Ventura leu nomes de crianças imigrantes e pôs Isabel Mendes Lopes a chorar no Parlamento

António Pedro Santos / LUSA

O presidente do Chega, André Ventura

Mesa entendeu que “não houve violação dos direitos das crianças” na intervenção do líder do Chega.

Discutia-se esta sexta-feira a polémica Lei da Nacionalidade no Parlamento quando o líder do Chega, André Ventura, decidiu ler “nomes de alunos de uma escola em Lisboa”, citando nomes próprios de origem estrangeira, alegadamente, de crianças imigrantes.

“Estas pessoas querem ser portuguesas”, procurou denunciar o líder do partido.

O PS começou por criticar a menção de nomes de crianças: é “uma falta de respeito“. Já Rita Matias, deputada do Chega, tinha lido o nome completo dos menores.

Pedro Delgado Alves denunciou “o monstro que se acorda e a caixa de pandora que se abre quando crianças são instrumentalizadas no Parlamento para um debate que instiga o ódio”.

Visivelmente emocionada, a deputada do Livre, Isabel Mendes Lopes, condenou o discurso a par da bancada de esquerda e pediu intervenção da mesa.

“Este Parlamento tem de ter humanismo, principalmente com as crianças, e parece-me obrigação da mesa não deixar que sejam ditos nomes de crianças neste parlamento”, disse Isabel Mendes, que continuou, a chorar, a assistir ao debate aceso.

Quando os deputados se exaltaram, Ventura disse: “’tás em casa ou quê?” e mais tarde defendeu-se, dizendo que com estes nomes que “não podem ser identificados” procurava denunciar “uma mudança cultural e civilizacional que está em curso por culpa do Partido Socialista e da extrema-esquerda”.

“Hoje as escolas são isto por culpa vossa”, acusou André Ventura. Nas listas de nomes de bebés nascidos em Portugal, “mais da metade não são portugueses”, disse também a deputada do Chega Cristina Rodrigues.

“Este número que foi feito é replicado em redes sociais, em que leem integralmente nomes de crianças, muitas das quais podem ser cidadãos portugueses de origem que podem ter nomes estranhos mas que são portugueses há largas décadas, cidadãos portugueses que nasceram nos territórios então ultramarinos, cidadãos que nasceram no território nacional, e que a estranheza aparente do seu nome não diz nada sobre a sua origem, e que nos merecem respeito. A câmara tem de fazer esta reflexão, assim como respeitamos as pessoas que se sentam nestas bancadas e que podem só ser cidadãos nacionais há dez ou menos anos”, disse ainda o socialista Pedro Delgado Alves.

A deputada única do PAN Inês Sousa Real, também visivelmente incomodada com a menção de crianças, disse que “a mesa também tem o dever de zelar pela proteção de crianças e jovens no nosso país e o que acabámos de assistir não foi isso”.

A mesa entendeu que “não houve violação dos direitos das crianças”.

“Os nomes próprios não foram referidos, nem sequer deu para perceber se se estava a falar de cidadãos portugueses ou de estrangeiros. A escola até podia ser o Colégio Alemão ou o St. Julian’s em Carcavelos. Não sabemos”.

As iniciativas do Governo que alteram a lei da nacionalidade e dos estrangeiros desceram à especialidade sem votação em plenário, a pedido do próprio Governo: procura-se consenso com a oposição.

ZAP //

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