Mecanismo permite que células cancerígenas escapem ao sistema imunitário. Interromper esta ligação poderá originar uma nova estratégia de imunoterapia contra o cancro.
Um mecanismo que ajuda as células cancerígenas a contornar as defesas do organismo foi recentemente identificada, segundo um estudo publicado a 24 de julho na Nature Immunology.
A investigação de cientistas do UT Southwestern Medical Center, nos Estados Unidos, descreve como a interação entre uma hormona e um recetor específico em células imunitárias enfraquece a resposta contra os tumores.
As células mieloides – um dos primeiros grupos de defesa recrutados para combater tumores – acabam por ser convertidas em aliadas do cancro. O nosso estudo sugere que os recetores nessas células mielóides são estimulados por essa hormona e acabam por suprimir o sistema imunológico”, explicou Cheng Cheng “Alec” Zhang, co-líder do estudo, citado pelo SciTechDaily.
Atualmente, terapias como os inibidores de checkpoints imunitários beneficiam apenas 20% a 30% dos doentes. É um sinal de que o cancro utiliza várias estratégias para escapar ao controlo imunitário.
A equipa de Zhang já tinha identificado há alguns anos o recetor inibitório LILRB4 nas células mieloides, que, ao ser ativado, fazia com que estas perdessem a capacidade de atacar tumores. No novo estudo, os cientistas recorreram a uma análise genética para encontrar proteínas que interagem com este recetor e destacaram a hormona SCG2 como principal candidata.
Ensaios laboratoriais confirmaram que a SCG2 se liga diretamente ao recetor LILRB4, desencadeando uma cascata de sinais que neutraliza a ação das células mieloides e impede o recrutamento de linfócitos T para atacar o tumor.
Em modelos animais modificados para expressar a versão humana de LILRB4, tumores originados por células produtoras de SCG2 cresceram de forma acelerada. No entanto, quando os investigadores bloquearam o recetor com um anticorpo ou eliminaram a SCG2, observaram uma redução significativa no crescimento tumoral.
Os resultados sugerem que a interação entre LILRB4 e SCG2 constitui uma espécie de “arma secreta” do cancro, permitindo-lhe crescer sem oposição do sistema imunitário. Zhang sublinha que interromper esta ligação poderá originar uma nova estratégia de imunoterapia contra o cancro. Em contrapartida, aumentar a ação da SCG2 pode ser útil no tratamento de doenças autoimunes e inflamatórias em que a atividade das células mieloides se encontra desregulada.
A equipa planeia agora explorar estas duas vertentes em futuras investigações.