O Japão vai lançar água radioativa de Fukushima nos oceanos. O mundo está seguro?

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Ministério da Administração Interna e Transportes do Japão / Wikimedia

Vista aérea da central nuclear de Fukushima

Japão recebeu luz verde esta terça-feira para avançar com a libertação, para o Pacífico, de água radioativa de Fukushima. Ao fim de 3 anos, o plano que alivia gastos de 800 milhões de euros anuais aos japoneses ainda é contestado.

O Pacífico prepara-se para receber uma quantidade aproximada de 500 piscinas olímpicas, cuja água esteve a arrefecer, durante mais de três décadas, os reatores da central de Fukushima, destruída na sequência do tsunami de 2011.

O Japão recebeu esta terça-feira a aprovação, por parte do organismo de vigilância nuclear da Organização das Nações Unidas (ONU), para se despedir da água radioativa, após o seu tratamento e diluição, depois de dois anos de análise da Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA).

A agência confirmou que a libertação de 1,3 milhões de toneladas de água radioativa está de acordo com as normas de segurança e que “impacto radiológico negligenciável para as pessoas e o ambiente”.

Em colaboração com a Agência Internacional de Energia Atómica, Tóquio comprometeu-se também a criar um plano de transparência para acompanhar a qualidade das águas.

O polémico plano do país para libertar as águas contaminadas que estão na central já era público desde 2021, altura em que foi previsto para a Primavera de 2023.

A Tokyo Electric Power Company (Tepco) é responsável pela filtração da água, através de um túnel subaquático, com o objetivo de remover os isótopos e deixar o trítio. A empresa irá depois diluir a água até que os níveis de trítio desçam abaixo dos limites regulamentares.

O armazenamento desta água custa aos japoneses cerca de 800 milhões de euros por ano.

Japão diz ser seguro; vizinhos não acreditam

Segundo os ministros japoneses, o processo será seguro, já que a água a libertar será sujeita a um processo de tratamento que elimina quase todos os elementos radioativos que serão diluídos. Os responsáveis japoneses defendem até que a água pode ser consumida — alegação que levou a um pedido de prova concreta por parte da China, que pediu a um ministro japonês que a bebesse, em 2021.

Responsáveis japoneses dizem que a água será diluída até atingir níveis aceitáveis e abaixo dos níveis aprovados de trítio, isótopo mais difícil de separar da água, mas a China diz, segundo o Público, que a comparação entre os níveis de trítio na água tratada e nas águas residuais estava a “confundir completamente os conceitos e a enganar a opinião pública”.

O inédito processo que recebe agora luz verde desencadeou reações negativas não só dos países vizinhos, mas também das comunidades piscatórias que temem uma vaga de desconfiança em relação aos seus produtos.

A Greenpeace, organização ambiental internacional, alertou num relatório recente que a água contaminada a ser lançada no mar pela central nuclear de Fukushima contém carbono radioativo que pode danificar o ADN humano.

Isótopo radioativo carbono-14 e outros elementos perigosos, que têm “graves consequências a longo prazo” para a população, para o ambiente e para a indústria piscatória, estarão presentes na água armazenada.

De acordo com a Associated Press, embora a maioria dos isótopos radioativos tenha sido removida por um extenso processo de filtração, um deles – o trítio – permanece na água, não podendo ser removido com a tecnologia existente.

Tatsujiro Suzuki, professor de engenharia nuclear do Centro de Pesquisa para Abolição de Armas Nucleares da Universidade de Nagasaki, disse à BBC que o plano “não levaria necessariamente a poluição grave ou prejudicaria o público — se tudo correr bem”.

Mas como a Tepco não conseguiu evitar o desastre de 2011, Suzuki continua preocupado com uma possível libertação acidental de água contaminada, disse.

O processo nunca antes visto irá durar entre 30 e 40 anos. Não há ainda uma data específica para a libertação da água.

Tomás Guimarães, ZAP //

3 Comments

  1. Se essa água é boa, porquê que o Japão não a usa internamente, na rega dos seus jardins, campos e etc? Sem falar que deviam usar no consumo humano,… “Têm de espalhar o mal pela aldeia”!

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