O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, anunciou hoje que a Ucrânia se comprometeu a iniciar um processo de reforma da Constituição que inclua as exigências e aspirações de todos os cidadãos do país.
John Kerry falava à imprensa em Genebra, após a maratona de conversações com os ministros dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, e ucraniano, Andrii Dechtchitsa, e a alta representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Catherine Ashton, para tentar encontrar uma solução para a crise na Ucrânia.
“A Ucrânia vai iniciar um processo de reforma constitucional inclusivo, transparente e claro, que abra o diálogo a toda a população e que permita ter em conta as aspirações de todos os cidadãos do país”, disse Kerry, numa conferência de imprensa conjunta com Catherine Ashton.
Para ambos, este compromisso ucraniano deita por terra os argumentos apresentados pelo Kremlin para justificar os atos dos ativistas pró-russos que ocuparam edifícios públicos e se apoderaram de blindados ucranianos.
“Espero que a Rússia tenha entendido que o processo de reforma constitucional é suficiente e que, por isso, deixem de apoiar as milícias pró-russas. Não devem ocorrer mais incidentes deste tipo”, advertiu o chefe da diplomacia norte-americano.
O compromisso de reforma constitucional faz parte de um acordo mais amplo em que se comprometeram hoje todas as partes, pelo qual se deve “restaurar a segurança no país, o que implica que a Rússia deve mostrar a sua seriedade” em relação ao mesmo, retirando o apoio aos cidadãos separatistas pró-russos que ocupam edifícios públicos, sublinhou.
Acordo
“Todas as partes devem evitar o uso da violência e a intimidação”, acrescentou.
O acordo passa pelo desarmamento de todos os grupos ilegais na Ucrânia e pela amnistia daqueles que participaram nos confrontos registados no leste do país, sem cometerem crimes capitais.
Acordou-se também que todos os edifícios públicos tomados por grupos armados em diversas localidades do leste da Ucrânia devem ser devolvidos às autoridades legítimas.
O cumprimento do acordo será verificado no terreno por uma missão de observadores da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) que já se encontra na Ucrânia e que deverá deslocar-se o mais rapidamente possível ao leste do país.
Kerry disse esperar que os primeiros resultados sejam visíveis o mais cedo possível.
“Os próximos dias são muito importantes. Se não virmos passos na direção correta, então, deveremos implementar mais sanções” contra a Rússia, frisou.
No entanto, o secretário de Estado norte-americano mostrou-se aberto a fazer o contrário, ou seja, a rever a imposição de sanções, em caso de a situação acalmar.
“O acordado hoje aqui não deve ficar-se pelas palavras, deve concretizar-se em ações concretas e imediatas”, defendeu.
Inquirido sobre se pediu à Rússia que desmobilize os 40.000 soldados que, segundo a NATO, tem estacionados na fronteira com a Ucrânia, Kerry simplesmente respondeu que isso é uma coisa que deverá acontecer à medida que se restabelece a calma no país.
Em relação à península ucraniana da Crimeia, que foi anexada pela Rússia, após um referendo realizado na região e declarado ilegal e ilegítimo pelo Governo ucraniano e pelo Ocidente, o responsável norte-americano observou: “Não a damos por perdida”.
“O que aconteceu na Crimeia violou a Constituição ucraniana e a lei internacional. A Crimeia continua a ser ucraniana e recordo que acabámos de impor sanções pela sua anexação ilegal pela Rússia”, concluiu.
John Kerry relatou ainda que, numa cidade ucraniana, estão a ser enviados avisos aos judeus para que estes passem a identificar-se como judeus, o que condenou, classificando tal atitude como “grotesca”.
“No ano de 2014, depois de todo o caminho percorrido e toda a jornada da história, isto não é apenas intolerável, é grotesco. É para lá de inaceitável”, sustentou.
/Lusa
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