Fukushima começa hoje a lançar água radioativa para o Pacífico. Se tudo correr bem…

kawamoto takuo / Wikimedia

Central Nuclear de Fukushima, no Japão

O Governo japonês anunciou que as águas residuais radioactivas da central nuclear de Fukushima, depois de tratadas e diluídas,vão esta quinta-feira começar a ser lançadas no oceano. O plano levanta objeções na comunidade internacional.

O Oceano Pacífico prepara-se para receber algo como 500 piscinas olímpicas de água que esteve a arrefecer, durante mais de três décadas, os reatores da central de Fukushima, destruída na sequência do tsunami de 2011.

Esta decisão controversa surge mais de 12 anos após um enorme terramoto e tsunami terem dado início a uma luta constante contra quantidades crescentes de água radioativa na central, proveniente de chuva, água subterrânea ou das injeções necessárias para arrefecer os núcleos dos reactores nucleares.

No início de 2024, a central de Fukushima Daiichi deverá ficar sem espaço para armazenar cerca de 1,33 milhões de toneladas de água daí resultantes.

O governo japonês e a operadora da central, a TEPCO — Tokyo Electric Power Company Holdings, alertaram que a água tem que ser removida, para evitar fugas acidentais dos tanques.

A água contém uma mistura de líquido de arrefecimento altamente contaminado que vazou para os porões dos edifícios e para as águas subterrâneas.

A TEPCO reduziu o aumento diário de água contaminada para 100 toneladas, um quinto da quantidade inicial, mas quase 98% dos tanques de armazenamento, com capacidade para 1,37 milhões de toneladas, estão já cheios.

Esta terça-feira, o primeiro-ministro, Fumio Kishida, deu o aval final à libertação da água da central, numa reunião dos ministros envolvidos no plano, e deu instruções à  TEPCO para estar pronta a iniciar as descargas esta quinta-feira, se o tempo o permitir.

A operadora vai iniciar a libertação com a água menos radioativa, continuando gradualmente durante décadas até que o processo de desativação seja concluído. Até março de 2024, está prevista a libertação de um total de 31.200 toneladas de água tratada.

Cerca de 70% da água armazenada nos tanques ainda contém núcleos radioativos que excedem os níveis estabelecidos pelo governo. No entanto, esta água está a ser tratada por um sistema avançado de processamento de líquidos e será diluída com água do mar antes da libertação, reduzindo a sua radioatividade abaixo dos limites internacionais de segurança, embora não para zero.

Se tudo correr bem…

A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) que analisou o plano do governo japonês, concluiu que, se executado corretamente, terá um impacto negligenciável no ambiente e na saúde humana.

A maioria dos cientistas concorda, embora alguns considerem serem necessários de mais dados sobre os efeitos a longo prazo.

No entanto, o plano levantou preocupações não só no Japão mas também nos países vizinhos, provocando protestos de rua na Coreia do Sul e levando a China a proibir a importação de alguns alimentos de dez províncias do Japão.

No final de Junho, recorda a ABC, o comissariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês em Macau criticou o plano japonês, classificando-o de irresponsável e de violar o direito internacional.

Num relatório recente, a organização ambiental internacional Greenpeace alertou que a água contaminada a ser lançada no mar pela central nuclear de Fukushima contém carbono radioativo que pode danificar o ADN humano.

O Governo da Coreia do Sul realizou diversos testes para avaliar o risco de contaminação ambiental ou de alimentos devido às descargas de Fukushima, tendo concluído que tal risco é praticamente nulo.

No entanto, realça a Time, o vice-primeiro-ministro sul-coreano Park Ku-yeon fez saber que, “se alguma coisa correr mal”, a Coreia do Sul exigirá que o governo japonês interrompa imediatamente a descarga das águas radioativas no oceno.

O governo japonês, que afirma que há na realidade mais riscos de “prejuízos reputacionais” do que um perigo científico real, alocou um fundo de cerca de 500 milhões de euros para apoiar as pescas e combater possíveis danos à imagem da indústria pesqueira e alimentar do país.

A TEPCO, por seu turno, comprometeu-se a lidar com eventuais reclamações relacionadas com estes danos.

Se tudo correr bem, os “danos reputacionais” parecem estar cobertos. Resta saber que danos ambientais haverá se nem tudo correr bem.

ZAP //

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