António Pedro Santos / LUSA

André Ventura, Pedro Pinto e Rita Matias (Chega)
“Bem-vindos ao admirável mundo novo, onde o centro é a violência, é o antagonismo, é a confrontação”. Avisos sérios de Pacheco Pereira.
É um dos assuntos do momento na política portuguesa, e no país no geral: André Ventura quis mostrar na Assembleia da República que há crianças com nomes de outras origens (sobretudo árabes) numa escola de Lisboa. Leu os nomes de algumas crianças e atirou: “São zero portugueses!”.
A esquerda ficou exaltada, Eva Cruzeiro (PS) levantou-se a protestar, Isabel Mendes Lopes (Livre) começou a chorar.
Foi ultrapassada alguma fronteira nesse momento? “Bem-vindos a este admirável mundo novo”, começa por responder José Pacheco Pereira.
O antigo deputado considera que esse “mundo novo” tem como “centro a violência, o antagonismo, a confrontação” – enquanto se ouvia “é isso”, dito repetidamente por Alexandra Leitão, no mesmo programa da CNN.
E é uma questão cultural, avisou o historiador: “Não é só a conflitualidade social ou política”.
Voltando ao caso concreto da lista de nomes evocados por André Ventura, Pacheco Pereira deixou uma sugestão: “Peguem na lista dos deputados do Chega, vão aos sites de genealogia e, em duas ou três gerações, encontram nomes de origem semita, judaica… Já deixo de fora italianos ou outros nomes”.
“E façam uma leitura desses nomes, como foram lidos os nomes das crianças. Vai haver muita surpresa com os nomes que lá aparecem”, continua.
Pacheco Pereira acrescenta: “Talvez isso os ajude a perceber que estas coisas têm sempre dois lados, ambos péssimos: ao estigmatizar os do passado, percebe-se melhor como se pode estigmatizar os do presente”.
“É uma vergonha!”, disse, usando uma expressão repetida inúmeras vezes por Ventura
E os jogadores do Benfica?
Essa expressão também foi usada na Antena 1, aqui com humor. O Portugalex fala no “espectáculo” dado por André Ventura no Parlamento.
E, ao simular a voz de André Ventura, ouve-se: “E mais, e mais! Ouçam só esta lista: Vangelis Pavlidis, Nicolás Otamendi, Orkun Kökçü, Gianluca Prestianni, Kerem Aktürkoğlu, Trubin. Estão todos num clube de futebol português! Entre aspas! Acham isto normal? Estão a tirar o lugar aos jogadores portugueses. Isto é uma vergonha!” – uma referência a vários jogadores do Benfica.
Voltando a Pacheco Pereira: “Mas temos de olhar para este mundo com muita lucidez, porque é um mundo cruel, sem direitos, sem valores… E muita desta gente diz-se católica, apostólica, romana? É uma hipocrisia gigantesca, nada disto corresponde à posição da Igreja Católica. Isto são católicos da pacotilha. São católicos hipócritas. Quando forem à missa e rezarem pelos antepassados, lembrem-lhes que a hipocrisia, a mentira, a falta de empatia e de simpatia humana é, não só crime, mas também pecado mortal”.
Agora dar a opinião e ler nomes estrangeiros, no caso específico, sem identificar ninguém, é crime? Fere a liberdade de expressão? Que coisa… Anda esta gente toda afrontada?
Choca-me muito mais estes políticos farinha amparo esquecerem-se das conquistas que suportam o seu modo de vida “moderno e ocidental”, a começar pela Declaração dos Direitos das Crianças proclamada na ONU em 1959, onde, já agora, estão consagrados os direitos de todas as crianças e respectivas mães. Antes de começarmos nos “achismos” que haja suporte incontestável para as nossas opiniões. Se nós, e bem, subscrevemos essa Declaração temos de lutar por ela. Os nossos políticos devem lutar, nunca se esquecer dela. Estão onde estão para melhorar o que já existe, e não estragar o que foi uma conquista primária do nosso modo de vida. Mas lá está, para isso é preciso estudar história, estudar a vida, ter humanismo. Em 2000 já eu lutava por um simples lugar nas creches para os meus filhos. Já faltavam vagas. Não me lembro de ninguém criticar brasileiros, cabo-verdianos, portugueses de segunda ou de terceira. O que se pedia era um esforço e um planeamento para aumentar as vagas! Porquê? Apesar dos nossos francamente maus políticos já nessa altura não tinhamos desta vaga insuportável.
Comparar a imigração que tínhamos na altura (ano 2000, residual e dos PALOP) , com a de agora não é sério (descontrolada, de todo o mundo indostânico, e de toda a África e Ásia).
Depois temos a saúde e a habitação em estados calamitosos, e uma sensação de insegurança real, principalmente nos centros das cidades.
Receber cerca de 2 milhões de pessoas em pouco mais de 5 anos, resulta naquilo que temos, caos nos serviços, e a habitação mais cara do mundo (per cápita).
Vamos continuar a tapar o sol com a peneira, até quando?