O primeiro trabalho pictórico do génio do Renascimento Leonardo da Vinci terá sido um azulejo datado de 1471, no qual está representado o Arcanjo Gabriel, anunciou esta quinta-feira o especialista de arte Ernesto Solari, que apresentou a peça em Roma.
O professor expôs a peça “pela primeira vez ao mundo” durante uma conferência de imprensa em Roma, como se fosse uma relíquia religiosa, e defendeu a sua autenticidade, que defende ser evidente num estudo de 6 mil páginas realizado durante três anos “com diferentes análises técnicas, científicas e históricas”.
Trata-se de um azulejo quadrado em terracota, propriedade da família nobre Fenice da Ravello, que terá sido pintado por um jovem Leonardo com 18 anos, explicou o especialista. A assinatura presente na obra, “Da Vinci lionardo LDV“, encontra-se visível no rosto do próprio Arcanjo Gabriel, parcialmente mimetizada na mandíbula.
“Esta obra é 100% de Leonardo, é a primeira“, disse Solari, reputado especialista sobre a obra do génio renascentista.
A obra, protegida numa urna e por dois agentes de segurança, tem 20 centímetros de comprimento e largura e 1,2 centímetros de espessura. Mostra o rosto, busto e a parte superior das asas de um arcanjo Gabriel visto de lado, coroado com uma auréola dourada.
O especialista considera que esta é a obra mais antiga de Leonardo, que chegou até aos nossos dias e que conta com sua primeira assinatura, da esquerda para direita e coberta pela última camada de cozimento do azulejo, o que demonstra que não foi falsificada posteriormente.
Solari diz ter decifrado as inscrições secretas presentes no azulejo, escritas de trás para a frente como habitualmente fazia da Vinci, e que as mesmas são claras: “Eu, Leonardo da Vinci, nascido em 1452, representando-me a mim próprio como o Arcanjo Gabriel“.
“Este é com muito grande probabilidade um auto-retrato de Leonardo, o primeiro em absoluto”, garante Solari.
A grafóloga Ivana Rosa Bonfantinio , envolvida na autenticação da obra, explica que para estuda a assinatura foi usada a mesma técnica que usa para os tribunais, e destaca que, com base nos resultados, “podemos afirmar que é a primeira obra realizada e assinada por Leonardo Da Vinci”.
Solari sustenta que “o valor desta obra é inestimável“, por ser a primeira, e que o estado italiano deveria adquiri-la para a mostrar ao público.
Dúvidas sobre a autenticidade
No entanto, há quem duvide da autenticidade da obra de arte apresentada esta quinta-feira por Solari.
É esse o caso de Martin Kemp, professor de História da Arte da Universidade de Oxford e conceituado especialista em Leonardo da Vinci, que ainda hoje questiona também veementemente a autenticidade de “Salvator Mundi, o último da Vinci“, vendido em leilão em 2017 por um valor recorde de 380 milhões de euros.
“A probabilidade de isto ser de Leonardo da Vinci é menos que zero“, diz Kemp ao jornal britânico The Guardian. O especialista considera particularmente duvidoso o vermelho vermicelli do cabelo da figura retratada, e o facto de o azulejo ter sobrevivido incólume durante mais de 500 anos.
Com efeito, realça o perito britânico, não passa um ano sem que apareça uma qualquer nova obra alegadamente realizada ou supervisionada pelo prolífico génio renascentista. “A silly season de Leonardo da Vinci, de facto, nunca fecha“, conclui Martin Kemp.
ZAP // EFE / Live Science