As gravações áudio do avião da Germanwings que se despenhou na terça-feira nos Alpes franceses revelam que um dos pilotos saiu do cockpit e não conseguiu reentrar, adiantou ao New York Times um militar envolvido na investigação.
As gravações do cockpit mostram uma conversa “muito tranquila” entre os pilotos durante a parte inicial do voo, que partiu de Barcelona em direção a Düsseldorf, tendo posteriormente um dos pilotos abandonado o cockpit sem conseguir reentrar.
“O homem que ficou do lado de fora bate ligeiramente na porta e não tem resposta. Depois, bate com mais força e continua sem resposta. Nunca há resposta. Pode ouvir-se que ele está a tentar deitar a porta abaixo“, disse o investigador.
Embora a gravação possa dar alguns esclarecimentos sobre as circunstâncias que envolveram o acidente, que provocou a morte a 150 pessoas, ainda há várias questões por responder.
“Não sabemos por que é que um dos pilotos saiu”, continuou o responsável, que pediu o anonimato face à investigação em curso.
“O certo é que, na parte final do voo, o outro piloto está sozinho e não abre a porta“, sublinhou.
Hipótese de suicídio do co-piloto
Em declarações à Sic Notícias, Luís Coimbra, presidente da NAV, a empresa controladora do tráfego aéreo nacional, avança que o acidente “poderá ter sido um caso de suicídio do piloto“.
Segundo Luís Coímbra, se for esse o caso, será “o quarto caso da história da aviação civil em que um piloto se apanha sozinho no cockpit e se suicida”.
Os registos áudio não fornecem indicações sobre as condições ou a atividade do piloto que ficou dentro do cockpit, adensando o mistério, já que em nenhuma altura da descida do Airbus A320 houve comunicação por parte do cockpit com os controladores de tráfego ou qualquer outro sinal de emergência.
A informação tornada pública pelas autoridades de aviação francesas quanto ao conteúdo das gravações é escassa, desconhecendo-se se os registos são parciais ou estão completos.
O gabinete que investiga as causas do acidente confirmou apenas que foram detetadas vozes humanas e outros sons provenientes do cockpit, que serão sujeitos a uma análise detalhada.
Segundo avançam a BBC e a imprensa alemã, terá sido o comandante do avião a ausentar-se para ir à casa de banho, deixando o co-piloto sozinho na cabine.
Procurador de Marselha diz que queda foi intencional
A Procuradoria de Marselha afirmou esta quinta-feira que o co-piloto, identificado como Andreas Lubitz, alemão de 28 anos, se trancou na cabine do voo e voluntariamente fez o avião perder altitude até contra uma montanha.
Segundo o procurador de Marselha, Brice Robin, citado pela BBC, as gravações de uma das caixas-pretas do voo revelaram que a determinado momento do voo o co-piloto alterou o sistema de orientação do avião para iniciar a descida. O piloto bateu na porta da cabine para voltar a entrar, mas o co-piloto permaneceu em silêncio.
“Penso que o co-piloto se recusou a abrir a porta e voluntariamente apertou o botão para o avião descer”, disse Robin.
Segundo informações da Lufthansa, citadas pelo semanário Sol, o co-piloto tinha sido admitido na Germanwings em Setembro de 2013, e teria apenas apenas 630 horas de voo.
O comandante, com mais de 10 anos de experiênca, tinha mais de seis mil horas de voo.
De acordo com o apurado pela AP, é possível entrar no cockpit mesmo que quem esteja dentro da cabine fique incapaz de abrir a porta – a não ser que o pedido de emergência para entrar seja recusado por quem se encontrar na cabine.
Lufthansa não confirma
A porta-voz da Germanwings, Martine del Bono, não quis comentar as novas provas divulgadas pelo New York Times.
Já esta quinta-feira, o grupo alemão Lufthansa, ao qual pertence a Germanwings, anunciou em comunicado não poder confirmar que um dos pilotos do Airbus A-320 que se despenhou nos Alpes franceses não estava na cabine de comando no momento do acidente.
Em declarações à agência noticiosa DPA, um porta-voz da Lufthansa disse “não ter atualmente nenhuma informação que possa confirmar a notícia do diário New York Times”.
No entanto, a companhia alemã comprometeu-se a divulgar toda a informação da tragédia, e apelou a que não seja dado crédito a “especulações” sobre as causas do acidente do voo 9525 entre Barcelona e Düsseldorf.
ZAP // Lusa