As suas mensagens continuam por decifrar. Afinal, de onde vem tanto alarme em redor de uma velha estação de rádio russa?
Os “alucinados” pela rádio que também gostam de uma pitada de teorias de conspiração de certeza que já conhecem a UVB-76, que há décadas tanto fascina, como assusta o mundo.
Após anos em silêncio, a obscura onda de rádio curta ganhou vida outra vez, pouco depois da conversa entre os presidentes dos EUA, Donald Trump, e da Rússia, Vladimir Putin, na primavera que passou.
Na verdade, este ano, a estação de rádio assumiu um novo papel, muito importante: tornou-se um canal de comunicação do próprio Kremlin, explica a Wired esta segunda-feira.
A estação, a transmitir em 4625 kHz, atraiu os mais curiosos depois da Guerra Fria, em grande parte graças ao seu zumbido, que é ocasionalmente interrompido por uma voz monótona que lê sequências (aparentemente) sem sentido, com letras, nomes e números do alfabeto fonético russo.
Depois de uma chamada entre Trump e Putin, a UVB-76 transmitiu uma série de nomes seguidos de números e letras:
“NZhTI 01263 BOLTANKA 4430 9529”
O significado desta mensagem está até hoje por decifrar. E embora a UVB-76 transmita pelo menos desde a década de 1970, a sua finalidade também ainda está por decifrar.
Enquanto alguns defendem que a estação é uma ferramenta de espionagem, outros vão mais longe e dizem que é uma base de comunicação alienígena. Outros garantem: a estação é provavelmente parte da rede de comunicações militares da Rússia.
Há motivo para alarme?
O rádio de ondas curtas, ao contrário do AM e FM que conhecemos, pode percorrer grandes distâncias e é usado por militares e agências de inteligência.
Durante a Guerra Fria, operadores de rádio amadores de todo o globo tentavam intercetar transmissões codificadas do KGB e da CIA. Hoje, o que era hobby tornou-se uma comunidade global de entusiastas que se dedica a interpretar estes sinais.
Há várias teorias sobre a UVB-76. Algumas sugerem que a rádio limita-se a testar condições atmosféricas; outras imaginam cenários de fim do mundo, baseado num sistema programado para lançar mísseis nucleares em caso de ataque surpresa contra a Rússia.
Uma visita de jornalistas e exploradores urbanos à base da estação, a norte de Moscovo, revelou a presença equipamentos abandonados e livros de registo, mas nada que sugerisse as narrativas dramáticas que são vistas online.
Mas a monitorização da misteriosa estação russa continua na Internet. Há sites que catalogam meticulosamente as transmissões da estação.
Alertas sobre escaladas militares? E o mundo veio ouvir
No final de 2024 e este ano, registou-se um aumento de atividade na UVB-76. A 11 de dezembro, a estação transmitiu 24 mensagens num só dia, um recorde.
Embora as mensagens fossem “normais” — letras, números ou palavras sem sentido — a sua frequência e timing surpreenderam.
A agência estatal russa RIA-Novosti publicou o seu primeiro artigo sobre a estação, apelidando-a de “Estação do Fim do Mundo” e ligando-a ao sistema conhecido como “Mão Morta”, um programa soviético de retaliação nuclear.
Outros meios, como a RT, começaram a publicar transmissões e a sugerir que a UVB-76 enviava alertas codificados coincidentes com eventos geopolíticos importantes, como chamadas de telefónicas ou alertas de escaladas militares.
Especialistas enfatizam que não há ligação comprovada ao Mão Morta e que, embora a UVB-76 pudesse ser útil como ferramenta de comunicação em crise, não pode disparar mísseis nem realizar funções ofensivas.
O ressurgimento da UVB-76 como símbolo da postura nuclear da Rússia coincide com um padrão de sinalização nuclear. Nos últimos anos, a Rússia tem utilizado cada vez mais a retórica nuclear para influenciar perceções e políticas ocidentais, especialmente no contexto do conflito na Ucrânia.
Os meios internacionais notaram o interesse na UVB-76. Tabloides britânicos e órgãos europeus reportaram a estação como um sinal “do fim do mundo”. Até a cobertura russa contribuiu para o misticismo, criando um ciclo em que o medo e a fascinação puxam um pelo outro.