“Teatro político” entre Chega e Santos Silva é “artificial e cheio de cinismo”

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Mário Cruz / Lusa

Luís Marques Mendes

Luís Marques Mendes classificou como “teatro político” o confronto entre Chega e o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, indicando que se trata de um “conflito só interessa mesmo à bolha política e mediática”, “artificial” e “cheio de cinismo” e que “nada diz ao povo”.

Para o comentador, há quem beneficie destas “manobras”:  o Governo estará a lucrar já que, “enquanto se discute o ‘sexo’ dos anjos, tenta desviar as atenções dos problemas reais do país – os problemas da saúde e da inflação, por exemplo”.

No seu comentário habitual de domingo à noite, na SIC, indicou que também o Chega lucra porque “mostra que faz muita oposição”, considerando, contudo, que o que faz é “má oposição”. O ataque do Chega aos imigrantes, continuou, “é o maior disparate e a maior injustiça do mundo”.

Indicando que Portugal precisa de imigrantes devido à falta de mão-de-obra e para reforço da Segurança Social, referiu que “temos comunidades de imigrantes que são absolutamente exemplares” e “notáveis em termos de integração”.

Marques Mendes, que já tinha admitido que é “muito provável” que o Governo faça um apoio intercalar ou antecipado das pensões de reforma, “não deixando tudo para 2023”, voltou esta semana a referir a “folga” do Executivo para apoios sociais às famílias mais pobres, às empresas e aos pensionistas.

“Espero que o Governo prepare um um pacote verdadeiramente robusto para setembro (…). É socialmente indispensável”, disse, antecipando que o défice pode ficar abaixo do previsto nos 1,2% e 1,4% do PIB e a dívida pública abaixo dos 120%.

Na sua opinião, o Estado está a ganhar com a inflação. Segundo as suas contas, a receita do IVA está a crescer 26,9%, quando o Governo previa para este ano um crescimento de 10,7%; na receita do IRS até junho, o crescimento é de 12,3% – o Governo previa 4,7%; e na receita global, as previsões eram de 6,7% mas está nos 29,7%. São “mais de 4 mil milhões de Euros de receita cobrada”, apontou.

Sobre as declarações do presidente da Endesa, Nuno Ribeiro da Silva, que avançou possíveis aumentos de 40% na fatura de eletricidade, Marques Mendes declarou que “se isso suceder é uma calamidade”.

Em relação à eventual taxação dos lucros extraordinários à banca e à energia, o comentador considerou que a ideia, embora sedutora, “é um bocadinho populista: os ricos que paguem a crise” e “completamente contraproducente”.

“Se as empresas têm mais lucros, ainda bem, porque pagam mais impostos ao Estado e têm mais condições para fazerem novos investimentos, gerando mais riqueza e mais emprego”, mas, por outro lado, no caso de essas empresas virem a ter prejuízos, “será que, mantendo a coerência, o Estado lhes vai dar um subsídio ou uma compensação? Claro que não”, apontou Luís Marques Mendes.

E, por fim, “Portugal já tem a segunda taxa mais alta de IRC na UE (a seguir a Malta). Os nossos principais concorrentes na atração de investimento têm taxas mais baixas. Se agravarmos ainda mais o IRC, damos um sinal errado aos investidores”.

Por isso, concluiu: “a solução não é lançar novos impostos. A solução é levar as empresas, designadamente as de energia, a reinvestirem os lucros extraordinários que têm em vez de distribuírem dividendos pelos acionistas”.

Quanto à segurança, acredita que o problema é o mesmo da saúde, da justiça ou da educação – a “má organização. “Temos recursos, mas estão mal distribuídos” comentou, deixando o desafio ao Ministério da Administração Interna (MAI): “colocar mais polícias na rua e pôr funcionários civis a fazer trabalhos administrativos”.

Com um rácio de 443 polícias por 100 mil habitantes, o comentador afirmou que “estamos muito melhor que países como a Itália, Espanha, França e Alemanha. E muito acima da média europeia” e que, no conjunto dos 27, “só três países têm um rácio melhor – Chipre, Grécia e Croácia.

Relativamente ao caso de pedofilia na igreja, Marques Mendes acredita que “quem toma a iniciativa de falar com a vítima é alguém que não tem nada a esconder”, neste caso D. Manuel Clemente, que conversou com a vítima para esclarecer o caso. “A igreja tem o dever de informar, de explicar e esclarecer”, notou.

No entanto, há “uma situação inaceitável: um padre abusou sexualmente de uma criança, não foi investigado e fica impune porque não foi denunciado às autoridades”.

“Esta situação é grave. Mas a culpa é bem conhecida. A culpa é das regras erradas e injustas que a Igreja teve até 2020. Até há dois anos, um caso de abuso sexual não era denunciado às autoridades (…) Ainda bem que o Papa Francisco teve a coragem de mudar as regras”, disse o comentador.

José Policarpo, em 1999, ao saber do caso, “devia tê-lo denunciado aos tribunais. Era nesse momento e não em 2019 que a denúncia devia ter sido feita. E devia ter colocado fora da Igreja o padre abusador. Um padre que abusa sexualmente de uma criança não merece ser padre”, continuou Marques Mendes.

“A missão da Igreja é proteger as crianças e não violentá-las. E há um abusador que devia ser investigado, mas que “se safa” só porque é padre. É por estas razões que muitos cidadãos perdem a fé e se indignam com a Igreja Católica”, concluiu.

Taísa Pagno , ZAP //

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