DO MEDICAMENTO, é de recear que este “monstro” venha a ser – afinal – a “bandeira” de uma (prometida) DESCENTRALIZAÇÃO e que esta venha a limitar-se a isto.
    Até já há autoridades que – neste assunto – se referem ao Porto como “Interior do País”, por isso já estamos “governados”

    • Mas quem é que quer vir para uma cidade cujo aeroporto internacional NÃO tem voos directos para a Europa, à parte RyanAir e, talvez (porque não conheço) outras 2 ou 3 low-cost?
      Então acham que funcionários europeus querem gastar 1 dia inteiro para viajar, onde quer que queiram ir?

      Eu vivo fora, e até esta “inteligente” decisão, quando ia a casa demorava meio dia. Apanhava o aviãopara o Porto de manhã, nem por isso muito cedo, e já almoçava em casa.

      Agora, a manhã é só para chegar a Lisboa. Só então é que começa a viagem…

  3. Isto é uma palhaçada totalmente desnecessário Sr.Costa!
    Que vantagens existem nesta mudança de instalações?
    Alem de estragar a vida aos trabalhadores, quanto é que vai custar as compensações que terão que ser pagas pela deslocação?
    Enfim … é os políticos no seu melhor!

  4. A decisão do Porto concorrer à EMA levou o nosso governo a desconsiderar os interesses do País para favorecer apenas os interesses de uma cidade e os caprixos de um governante do norte. Tem sido sempre assim com todos os governos Portugueses, más decisões e umas atrás das outras. Estavam todos bem era a limpar estradas e não a governar.

  5. Convinha reflectir um pouco antes de disparatar. É uma medida positiva para o País? Sem dúvida porque não se justifica nos dias de hoje que tudo esteja concentrado em Lisboa. Causa transtornos aos trabalhadores ? Sem dúvida, mas é perfeitamente ultrapassável. Não pode é ser uma repetição do desgoverno de Santana Lopes que também ensaiou algo parecido com maus resultados. O que faz o Ministério da Agricultura em Lisboa ? É para cuidar das alfaces ? O que faz a direcção geral das florestas em Lisboa ? É lá que trata do pinhal de Leiria ? Tudo isto está mal e deve ser corrigido, acarretando custos naturalmente mas todos esses serviços existem para servir os cidadão e não existem para servir os trabalhadores dos próprios serviços que é o que tem acontecido.
    Saudações

    • Caro asdrubal. O problema que aqui se discute é apenas o facto desta medida ter sido tomada sem qualquer conhecimento ou envolvimento dos trabalhadores. Apenas isso.

      • Caro Avante Camarada

        A notícia é mais abrangente do que apenas os trabalhadores!!!
        O problema dos trabalhadores é verdadeiramente grave para os atengidos por essa medida mas a desertificação do resto irá ser em breve um desiquilibrio difícil de solucionar se não for retificado a pouco e pouco.

        Lisboa tem de deixar de ser Portugal e o resto do país apenas paisagem…

        Portugal tem cerca de 10 milhões de habitantes em Lisboa residem cerca de 3 milhões.

        Vamos comparar:

        Região do Algarve não chega a 500 mil habitantes.

        Região centro 2,3 milhões

        Região norte não chega a 3,7 milhões

        Informação “Pordata”

  6. Porque não mudar para o Porto o Parlamento…
    Ou os ministérios! seria melhor não? ou só os pobres é que tem de ser castigados?

  7. Nunca uma deslocalização de um organismo do estado ou da responsabilidade deste causou tanta perturbação.
    Suspeito que a razão reside no facto de, neste caso, a saída faz-se de Lisboa para outro local. As dezenas de deslocalizações feitas até aqui foram em sentido contrário. Alguns milhares de famílias, até aqui, tiveram de se adaptar, as de Lisboa não foram treinadas para isso já que, para além de anuais idas ao Algarve refrescar os rabos nas salsas ondas e umas pequeno-burguesas incursões a Madrid, Paris ou London, jamais lhes passou pela cabeça conhecer realmente o país. Vivem em Lisboa e têm como certo nas suas cabecitas que tudo o mais, em Portugal, são um conjunto de “reservas” onde indígenas desajeitados sobrevivem.

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