Tensão e “puxões de orelhas” à porta fechada. Ferro Rodrigues atirou-se a Temido e a Costa

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Tiago Petinga / Lusa

O Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues

A reunião do Infarmed que decorreu à porta fechada, nesta quarta-feira, ficou marcada por um clima de tensão, com o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, a apontar o dedo ao Governo, em especial à ministra da Saúde, Marta Temido, e a António Costa.

Nas declarações públicas à comunicação social, antes da reunião do Infarmed à porta fechada, houve sinais de comunhão de ideias num tom de harmonia, com os especialistas que aconselham o Governo no combate à covid-19 a defenderem o alívio nas medidas de restrição.

Mas, quando os microfones dos jornalistas se afastaram, na conversa à porta fechada, as coisas azedaram, conforme relatam ao Observadores fontes presentes no encontro.

A publicação online revela “momentos de tensão” e “vários puxões de orelhas do presidente da Assembleia da República” ao Governo, “em particular a Marta Temido”.

O Observador reporta que Ferro Rodrigues mostrou-se “irritado com a falta de divulgação de dados importantes e a falta de soluções para quem estiver em isolamento no dia das eleições”.

O Presidente do Parlamento terá falado num “tom duro”, exigindo “respostas ao Governo e à Direcção-Geral da Saúde”, sublinhando que “é importante comunicar com clareza e regularidade a relação entre vacinados e internados/óbitos para que a população possa ter uma maior noção dos benefícios das vacinas”, conforme refere a mesma publicação.

Ainda de acordo com este relato, Ferro Rodrigues mostrou a sua “indignação por só ter visto esses números explicados na televisão por “comentadores” ao domingo”.

A ministra da Saúde e responsáveis da DGS terão sublinhado que esses dados estão disponíveis nos relatórios oficiais. Mas Ferro Rodrigues considerou que os números são pouco divulgados e que parecem “escondidos” no meio de tantos dados.

Diálogo “ríspido” com Costa

Na reunião à porta fechada foi ainda notório um “diálogo marcado pelo tom ríspido” entre Ferro Rodrigues e António Costa, como destaca também o Observador. Em causa esteve, neste caso, a questão das pessoas infectadas ou isoladas no dia das eleições, a 30 de Janeiro próximo.

Quem estiver isolado até 23 de Janeiro, pode votar a partir de casa. Mas após essa data, não há nenhuma solução prevista e Ferro Rodrigues exigiu a Costa que o Governo faça alguma coisa.

Esta é uma das questões que vai ser abordada nesta quinta-feira, na reunião do Conselho de Ministros de onde sairão as novas medidas para fazer face à pandemia.

Dúvidas quanto à suspensão de isolamento para votar

Os constitucionalistas divergem quanto à eventual suspensão do isolamento para votar nas legislativas de 30 de Janeiro, com Bacelar de Vasconcelos a considerar que seria uma boa solução e Paulo Otero a defender que “não é possível conciliar isolamento” e voto.

O Presidente da República divulgou que o Governo pediu um parecer à Procuradoria-Geral da República (PGR) para saber se o isolamento no quadro da covid-19 impede o exercício do direito de voto ou se poderá ser suspenso para esse efeito.

Para o constitucionalista Paulo Otero “não é possível conciliar saúde pública, isolamento e o exercício do direito de voto”, conforme declarações à agência Lusa.

“Ou são razões de saúde pública que justificam o isolamento e ele não pode ter excepção ou, tendo excepção, afinal não são razões de saúde pública e, por isso mesmo, não se justifica a existência de isolamento”, afirma este constitucionalista.

O professor catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa sublinha que o direito de voto está condicionado ao direito à saúde, não “apenas dos eleitores que vão votar simultaneamente”, mas também “das pessoas que estão nas mesas nas diferentes secções de voto”.

Otero relembra que o direito à saúde também primou “relativamente às situações de limitação à circulação entre concelhos, ou à limitação e à injunção de pessoas, por exemplo, ficarem em casa, sem poderem deslocar-se de casa”.

Em sentido contrário, Pedro Bacelar de Vasconcelos afirma que o “direito de voto é um direito fundamental no funcionamento de uma sociedade democrática” e que os direitos consagrados na Constituição “não são hierarquizáveis”.

Nesse sentido, o ex-deputado do PS sustenta que, “se houver formas de minimizar o risco de contágio” e se forem tomadas “as devidas cautelas”, uma suspensão do isolamento para os cidadãos infectados poderem deslocar-se às urnas “seria bem-vinda”.

“Penso que é uma solução amiga da democracia e do Estado de direito“, afirma Bacelar de Vasconcelos.

ZAP // Lusa

9 Comments

  1. Os políticos andam em brasas, porque as pessoas não vão às urnas, a abstenção é cada vez maior, mas deviam fazer uma introspeção, Porque é que as pessoas não vão votar? – Muito provavelmente porque não acreditam nos políticos!
    Querem credibilizar a política e os políticos?
    Criminalizem o enriquecimento ilícito, condenem os corruptos e corruptores, devolvam ao povo o que roubaram do povo!!
    Em vez disso, querem convencer, não sei quem, que tudo é sério, não há corrupção em Portugal.
    Enfim, é o que temos………

  2. O Voto devia ser ( obrigatório ) .
    E as pessoas deviam ter mais participação na vida Pública.

    Assim, sabiam daquilo que escreviam e diziam …..
    Aqui na Tugalandia , é só bitaites ….
    São todos corruptos , isto é uma vigarice….etc
    Esta conversa é de Café em dia de Futebol….

  3. Quem armou esta cena toda é que devia ser confrontado com as sua responsabilidades ao dissolver o Parlamento sem que tal fosse obrigatório ou necessário.

    Costa e Marcelo ainda não conseguiram atinar na gestão da pandemia, desde o vamos todos para a praia, ao Campo Pequeno até ao vamos todos votar juntinhos que é para parecer que somos muitos e quem ficar infectado que se lixe.

    Daqui a uns anos largos os historiadores terão pano para mangas para contar aos vindouros a incompetência e os crimes cometidos durante a pandemia. Não podes ir ao funeral de um familiar mas podes ir votar mesmo que infectado. Pedem-te um certificado digital ou um teste negativo para tudo ou para nada e agora passa a ser a rebaldaria total, nunca mais terão condições de impôr medidas restritivas se a situação piorar ou se aparecer uma variante mais agressiva.
    Há 25 anos fizeram-se os primeiros testes para o voto electrónico… é uma dor de alma…

  4. O problema dos políticos é a falta de credibilidade ! Só que isso já passou para orgãos que deveriam ser independentes como devia ser a DGS.
    Claro que as eleições são um problema, mas só cabe na cabeça do iluminado Bacelar Vasconcelos que uma pessoa infectada que deva estar em isolamento para não contagiar os outros vá ” botar ” porque isso é o mais importante e supremo.
    Então e as pessoas que estão contagiadas e que não tem o que comer não tem o direito a ir trabalhar para sobreviver ????
    Enfim, uma incoerencia a toda a prova e depois admiram-se dos cépticos e dos negacionistas

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