Documentos judiciais revelam que os dois jatos particulares usados pelos supostos assassinos do jornalista Jamal Khashoggi pertenciam a uma empresa que, menos de um ano antes, tinha sido apreendida pelo príncipe herdeiro da Arábia Saudita.
Os documentos, aos quais a CNN deve acesso, estão rotulados como “Top Secret” e foram assinados por um ministro saudita que transmitiu as ordens do príncipe herdeiro.
O processo descreve como a propriedade da Sky Prime Aviation foi transferida para o fundo soberano de 400 mil milhões de dólares do país no final de 2017. Os aviões da empresa foram usados posteriormente no assassinato de Khashoggi em outubro de 2018.
Os documentos que estabelecem a ligação entre os aviões e o príncipe foram apresentados por um grupo de empresas estatais sauditas como parte de um processo de peculato aberto no mês passado no Canadá contra um ex-alto funcionário da inteligência saudita, Saad Aljabri.
Aljabri acusou o príncipe herdeiro de enviar uma equipa para matá-lo no Canadá poucos dias após o assassinato de Khashoggi.
Esta evidência de que a propriedade da frota de aviões privados foi transferida para o Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita não foi relatada anteriormente e fornece outra ligação entre a morte de Khashoggi e Mohammad bin Salman.
Em outubro de 2018, contudo, o The Wall Street Journal relatou que os jatos Gulfstream usados pelos assassinos pertenciam a uma empresa controlada pelo príncipe herdeiro.
“[Mohammad bin Salman] estaria a rastrear [a empresa] e sabia como era usada“, disse Dan Hoffman, ex-diretor da Divisão do Médio Oriente da CIA. “É apenas mais uma potencial evidência de que estava por dentro disso”.
Esta quinta-feira, a comunidade de inteligência dos Estados Unidos deve divulgar um relatório com novos detalhes públicos sobre os responsáveis pela morte de Khashoggi.
Faisal Gill, advogado da ex-noiva de Khashoggi, disse que a sua cliente ficou “agradavelmente surpreendida” com as evidências do controlo de Bin Salman sobre a Sky Prime Aviation.
“Qualquer evidência que basicamente ligue Mohammad bin Salman e outros, especialmente de forma direta, o que acreditamos que sim, é extremamente importante. Isto para mim não é apenas uma linha direta para matar Jamal, mas também uma linha direta dele a tentar encobri-lo usando uma companhia de aviação da qual tem controlo total”, afirmou Gill.
Khashoggi morreu dentro do consulado saudita em Istambul, a 2 de outubro de 2018, numa tentativa de ir mantendo a pressão sobre Riade.
De acordo com o relatório da ONU, os assassinos fugiram rapidamente e seguiram para os aviões depois de matar o jornalista. Um jato, com a cauda número HZ-SK1, tinha acabado de pousar naquela noite. Após 1h15 do pouso, voltou a levantar voo com seis membros da equipa saudita.
Quatro horas e meia depois, o segundo avião, com a cauda número HZ-SK2, descolou do aeroporto Ataturk com mais sete homens a bordo.
O primeiro jato voou pelo Cairo e o segundo por Dubai no caminho de volta para Riade.
Os dois últimos membros da equipa de ataque voaram num avião comercial de Istambul para Riade.
Depois de num primeiro momento terem negado o envolvimento no assassinato de Khashoggi, as autoridades de Riade avançaram posteriormente várias versões contraditórias. Agora, sustentam que Khashoggi foi assassinado durante uma operação não autorizada pelo poder saudita.
Erdogan tem dito várias vezes que não vai largar o caso. O relatório da CIA aponta para a alta probabilidade de ter sido o príncipe a ordenar a morte do jornalista.
Em abril do ano passado, noticiou-se que as autoridades sauditas tinham dado aos quatro filhos de Khashoggi “casas de um milhão de dólares” e “pagamentos mensais de cinco dígitos” como compensação pela morte do pai.
Óbvio…
E é o mesmo príncipe que anda com operações de charme a fazer construções espetaculares para atrair turistas para o seu país medieval!…