Coreia do Norte mentiu sobre “vitória milagrosa” na pandemia da covid-19, revela novo relatório baseado em entrevistas a norte-coreanos. Medo piorou tudo: houve “duplicação de desinformação”.
Apenas 74 mortes na pandemia. O “milagre sem precedentes na história da saúde pública mundial” celebrado pela Coreia do Norte não passou, afinal, de uma campanha de desinformação.
As conclusões são de um novo relatório de duas organizações de investigação norte-americanas, que desvenda uma mentira mortal que custou muito mais vidas do que as que a nação liderada por Kim Jong-un relatou naquele tão isolado país asiático.
Durante a pandemia, Pyongyang insistiu que tinha vencido o vírus que devastou o mundo inteiro sem recurso a vacinas. Disse ter registado apenas 74 mortes e nenhum caso confirmado até meados de 2022. Mas a investigação do Center for Strategic and International Studies (CSIS) e do Instituto George W. Bush diz algo muito diferente.
Segundo o novo relatório, o governo norte-coreano deturpou deliberadamente a gravidade da crise, ocultou surtos e privou os cidadãos de cuidados de saúde essenciais.
Com base em entrevistas com 100 pessoas de dentro da Coreia do Norte, conduzidas através de intermediários, em 2023, o relatório aponta para doenças e mortes por todo o país, com uma mulher a recordar que, no inverno de 2020, houve tantos falecimentos em lares de idosos que “já nem havia caixões suficientes”.
Afinal o país não resistiu dois anos às mortes: pessoas começaram a morrer por covid-19 logo em 2020, acusa o novo relatório.
A maioria dos entrevistados confirmou que nunca foi testada para a covid-19. Muitos suspeitavam que eles próprios ou pessoas próximas tinham contraído o vírus. Quarenta pessoas disseram nunca ter recebido qualquer dose de vacina durante a pandemia, segundo o The New York Times.
E o fator medo afetou ainda mais a situação do país nesta altura conturbada. Tanto os funcionários locais como os cidadãos evitavam reportar infeções ou mortes, por recearem represálias por contradizerem a narrativa oficial. Quem manifestava sintomas corria o risco de detenção forçada ou confinamento coletivo.
O relatório descreve este fenómeno como uma “duplicação de desinformação”, em que governo e cidadãos se enganavam mutuamente, favorecendo a propagação do vírus.
Como medida preventiva, a Coreia do Norte fechou as suas fronteiras no início de 2020, dando ordens para disparar contra qualquer pessoa que tentasse atravessá-las. Só as reabriu em agosto de 2024.
O regime manteve a alegação de “zero casos” até maio de 2022, altura em que admitiu, finalmente, um surto. Apenas três meses depois, os meios de comunicação estatais anunciaram uma “brilhante vitória” sobre o vírus, atribuindo o mérito à “vontade indomável” do líder Kim Jong-un. Quando o surto interno foi finalmente reconhecido, o regime acusou a Coreia do Sul de ter introduzido o vírus no país — uma teoria em que ainda hoje mais de um terço dos entrevistados no relatório acreditam, embora os testemunhos não tenham sido verificados de forma independente.
Coronavírus / Covid-19
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