Especialistas, dirigentes dos partidos políticos e parceiros sociais voltaram esta quinta-feira a reunir-se para analisar a situação epidemiológica da covid-19, em vésperas de nova renovação do estado de emergência e da decisão sobre as medidas para o Natal.
Esta sessão de apresentação sobre a situação epidemiológica da covid-19 em Portugal decorre durante a manhã, no local em que será apresentado o plano de vacinação. O plano será apresentado esta quinta-feira às 15h30.
No início da reunião, a ministra da Saúde, Marta Temido, fez uma síntese das intervenções das manhã, divididas em duas partes: a análise da situação epidemiológica atual e uma segunda parte dedicada à vacinação, considerando o que são as “incertezas” neste processo.
André Peralta Santos, da Direção-Geral da Saúde (DGS), começou a primeira intervenção da manhã com “uma boa notícia”. Portugal “atingiu o pico de incidência máxima no dia 25″ de novembro, de acordo com o especialista, que sublinhou ainda que os mapas apresentados indicam uma tendência decrescente na incidência de casos por município.
Segundo o especialista, o Norte está a descer, a Região de Lisboa e Vale do Tejo e Centro também têm tendência de descida e no Alentejo está a subir.
Quanto à incidência da doença nos grupos etários, André Paralta Santos disse que há “uma boa notícia” que é que “o grupo de 60-70 e 70-80 está relativamente protegido em relação a outros grupos etários”. Já o grupo mais de 80 “tem ainda uma incidência mais alta”, uma vez que as pessoas são mais dependentes.
O especialista explicou que o “contexto familiar” tem “preponderância elevada” de origem de contágio. A DGS continua sem ter informação sobre como ocorreram contágios em 77% dos casos.
Relativamente à taxa de mortalidade a 14 dias, André Paralta Santos disse que “parece estar a esboçar-se um pico e que, o que seria de esperar era que o pico da mortalidade fosse depois do pico das hospitalizações”, mas “é necessário interpretar com alguma cautela e esperar pela evolução dos próximos dias”.
Segundo Baltazar Nunes, do Instituto Ricardo Jorge, a transmissibilidade tem “vindo a crescer de forma sustentada desde meados de outubro”. Atualmente, a média do R(t) para os últimos 15 dias está abaixo de 1 – 0,99. O pico foi do R foi a 6 de novembro.
No Norte, o R(t) está a 0,96, no Centro 1,05, Lisboa e Vale do Tejo está “em estabilização ou em decréscimo” nos 1,00, no Alentejo, o R(t) está nos 1,12 e no Algarve com 1,08. Nos Açores o R(t) está nos 1,1 e está a “crescer há 36 dias” e na Madeira está nos 1,05.
Manuel do Carmo Gomes, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, afirmou que “o pico ocorreu mais cedo, entre 18 e 21 de novembro”. Isso significa que o “pico dos contágio terá ocorrido cinco dias mais cedo, entre 12 e 15 de novembro, que ocorre pouco depois das medidas do Governo”, pelo que o especialista conclui que as “medidas do Governo surtiram efeito”.
Segundo Carla Nunes, da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade de Lisboa, os comportamentos em relação às regras de proteção “estão um pouco mais concordantes com as medidas propostas”. Porém, há “valores elevados” de incumprimento.
Quanto à perceção da adequação das medidas implementadas pelo Governo no combate à covid-19 “piorou ao longo da pandemia” e ”50% acha pouco ou nada adequadas as medidas”.
Incidência “muito elevada” nos idosos no Norte
Óscar Felgueiras, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, disse que há “um abrandamento de crescimento generalizado”. A fase de maior incidência terá sido na primeira semana de novembro. Depois disto, “há uma descida marcada”.
Nos mais idosos, o pico foi mais tarde e isso prolonga o recurso aos hospitais, o que faz com que os efeitos desta descida não sejam perceptíveis de imediato, segundo o especialista.
A primeira faixa a atingir o pico foi a dos 20 aos 29 anos. Com menor incidência é a dos 70 aos 79 anos e a dos acima dos 80 anos “está com incidência muito elevada”.
No Vale Sousa Norte, um dos mais afetados no início da segunda vaga, Óscar Felgueiras disse que, no final de outubro, estava com incidência de 2.734 casos, depois ultrapassou os três mil casos em novembro e “a partir daí começou a descer. Agora, no dia 28 de novembro, atingiu-se o patamar inicial. Demorou cerca de um mês e uma semana a fazer-se este regresso ao patamar inicial em que foram tomadas as medidas”, explicou.
O especialista concluiu ainda que “se um concelho tem incidência antes do seu vizinho, então no pico o mais provável é esse concelho ter maior incidência do que o seu vizinho”.
“A vacina não cria imunidade igual para todos”
João Gonçalves, da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, explicou que é preciso “criar memória” imunológica para que a imunidade seja a longo prazo.
O especialista disse que “os doentes moderados e graves apresentam normalmente uma resposta imunitária mais forte”. No caso dos assintomáticos, “não desenvolveram anti-corpos” que permitam uma proteção a longo prazo.
Sobre se a imunidade é a mesma para todas as idades, o especialista afirmou que, no caso da gripe, “as pessoas com mais de 50 anos têm menos de capacidade de resposta às vacinas”. A imunidade dos idosos é fraca e “parece ser semelhante aos doentes graves covid-19″.
João Gonçalves avisou que “a vacina não cria imunidade igual para todas as pessoas”.
O especialista explicou ainda que “todas as vacinas têm reações adversas” e explica que se houver “dores de cabeça” ou outros sintomas é bom porque significa que está a atuar no sistema imunitário. “Não tenham medo dos efeitos adversos da vacina”, apelou.
Fátima Ventura, do Infarmed, disse que há neste momento 274 vacinas para a covid-19 em desenvolvimento, de 9 tipos diferente. Há 59 ensaios clínicos a decorrer e 11 que já chegaram à fase 3.
Apenas seis vacinas estão “contratualizadas numa aquisição conjunta pela UE e a que os portugueses terão acesso nos próximos meses”, segundo a especialista.
ZAP // Lusa
Coronavírus / Covid-19
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