Como a TAP virou caso de polícia (com agressões e assessoras de Galamba escondidas no WC)

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André Kosters / Lusa

O Ministro das Infraestruturas, João Galamba

Frederico Pinheiro é um nome que há alguns dias não diria nada à maioria dos portugueses. Mas o ex-adjunto do ministro João Galamba saltou para a ribalta mediática num caso que envolve a TAP, agressões, uma acusação de roubo e até assessoras escondidas na casa de banho.

Poderia ser o argumento de um filme sobre os bastidores da política, mas é a realidade do Governo português. A polémica indemnização de 500 mil euros a Alexandra Reis na TAP continua a fazer mossa no Executivo de António Costa e está instalada mais uma crise no Governo, desta vez com João Galamba nos holofotes da polémica.

Já se pede a demissão do ministro das Infraestruturas que substituiu Pedro Nuno Santos no cargo, a primeira “vítima” do caso Alexandra Reis.

A origem desta nova crise é a famigerada reunião de 17 de Janeiro entre o grupo parlamentar do PS e a então CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener. Frederico Pinheiro esteve nessa reunião e as notas que tirou no encontro originaram um conflito com Galamba, e a sua posterior exoneração.

Já depois de estalar a polémica, e de ter sido demitido, Pinheiro acusou Galamba de querer mentir à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da TAP quanto à reunião de Janeiro. E assegurou que, nesse encontro, “foram articuladas perguntas a serem efectuadas” pelo grupo parlamentar do PS e “as respostas e a estratégia comunicacional da [então] CEO da TAP”, conforme nota que enviou à revista Sábado.

Isso mesmo estará sublinhado nas notas de Pinheiro que diz que ficou acordado com Galamba que, “em caso de requerimento pela CPI”, estas “não seriam partilhadas por serem um documento informal”.

O ex-adjunto assegura, agora, que manifestou a sua discordância em não divulgar essas notas, o que levou Galamba a ter “uma reacção irada”, como conta Pinheiro à Sábado.

Foi já depois de ter enviado as notas ao ministro que este lhe telefonou, na noite de 26 de Abril, a dizer que estava demitido após sucessivas recusas e adiamentos de Pinheiro em entregar as notas que tinha tomado na reunião de Janeiro.

O Jornal de Negócios refere que Galamba justificou a demissão com o argumento de que o comportamento de Pinheiro “não era conforme com os deveres e responsabilidades” de um adjunto de um gabinete de ministro.

Já o ex-adjunto acredita que foi despedido por ter recusado alinhar no esquema de Galamba para, alegadamente, esconder informação da CPI da TAP.

Pinheiro terá acabado a entregar “um email datado de 25 de Abril” que não inclui “as notas originais de um ficheiro original”, como apurou o Negócios junto de fonte do ministério das Infraestruturas.

Galamba terá dito a Pinheiro, nesse telefonema de despedimento, que estava impedido de entrar nas instalações do ministério. Mas Pinheiro não lhe deu ouvidos e, nessa mesma noite, foi ao gabinete para ir buscar o seu computador. E foi quando o caldo ficou de vez entornado!

Socos e uma bicicleta atirada contra os vidros

Essa noite de 26 de Abril ficou marcada por um ambiente de alta tensão, com gritos e agressões à mistura, e com a polícia a ser chamada ao Parlamento.

Após ter sido demitido por Galamba, Pinheiro foi buscar o computador que lhe tinha sido atribuído no ministério, alegando que continha ficheiros pessoais. Mas assessores do ministro tentaram impedir que o levasse e foi quando os ânimos se exaltaram.

Enquanto lhe tentavam tirar o computador, “Pinheiro terá feito da mochila uma espécie de arma de arremesso, tendo ainda desferido socos nas pessoas que o rodeavam, acabando por fugir pelas escadas do prédio”, conta o Negócios.

Quando o ex-adjunto tentou deixar o edifício, fecharam-lhe as portas. Pinheiro terá, então, “arremessado a sua bicicleta contra os vidros da fachada, tentando fugir por aí”, relata a TVI.

“Mas quando foi interceptado pela polícia, deixaram-no sair, pois não havia ninguém para contrariar a sua versão dos factos” e “as cinco pessoas do gabinete que tinham estado envolvidas nos confrontos ter-se-ão refugiado na casa de banho feminina, de onde só saíram quando a polícia as foi buscar”, apurou ainda o Público.

Por volta da uma da manhã, a chefe de gabinete de Galamba terá telefonado ao ministro a dizer-lhe que “estava fechada numa das casas de banho do ministério”, “contando a existência de agressões a si própria” e a outras assessoras, nota ainda a TVI.

As pessoas alegadamente agredidas apresentaram queixa à polícia e uma terá mesmo sido atendida no hospital.

O computador “roubado”

Entretanto, o Governo apresentou uma queixa-crime contra Frederico Pinheiro por roubo de um computador do Estado com informação confidencial.

Pinheiro terá acabado por levar o computador consigo para casa, mas depois entregou-o ao Sistema de Informações de Segurança (SIS) que terá sido chamado a intervir pela chefe de gabinete de Galamba, como reporta o Observador.

A ideia do ex-adjunto era fazer uma cópia das notas da tal reunião, “até para se defender no quadro da comissão de inquérito”, caso seja chamado a responder às dúvidas dos deputados, como reporta o Público.

O computador estará, nesta altura, na posse da Polícia Judiciária que está a investigar o caso.

Pinheiro garante à Sábado que “é completamente falso” que tenha “roubado o que quer que seja”. “Não fui notificado de nada e, se for, vou defender-me nas instâncias próprias”, sublinha.

Susana Valente, ZAP //

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11 Comments

  1. Com que então Barracada no Governo? Nada mau para o Governo de Portugal que tanto apregoa estarmos em Democracia!
    Mas, para que a Barracada seja mais completa, repare-se na leviandade com que se chama “vítima” a Pedro Nuno Santos (primeira vítima) quando vítimas de Pedro Nuno Santos têm sido, neste caso e em muitos outros, os restantes intervenientes e os Portugueses em geral. Para se considerar 1ª vítima é porque deverão haver mais mas… ou não foram divulgadas OU NÃO HÁ MAIS. Enquanto os Ministrecos andaram a jogar às escondidas com o Primeiro-Ministro e entre eles, tá-se bem, problema mesmo foi quando o Assessor quis pôr «a boca no trombone» e aí já só a SIS a fazer o papel de “homens de mão” do Governo para começar a tal Barracada da qual os verdadeiros CULPADOS foram o Ministro das Finanças, Fernando Medina, e das Infraestruturas Pedro Nuno Santos, substituído por João Galamba, Com todas estas “figuras de proa” a fazer o seu pior, IMPUNEMENTE, só se considera BARRACADA quando um Assessor quer repôr a verdade!

  2. Este Galamba era mais digno dum governo de bolsonaro, trump ou maduro.
    O Kosta não quer ficar para trás e junta no governo está trupe do pior.

  3. Quem escolheu gente desta para ministros vinha com certeza do Júlio de Matos. A sem vergonha instalou-se no governo e o presidente da republica (será isto uma republica?) assobia para o lado. Em redor da anarquia, das mentiras e da confusão da TAP, e de outros órgãos do Estado, giram muitos milhões de euros dos contribuintes portugueses enquanto a justiça, como sabemos, emperra nos políticos e no capital , numa divisão entre pobres e não pobres. Depois, demagogicamente, todos fazem belos discursos no 25 de Abril. Por outro lado os agentes da igreja, apanhados em contramão , recebem largos milhões para festas religiosas, quando deviam ser julgados pelos crimes cometidos. Para onde abana a barraca não se sabe, mas vai cair solenemente sobre os contribuintes deste reino num paga Zé permanente.

  4. É o que dá demasiado poder concentrado nas mãos de um conjunto de pessoas.
    Embora que este tipo consiga ser ainda pior que o já mau ‘normal’ deste governo, quem o nomeou estava doente da cabeça.
    Marcelo, que dizes? Continuas nas selfies?
    Já compraste o fato de banho para a época balnear que se avizinha? Depois partilha uma foto dos teus mergulhos, ok? É para ganhares uns “likes”… o país, esse tem tempo de espera que há “coisas” mais importantes, né?.

  5. Fechadas na casa de banho… E até alguma teve a sorte de levar telemóvel para ligar… Ou a casa de banho tem telefone próprio? Na fuga para se esconderem na dita casa de banho, normalmente não há tempo, nem discernimento para levar seja o que for…Bastante estranho.

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