Fukushima: empresas japonesas afundadas em chamadas abusivas de chineses

As empresas japonesas estão a enfrentar uma onda de chamadas abusivas de cidadãos chineses, na sequência da controversa decisão do Japão de libertar para o Oceano Pacífico águas residuais tratadas da central nuclear de Fukushima.

A libertação de água radioativa da central de Fukushima para o Oceano Pacífico criou tensões diplomáticas entre o Japão e a China — e acendeu um sentimento anti-japonês entre os cidadãos chineses.

Nos últimos dias, as empresas japonesas estão a enfrentar uma onda de chamadas abusivas de chineses descontentes com a decisão do governo japonês.

A quantidade de chamadas é de tal ordem, diz o The Guardian, que algumas das empresas visadas perderam mesmo capacidade operacional e viram a sua produtividade afetada.

A vaga de chamadas está a afetar todo o tipo de empresas, de salas de concertos em Tóquio, a restaurantes em Fukushima ou aquários na cidade costeira de Iwate, no norte de Honsu, principal ilha do país — e nem mesmo empresas e instalações japonesas na China foram poupadas.

A situação atingiu um ponto tal, que algumas empresas tiveram de desligar as suas linhas telefónicas para manter as operações.

O assédio chinês estende-se à internet, onde utilizadores das redes sociais chinesas partilham vídeos de si próprios a fazer estas chamadas para empresas japonesas.

Entretanto, o governo japonês aconselhou os cidadãos nipónicos residentes na China a “não falar alto em público“, e instou o governo chinês a acalmar os seus cidadãos e a garantir a segurança dos residentes e missões diplomáticas japonesas na China.

Este aumento de tensão entre chineses e japoneses surge numa altura em que a Tokyo Electric Power está a largar no oceano algo como 500 piscinas olímpicas de água que esteve a arrefecer, durante mais de três décadas, os reatores da central de Fukushima, destruída na sequência do tsunami de 2011.

A água contém uma mistura de líquido de arrefecimento altamente contaminado que vazou para os porões dos edifícios e para as águas subterrâneas.

A operadora vai iniciar a libertação com a água menos radioativa, continuando gradualmente durante décadas até que o processo de desativação seja concluído. Até março de 2024, está prevista a libertação de um total de 31.200 toneladas de água tratada.

Cerca de 70% da água armazenada nos tanques ainda contém núcleos radioativos que excedem os níveis estabelecidos pelo governo. No entanto, esta água está a ser tratada por um sistema avançado de processamento de líquidos e será diluída com água do mar antes da libertação, reduzindo a sua radioatividade abaixo dos limites internacionais de segurança, embora não para zero.

A China, que rotulou a decisão do Japão como “egoísta” e prejudicial tanto para a saúde humana como para o ambiente, opõe-se à libertação destas águas e proibiu todas as importações de marisco japonês.

Entretanto, alguns críticos da posição assumida pelos chineses realçam que as próprias instalações nucleares da China libertam águas residuais com níveis mais elevados de trítio, um isótopo radioativo, do que as que estão a ser descarregadas em Fukushima.

ZAP //

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