A companhia gestora da central nuclear de Fukushima, no nordeste do Japão, começou esta segunda-feira a retirar combustível nuclear de uma piscina de arrefecimento num dos três reatores, que explodiu no desastre de 2011.
A Tokyo Electric Power (TEPCO) indicou que os trabalhadores começaram a remover a primeira de 566 barras de combustível armazenadas na piscina da unidade 3, um marco no processo de desmantelamento da central que deverá prolongar-se por décadas. A remoção das barras de combustíveis na unidade 3 vai demorar dois anos, seguindo-se um processo idêntico nos dois outros reatores, indicou a gestora.
Na piscina encontram-se submersas 566 barras de combustível usado e não usado, numa mistura de dióxido de urânio e de óxidos de urânio e de plutónio. Apesar do desastre, estas barras estão intactas, mas as piscinas, localizadas no edifício dos reatores, não estão fechadas, por isso a remoção deste material é crucial para evitar acidentes em caso de um novo sismo.
Este primeiro passo antecede o verdadeiro desafio que é a remoção do combustível fundido no interior dos reatores. A TEPCO e as autoridades japonesas continuam a estudar possíveis procedimentos.
A remoção, agora em curso, foi adiada cinco anos devido a contratempos, elevados níveis de radiação e destroços radioativos da explosão, que ocorreu quando o reator entrou em fusão, deixando antever todas as dificuldades relacionadas com estas operações.
Nesta fase, os trabalhadores estão a operar remotamente um guindaste que retira o combustível de uma estrutura de armazenamento na piscina. A operação decorre debaixo de água para evitar qualquer fuga radioativa.
Sete barras vão ser colocadas, uma a uma, num contentor de proteção. Este contentor é depois baixado para um camião e transportado para uma outra piscina de arrefecimento mais segura, situada numa outra zona da central. O trabalho é feito a partir de uma sala de controlo, a cerca de 500 metros de distância, devido aos elevados níveis de radiação observados no interior do edifício do reator onde se situa a piscina.
Sondas robóticas fotografaram e detetaram vestígios de barras de combustível nuclear danificadas em todos os três reatores, que fundiram, mas a localização exata e outros pormenores sobre o combustível fundido são desconhecidos.
Após o desastre nuclear em Fukushima Daiichi, desencadeado por um maremoto em março de 2011, o Japão reduziu o parque nuclear de 54 para 42 unidades, compensando esta redução com a exploração de centrais térmicas e um pequeno aumento na quota da eletricidade a partir de fontes renováveis de energia.
Aproximadamente 52 mil pessoas continuam ainda deslocadas devido àquele que foi o segundo pior acidente nuclear de sempre, depois do desastre de Chernobil, na Ucrânia, em 26 de abril de 1986.
A onda gigantesca criada pelo violento de sismo de 9,0 de magnitude em 11 de março de 2011 submergiu as instalações, a eletricidade foi cortada, os sistemas de arrefecimento do combustível nuclear pararam, levando à fusão do combustível do núcleo de três dos seis reatores. As explosões de hidrogénio destruíram parte dos edifícios de Fukushima Daiichi. Só em maio de 2011, dois meses depois do acidente, a TEPCO usou a expressão “fusão do núcleo” do reator.
Mais de um milhar de enormes reservatórios guardam importantes quantidades de água, em parte contaminada, à qual ninguém sabe ainda o que fazer. As autoridades nucleares japonesa e internacionais continuam a considerar o lançamento no mar.
Serão precisas pelo menos quatro décadas para desmantelar esta central, situada a pouco mais de 200 quilómetros a nordeste de Tóquio, com tecnologias que, na maioria dos casos, ainda estão por inventar.
A TEPCO e responsáveis governamentais afirmaram que estão a desenvolver métodos de remoção do combustível fundido de cada um dos três reatores danificados até final do ano, para darem início aos trabalhos em 2021.
// Lusa