Anunciar fim da pandemia é “exagerado”. Peritos defendem alívio (e esperam pico na próxima semana)

Tiago Petinga / Lusa

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, primeiro-ministro, António Costa, no início da XXV Sessão de apresentação sobre a “Situação Epidemiológica da Covid-19 em Portugal” no Infarmed

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, primeiro-ministro, António Costa

Políticos e especialistas de saúde pública voltaram a reunir-se na sede do Infarmed para avaliar a evolução da pandemia de covid-19 em Portugal. O pico de casos de covid-19 é esperado na segunda semana de janeiro.

Pedro Pinto Leite, da Direção-Geral da Saúde (DGS), foi o primeiro a apresentar os dados sobre a situação epidemiológica no país, adiantando, e sem surpresas, que se estão a registar “valores históricos” de novos casos de covid-19.

A incidência a 14 dias é de 2.007 casos por 100 mil habitantes, um valor que tem registado uma “tendência fortemente crescente” em todas as regiões e grupos etários, tendo sido maior nos mais jovens.

Apesar da má notícia, o especialista revelou a boa no final da sua intervenção: a taxa de mortalidade encontra-se nos 19 óbitos por milhão de habitantes nos últimos 14 dias, “abaixo do valor de referência”.

A mortalidade por covid-19 está “estável, diria decrescente“, situando-se ainda num cenário de mortalidade “moderada”.

“O risco de morte é substancialmente inferior nos indivíduos com esquema vacinal completo”, destacou. Desta forma, antes da vacina, 27% dos casos na faixa etária superior aos 80 anos resultavam em morte. Com a vacinação, a percentagem reduziu para 8%-9%, e com o reforço baixou para cerca de 5%.

Ómicron. Anúncio do fim da pandemia é “exagerado”

João Paulo Gomes, do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), anunciou que a Ómicron domina já “o cenário epidemiológico em muitos países” (mais de 90, de acordo com a OMS), sendo que, à data de ontem, cerca de 90% dos casos em Portugal são desta variante.

A grande disseminação da Ómicron ocorreu na faixa etária dos 20 aos 29 anos e a maior transmissibilidade parece estar relacionada com a capacidade de infeção das vias respiratórias superiores. Isto significa que a Ómicron afeta os pulmões em menor escala, se comparada com a variante Delta.

Já Ana Paula Rodrigues, do INSA, referiu que a eficácia da vacina face à nova variante Ómicron é “mais baixa do que aquela que foi estimada para a Delta”, mas após o reforço “há um aumento” na ordem dos 80%, que varia em função da idade.

Em outubro, 86% da população tinha anticorpos contra a covid-19, em grande parte devido à vacinação. A população está mais protegida contra internamentos, ainda que o grupo etário dos 50 aos 59 anos deva ter cuidados redobrados (uma vez que ainda não tem o reforço).

Baltazar Nunes, também do INSA, alertou que, apesar de não se verificar um aumento dos internamentos em Unidades de Cuidados Intensivos (UCI), é preciso ir vigiando a situação.

Já o pico de infeções de covid-19 é esperado na segunda semana de janeiro: deverão ser atingidos valores diários entre 42 mil e 130 mil casos.

Ainda com base nos cenários realizados pelo Instituto Ricardo Jorge, espera-se que as hospitalizações em enfermaria possam ficar entre as 1.300 e as 3.700 camas na última semana de janeiro ou primeira de fevereiro e as em UCI entre 180 e 450 camas, na primeira ou segunda semana de fevereiro.

Na sua intervenção durante a reunião de avaliação epidemiológica, Henrique Barros, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, sublinhou que há muitas incertezas associadas à Ómicron, pelo que “o anúncio do fim da pandemia pode ser ainda bastante exagerado“.

Recomendações dos especialistas

Raquel Duarte, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, apresentou algumas sugestões para o combate à pandemia, salientando que a vacinação, o controlo das fronteiras, o controlo da qualidade do ar e a atenção às populações mais vulneráveis são recomendações que se mantêm.

Ainda assim, Portugal encontra-se numa fase em que se deve dar mais importância à autonomia da população. O apelo ao uso de máscara e outras medidas de segurança mantém-se, privilegiando agora a autoavaliação do risco.

Neste sentido, a especialista salientou a necessidade de tornar os autotestes acessíveis e gratuitos, válidos para certificado com o acompanhamento de um profissional de saúde a monitorizar (mesmo que remotamente).

Ainda que considere ser necessária intervenção das equipas de saúde pública no corte das cadeias de transmissão, Raquel Duarte afirmou que é preciso retirar a sobrecarga de trabalho nessas equipas, facilitando os inquéritos epidemiológicos por via digital.

Foi proposta também uma redução das medidas restritivas, mas com adoção de medidas gerais de combate à pandemia.

O uso dos certificados digitais, testes frequentes ou a proibição de consumo de bebidas alcoólicas na via pública configuram nas recomendações dos peritos, que salvaguardam que, em caso de situação de alerta, medidas como o teletrabalho, intensificação de testes limitação da lotação na restauração e nos eventos públicos devem entrar em vigor.

Desta forma, a proposta da equipa de Raquel Duarte é que seja introduzido um novo sinal de alerta se a ocupação de UCI chegar a 70% do nível de alerta (179 camas ocupadas ao longo de cinco dias) e o R(t) se mantiver acima de 1.

Liliana Malainho, ZAP //

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