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Homo neanderthalensis, o Homem de Neandertal
Uma nova investigação revela uma grande diversidade das práticas funerárias dos neandertais na Península Ibérica, com uma disposição sistemática dos corpos em grutas.
Durante décadas, os investigadores questionaram-se sobre se os neandertais se envolviam em práticas funerárias, particularmente na Península Ibérica. Ao contrário de outras partes da Europa, onde foram documentados enterramentos, o registo arqueológico em Espanha e em Portugal parecia carecer de tais provas.
Um novo estudo, no entanto, sugere que os neandertais ibéricos exibiam comportamentos mortuários diversos e intencionais, levando a uma reavaliação da forma como estes humanos antigos lidavam com a morte.
O estudo, publicado no Journal of Archaeological Science: Reports, reviu evidências fósseis de populações neandertais e pré-neandertais na Península Ibérica, datando de há entre 400 000 e 40 000 anos. Embora não tenha sido encontrado nenhum enterro formal, a equipa descobriu padrões de deposição intencional de corpos em grutas. Estas práticas repetidas indicam que os neandertais não deixavam simplesmente os seus mortos expostos ou espalhados, mas colocavam-nos deliberadamente em locais específicos.
“A ausência de enterramentos formais na Península Ibérica não significa que os neandertais aqui não tivessem comportamentos funerários”, disse a autora principal, Nohemi Sala. “Pelo contrário, as descobertas convidam-nos a ampliar a nossa compreensão do que constitui o comportamento funerário.”
Os investigadores consideraram e descartaram explicações alternativas, como carnívoros a arrastar corpos para grutas ou acumulações acidentais. Em vez disso, as provas mostraram a disposição sistemática dos restos mortais ao longo do tempo, o que, embora não seja um enterro no sentido convencional, não deixa de representar uma forma de prática funerária.
A posição estratégica da Península Ibérica tornou-a um ponto de encontro para diferentes linhagens neandertais e outros grupos humanos antigos. Estas populações sofreram repetidas alterações climáticas que influenciaram a sobrevivência e a adaptação. No entanto, surpreendentemente, o estudo não encontrou uma correlação direta entre as alterações climáticas e as práticas funerárias. Em vez disso, os comportamentos mortuários parecem refletir tradições culturais independentes das pressões ambientais, refere o IFLScience.
As descobertas destacam uma diversidade até agora subestimada na vida cultural neandertal e não só reformula a nossa compreensão dos neandertais ibéricos, como também destaca a variação cultural entre as populações neandertais de toda a Eurásia.