Na sua primeira grande entrevista após o caso Joacine, Ricardo Sá Fernandes, dirigente do Livre, revelou ao Observador que ponderou sair do partido e admitiu apoiar uma possível candidatura da ex-eurodeputada socialista Ana Gomes às eleições presidenciais de 2021.
Em declarações ao Observador, Sá Fernandes disse que o seu partido, o Livre, errou ao retirar à confiança a Joacine Katar Moreira, porque “um partido que nasce para unir a esquerda não pode ao fim de um mês ou dois meses romper com a única deputada que tem por razões que não são substanciais, são procedimentais”.
O percurso de Joacine foi marcado por polémicas. Na origem da discórdia entre a deputada e o seu partido, o Livre, esteve a abstenção da deputada numa votação de condenação de uma ação militar de Israel na Faixa de Gaza.
A deputada do Livre assumiu “toda a responsabilidade” do voto, afirmando que o fez contra o que acredita, e atirou as culpas ao partido por “dificuldade de comunicação” entre a própria e a atual direção do Livre.
Depois dessa polémica, nos corredores do Parlamento, Joacine não respondeu a perguntas. Seguiu acompanhada pelo assessor, Rafael Esteves Martins, e escoltada por um segurança, que tentou afastar os jornalistas. Entretanto, a tensão agravou-se ainda mais quando a deputada falhou o prazo de entrega do projeto de lei sobre a nacionalidade, uma das principais bandeiras do partido.
Além disso, no congresso do Livre, Joacine exaltou-se e chegou a acusar elementos do partido de mentirem.
Sá Fernandes considera que o rompimento com Joacine foi um ato de “grande imaturidade política” ainda que reconheça que a deputada também cometeu erros, mas foi “vítima de bullying mediático absolutamente inusitado.”
“O partido devia ter tido outra capacidade de reflexão, de encaixe, de maturidade para a poder também defender, porque aquilo que aconteceu foi um massacre. Havia forças políticas muito interessadas em acabar com o Livre e com a Joacine, não vamos ter ilusões”, afirmou.
Este caso levou Sá Fernandes a ponderar abandonar o partido, mas acabou por não o fazer. “Neste momento, a minha posição é a de apoiar o Livre a reerguer-se das cinzas e apoiar a deputada Joacine. O Livre é útil à democracia portuguesa e Joacine Katar Moreira pode fazer um bom mandato enquanto deputada independente. Espero que ambos consigam singrar”, afirmou ao Observador.
Sá Fernandes apoia eventual candidatura de Ana Gomes
Na mesma entrevista, Sá Fernandes disse que vai apoiar Ana Gomes caso esta mude de ideias e avance com uma candidatura à Presidência da República. Aliás, o dirigente do Livre já comunicou à ex-eurodeputada o seu apoio.
“Já comuniquei a Ana Gomes que, se ela se candidatar, serei com certeza apoiante dela. A Ana Gomes é um valor da democracia portuguesa, foi uma grande diplomata ligada a um dos feitos mais importantes da nossa democracia que tem a ver com o caso de Timor. É uma mulher corajosa, de bons princípios e séria. Não tenho a mais pequena dúvida de que seria bom que a esquerda se unisse em volta da sua candidatura”, afirmou.
Para o advogado, o Livre não deve ter um candidato a Belém. Porém, mesmo que tenha e Ana Gomes também avançar, o apoio de Sá Fernandes estará sempre na candidata socialista. “Independentemente do que o Livre decidir, o meu apoio será seguramente para Ana Gomes”, assegurou.
O nome de Ana Gomes tem sido apontado às eleições presidenciais, apesar desta já ter descartado uma eventual candidatura a Belém.
Marcelo disse só irá comunicar a sua decisão sobre uma eventual recandidatura nas presidenciais de 2021 após convocar eleições, “provavelmente em novembro“.
André Ventura anunciou, através de um vídeo enviado a dirigentes e militantes do Chega, que se vai candidatar à Presidência da República nas presidenciais de 2021.
Uma sondagem divulgada esta segunda-feira mostra que Marcelo continua a ser o favorito, mas perde força com a entrada em cena da antiga eurodeputada socialista.
Sá Fernandes espera que Marcelo vete lei da eutanásia
Sá Fernandes disse ainda que, apesar de ser a favor da eutanásia, espera que o Presidente da República possa vetar a lei sobre a morte assistida, lamentando a pressa do processo e que nenhum dos partidos tenha incluído o tema nos seus programas políticos.
“Fazer uma grande reflexão sobre isto era uma solução de princípio justa e eu, que defendo o princípio, sinto-me dececionado pela forma apressada como este processo está a ser conduzido e espero que o Presidente da República de facto vete”, concluiu.