//

Cientistas podem ter desvendado um dos maiores mistérios das pinturas de Leonardo da Vinci

Justin Lane / EPA

Os cientistas podem ter desvendado um dos grandes mistérios da pintura de Leonardo da Vinci: porque é que a esfera de vidro na obra Salvator Mundi, a pintura mais cara do mundo, não mostra sinais de de refração e reflexo da luz?

A resposta, de acordo com os modelos de computador administrados por uma equipa da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, é que, na pintura, Jesus está a segurar uma esfera oca em vez de sólida.

A ideia de uma esfera oca já tinha sido falada no passado por historiadores de arte, juntamente com outras hipóteses alternativas – como um cristal. No entanto, agora, uma renderização 3D avançada mostrou que a pintura de da Vinci representa com precisão um objeto de vidro oco.

“As nossas experiências mostram que uma renderização oticamente precisa, qualitativamente igual à da pintura, é realmente possível usando materiais, fontes de luz e conhecimento científico disponível para Leonardo da Vinci por volta de 1500”, escreveram os investigadores num artigo que está disponível no site de pré-impressão arXiv.

As vestes de Cristo mostradas atrás da esfera em Salvator Mundi não estão distorcidas ou ampliadas, enquanto que também há três manchas brancas pintadas na superfície. Alguns historiadores sugeriram que Da Vinci deliberadamente pintou a esfera de uma forma irrealista.

Esfera sólida (e) e esfera oca (d)

No entanto, usando uma técnica de computação gráfica conhecida como renderização inversa – onde detalhes tridimensionais de uma cena são extrapolados de uma imagem bidimensional -, os cientistas conseguiram recriar o que Da Vinci pintou há centenas de anos.

Com base nos cálculos da equipa, o globo tinha um raio de 6,8 centímetros e 25 centímetros à frente do objeto da pintura. A esfera não pode ter mais de 1,3 milímetros de espessura, sugere a análise.

As sombras na pintura sugerem uma forte fonte de luz de cima, bem como uma luz difusa mais geral, de acordo com os modelos de computador.

Apesar de ainda precisar de ser revista pelos pares, a análise por computador corresponde ao que está pintado na tela. Pelas dobras das vestes de Cristo, quando passam por trás da esfera, parece que Da Vinci tinha um conhecimento sólido sobre como as esferas de vidro funcionavam. A maioria das dobras não está distorcida, mas uma sofre algumas mudanças atrás da esfera.

O Salvator Mundi chegou a ser anunciado como a primeira obra de Leonardo da Vinci descoberta desde 1909, mas a autoria do quadro está ainda por confirmar. Há suspeitas de que possa ter sido pintada por um pupilo de Da Vinci, Giovanni Antonio Boltraffio.

Apesar das dúvidas, em 2017, a pintura foi vendida por um valor recorde de 400 milhões de euros. Depois de esta ter sido comprada por Bader bin Abdullah bin Mohammed bin Farhan al-Saud, parente afastado da família real da Arábia Saudita, foi anunciado que a pintura de Cristo seria a estrela do novo Louvre de Abu Dhabi, que abriu portas em novembro desse ano.

Apesar de se acreditar que Leonardo da Vinci esteve envolvido na produção do quadro, vários especialistas continuam a questionar e a pôr em causa a sua autoria, que chegou a ser atribuída a Bernardo Luini, que fazia parte do círculo do pintor florentino. Esta teoria voltou a ser defendida muito recentemente pelo historiador de arte Matthew Landrus.

Segundo o ScienceAlert, o facto de a esfera de vidro ser retratada com precisão acrescenta credibilidade às alegações de que Da Vinci realmente teve uma mão na composição – e que usou o seu conhecimento sobre ótica e luzes para produzir uma representação verdadeira.

Em maio, foi noticiado que Salvator Mundi poderia fazer parte da exposição, uma vez que desapareceu subitamente. Uma teoria apresentada recentemente diz que o quadro poderá estar guardado no iate do príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman.

ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.