Salva pelo rádio: quando Ann Hodges foi atingida por um meteorito

Encyclopedia of Alabama

Polícia com meteorito na mão e com Ann Hodges à chegada da casa após a queda do meteorito.

Só aconteceu duas vezes na história, mas Ann foi a primeira: é mais provável ser atingido por um tornado, um raio e um furacão ao mesmo tempo do que ser atingido por um meteorito.

Foi há pouco mais de 70 anos que Ann Hodges, de Sylacauga, Alabama, nos EUA, tornou-se a primeira pessoa documentada a ser atingida por um meteorito.

A mulher, de 34 anos, estava a tirar uma sesta na sala de estar quando o evento bizarro aconteceu, atingindo não só a sua anca, mas toda uma nação com um golpe de curiosidade e fascínio.

Enquanto dormia, Ann foi atingida pelo fragmento do meteorito de Sylacauga, que tinha, milissegundos antes, atravessado o telhado da casa que alugava em Oak Grove, naquele 30 de novembro de 1954.

A mulher ficou com um enorme hematoma na zona da anca e coxa, mas felizmente saiu ilesa de lesões mais graves. A manta que a cobria naquele sono amparou o objeto espacial que rasgou os céus e o seu telhado, mas foi o seu rádio, que absorveu o primeiro impacto do meteorito, que a salvou e evitou ferimentos mais sérios.

Ouvindo um estrondo e o grito da filha, a mãe de Hodges, que se encontrava noutra divisão, correu sem saber de imediato (obviamente) o que tinha acontecido. Quem poderia afinal sequer sonhar com isto?

O meteorito, com 3,85 kg, foi mais tarde classificado como condrito — um meteorito rochoso composto por ferro e níquel — com cerca de 4,5 mil milhões de anos, datando da formação do sistema solar. Os especialistas acreditam que se terá originado a partir do asteroide 1685 Toro, antes de entrar na atmosfera terrestre, recorda o Business Insider.

À medida que descia, o meteorito fragmentou-se: uma parte atingiu Hodges e outra foi descoberta alguns quilómetros mais longe por um agricultor, Julius Kempis McKinney, que a vendeu e usou o dinheiro para comprar uma casa e um carro.

A notícia do impacto espalhou-se rapidamente por Sylacauga, por telefone e boca a boca. Num instante, vizinhos juntaqam-se à polícia na casa de Ann Hodges. Foi chamado um médico, embora Hodges não estivesse gravemente ferida, e as autoridades, incluindo a Força Aérea, inicialmente confiscaram a rocha para determinar se se tratava de um meteorito ou de um disco voador alienígena.

Confirmado como meteorito, Hodges teve inicialmente problemas legais devido aos danos na propriedade que era alugada. O senhorio alegou que o meteorito lhe pertencia, por ter caído na sua propriedade. Mais tarde, concordou em receber 500 dólares, permitindo que Hodges mantivesse o meteorito na sua posse, algo que viria a mudar mais tarde.

O extraordinário evento transformou Hodges numa celebridade temporária nos EUA. Apareceu no famoso programa de televisão de Garry Moore, “I’ve Got a Secret”, e recebeu correspondência de fãs de diversos grupos, embora tenha preferido manter a sua privacidade. Com o tempo, Hodges doou o meteorito ao Alabama Museum of Natural History, pedindo apenas o reembolso das despesas com o advogado.

O incidente também afetou o seu casamento: o marido Eugene tentou, sem sucesso, vender o meteorito, levando ao divórcio do casal em 1964.

Hodges morreria em 1972, aos 52 anos, vítima de insuficiência renal. Mas a história, apesar de pouco conhecida, continua a fascinar o mundo. Mary Beth Prondzinski, do Alabama Museum of Natural History, descreveu-a como “uma daquelas lendas locais que poucas pessoas conhecem”, e lembra que o meteorito está atualmente avaliado em mais de um milhão de dólares. Os cientistas destacam a raridade destes eventos: o astrónomo Michael Reynolds, do Florida State College, disse à National Geographic que é mais provável ser atingido por um tornado, um raio e um furacão ao mesmo tempo do que ser atingido por um meteorito.

No dia 6 de julho de 2023 aconteceu, pela segunda vez, também a uma mulher: estava a tomar café com uma amiga no pátio da sua casa em Schirmeck, no nordeste de França, quando foi inesperadamente atingida por um meteorito.

Em junho deste ano, um homem em McDonough, Geórgia, quase se juntou ao raro clube de vítimas de meteoritos quando fragmentos de um meteorito atravessaram o seu telhado, amassaram o chão e quase o atingiram por cerca de quatro metros. Investigadores da University of Georgia relataram que o meteorito provavelmente se formou há 4,56 mil milhões de anos, anterior à Terra, produzindo um efeito sónico percetível no impacto.

ZAP //

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