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Membro do governo saudita ameaçou investigadora da ONU responsável por relatório sobre Khashoggi

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pomed / Flickr

O Jornalista saudita Jamal Khashoggi

Um alto responsável do Governo saudita garantiu que se a Organização da Nações Unidas (ONU) não silenciasse a investigadora Agnès Callamard, após a publicação do seu inquérito ao assassínio do jornalista Jamal Khashoggi, tinha pessoas prontas para “tratar-lhe da saúde”.

Como contou ao Guardian a relatora especial da ONU para as mortes extrajudiciais, a frase foi interpretada por quem a ouviu como “uma ameaça de morte”. Callamard, que deixará o cargo e assumirá como secretária geral da Amnistia Internacional, foi a primeira a afirmar que Khashoggi foi assassinado no consulado saudita de Istambul, em 2019.

No relatório que coordenou, divulgado em junho de 2019, defendeu que o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman devia ser investigado por existirem “indícios credíveis” de que esteve envolvido na morte do jornalista. Foi durante uma reunião de “alto nível” sobre o relatório que surgiram as tais ameaças, em janeiro de 2020.

Um dos altos membros do regime presentes disse que tinha recebido telefonemas de pessoas que estavam preparadas para “lhe tratar da saúde” se a ONU não “tratasse dela”, comentário que outros sauditas tentaram assegurar que não devia ser levado a sério. O autor das ameaças repetiu-as no fim da reunião.

“Foi-me relatado na altura e foi uma daquelas ocasiões em que a reação das Nações Unidas foi muito forte. As pessoas que estavam presentes, e depois disso, deixaram claro à delegação saudita que aquilo era absolutamente inapropriado e que havia a expetativa de que não continuasse”, referiu Callamard.

De acordo com a própria, os comentários foram interpretados pelos colegas em Genebra como “uma ameaça de morte”.

Esta relevação chega um mês depois de os Estados Unidos divulgarem um relatório dos serviços secretos onde se confirma que o príncipe herdeiro sabia e autorizou a captura e o assassínio do jornalista, com Washington a aprovar sanções contra 76 sauditas.

Taísa Pagno //

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