“Quero o meu voto de volta”: família pró-Trump em choque após mãe canadiana ser detida

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Frank Olivera

O marido e os três filhos de Cynthia Olivera (2ªesq) são cidadãos norte-americanos

A família da cidadã canadiana Cynthia Olivera, que apoiava os planos de Donald Trump para deportações em massa de imigrantes, diz sentir-se traída depois de agentes federais a terem detido na Califórnia, durante uma entrevista para obter residência permanente nos EUA.

Muitos dos eleitores que votaram em Donald Trump em novembro de 2024 continuam a apoiá-lo, mas surgem cada vez mais relatos de norte-americanos que estão desiludidos com o seu presidente.

É agora o caso dos familiares da canadiana Cynthia Olivera, que retiraram o apoio ao seu candidato, depois de esta ter sido detida, durante a entrevista para obter residência, pelos serviços de imigração  — que iniciaram de seguida o processo para a expulsar do país.

“Sentimo-nos apanhados de surpresa. Quero o meu voto de volta”, afirmou Frank Olivera, cidadão norte-americano, marido de Cynthia e eleitor assumido de Trump, à estação televisiva KGTV da Califórnia.

Cynthia Olivera, mãe de 45 anos com três filhos nascidos nos EUA, juntou-se assim à crescente lista de casos que contradizem as declarações da administração Trump, que alegadamente daria prioridade à deportação de criminosos perigosos.

Estar nos EUA sem estatuto legal é geralmente uma infração civil, não criminal. Mas a Casa Branca mantém que qualquer pessoa sem documentação legal está sujeita à deportação como criminosa, realça o The Guardian.

A canadiana viu-se inesperadamente envolvida nestas questões, depois das promessas de Trump durante a campanha de 2024  — que, segundo Frank, lhe valeu o seu voto.

Cynthia contou à KGTV que tinha apenas 10 anos quando os pais a trouxeram de Toronto para os EUA sem autorização. Em 1999, com cerca de 19, as autoridades de imigração norte-americanas na fronteira de Buffalo determinaram que Cynthia vivia ilegalmente no país e emitiram uma ordem de deportação.

No entanto, depois de ter sido deportada, conseguiu regressar aos EUA poucos meses mais tarde, numa viagem de carro do México até San Diego, na Califórnia. “Não me pediram documentos, não fizeram nada. Simplesmente acenaram para eu passar”.

Nos 25 anos seguintes, conta Cynthia, viveu e trabalhou em Los Angeles, pagou impostos e sustentou a família.  A equipa da KGTV verificou as bases de dados dos tribunais da Califórnia e não encontrou qualquer registo criminal em nome de Cynthia Olivera.

Em 2024, já no fim do mandato de Joe Biden, a sua administração concedeu-lhe uma autorização para trabalhar legalmente nos EUA. Há anos que Cynthia tentava obter residência permanente, vulgarmente conhecida como “green card”.

Mesmo assim, em vez de apoiar a candidata endossada por Biden, a então vice-presidente Kamala Harris, o marido apoiou Trump nas eleições presidenciais de novembro passado.

Cynthia e Frank contam que foram seduzidos pelas promessas de Trump de deportar criminosos em massa — apesar da sua própria condenação, em maio de 2024, por falsificação de registos empresariais.

Tal como outras famílias com estatutos de imigração mistos, os Olivera não acreditavam que Cynthia fosse afetada pela falta de residência legal. No dia 13 de junho, descobriram o contrário, quando Cynthia compareceu a uma entrevista para o green card em Chatsworth, Califórnia.

Foi detida no local por agentes do ICE (Serviços de Imigração e Controlo de Alfândegas dos EUA). Foi entretanto transferida para um centro de detenção do ICE em El Paso, no Texas, onde aguarda deportação.

Numa chamada de vídeo com a KGTV a partir do centro de El Paso, Olivera diz que está a receber um tratamento injusto.

Os EUA são o meu país. Foi aqui que conheci o meu marido. Foi aqui que andei na primária, no ciclo e no secundário. Foi aqui que tive os meus filhos”, afirmou Cynthia na entrevista, publicada a 3 de julho.

Contudo, a administração Trump mostrou pouca empatia, apesar do apoio do seu marido ao presidente. Um porta-voz disse, em comunicado, que Cynthia era “uma estrangeira ilegal do Canadá”.

Ela já tinha sido deportada e escolheu ignorar as nossas leis, entrando novamente de forma ilegal no país”, afirmou o porta-voz, citado pela Newsweek.

O comunicado sublinha que reentrar nos EUA depois de ter sido deportado é um crime grave, e acrescentou que Cynthia permanecerá sob custódia do ICE “até ser removida para o Canadá”.

O governo canadiano comentou à KGTV que estava ciente da detenção de Olivera, mas que não podia intervir, pois “cada país ou território decide quem pode entrar ou sair das suas fronteiras”.

Frank Olivera resumiu a desilusão de ambos dizendo: “A minha mulher… até há duas semanas, acreditava firmemente no que iria acontecer nos próximos quatro anos”.

Cynthia, por sua vez, contou às autoridades que ela e o marido estão dispostos a pagar o voo para o Canadá, onde planeia ficar com uma prima em Mississauga. No entanto, ainda não há indicação de quando poderá viajar.

O único crime que cometi foi amar este país, trabalhar arduamente e sustentar os meus filhos.”disse, entre lágrimas, Cynthia Olivera.

José Costa, ZAP //

1 Comment

  1. Não é o Trump que faz isso, são claramente algumas pessoas da sua administração. A ordem para regular a imigração foi explicitamente declarada no tempo devido. Nenhum candidato é perfeito, mas o Trump acaba por ser um pouco melhor do que ter esquerdalhas no poder, e que fazem NADA pelo próprio país. O Trump é patriota, e os outros não. Quanto às irregularidades processuais ocorridas, é normal, mas há situações que não se podem prever.

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