Marcelo/Costa: a relação “azedou”

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O primeiro-ministro, António Costa, acompanhado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa

Entre avisos dos dois lados e um ministro vetado, com provocações pelo meio, o cenário mudou ao longo de 2022.

“É uma guerra localizada. Nunca se vai tornar numa guerra global, porque o primeiro-ministro é suficientemente inteligente para saber que não ganharia com isso”, analisa uma pessoa próxima do presidente da República, ao jornal Observador.

No entanto, sublinha o jornal, a relação entre Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa já não é o que era. Os sorrisos e os consensos constantes ao longo dos seis anos anteriores transformaram-se numa relação “azeda”.

Ainda durante a campanha eleitoral, para as legislativas de Janeiro deste ano, o primeiro-ministro falou sobre o presidente: “Alguém acredita que, com Marcelo Rebelo de Sousa, poderíamos ter uma maioria absoluta que pisasse o risco?”. Ou seja, estava a convidar os portugueses a votar no Partido Socialista porque, mesmo com a maioria absoluta, os mesmos portugueses confiam na postura e nas decisões de Marcelo.

O PS conseguiu mesmo a maioria absoluta e, logo na noite da vitória, Costa voltou a destacar a boa relação com Marcelo, mas também disse: “Quanto ao senhor Presidente da República, o que esperamos todos é que continue a exercer o seu mandato presidencial e as suas competências próprias nos termos da Constituição, como tem habituado os portugueses a fazer. Não havemos de esperar outra coisa, com certeza”.

Já na semana passada, durante a cerimónia de tomada de posse, foi a vez de o presidente da República deixar avisos. Vai estar atento, a vigiar “distracções e adiamentos quanto ao essencial, auto-contemplações, deslumbramentos, tentando evitá-los para não ter de intervir a posteriori”.

No dia seguinte apareceu em cena Carlos César, presidente do PS, que lembrou que é a Assembleia da República que fiscaliza o Executivo: “O primeiro-ministro é refém dos compromissos que assumiu e que serão reafirmados no Programa do Governo que será submetido ao órgão de soberania a quem incumbe a fiscalização política da atividade governativa — a Assembleia da República“. Marcelo reagiu: “O primeiro-ministro é refém do povo, não foi um ultimato do Presidente”.

Voltando ao dia da tomada de posse, a possibilidade de António Costa deixar o país a meio desta legislatura, para assumir um cargo em Bruxelas, foi abordada por Marcelo: “Agora que ganhou por quatro anos e meio, Vossa Excelência sabe que não será politicamente fácil que a cara que venceu de forma incontestável e notável possa ser substituída por outra a meio do caminho”. E ficou uma ideia clara: se o primeiro-ministro sair mesmo, o presidente assume uma “posição arriscada”, dissolve a Assembleia e teremos novamente eleições antecipadas.

O discurso de António Costa na tomada de posse, como habitualmente, estava escrito. Mas houve uns segundos que foram ditos de improviso (ou não), quando o primeiro-ministro lembrou Cavaco Silva sem dizer o nome da figura do PSD: “Faço parte de uma geração que se bateu contra uma maioria existente, que tantas vezes se confundiu com um poder absoluto”. Marcelo Rebelo de Sousa havia dito, poucos minutos antes: “Os portugueses deram maioria absoluta; não deram, nem poder absoluto, nem ditadura de maioria”.

Antes surgiu o caso João Gomes Cravinho. A ideia de António Costa seria manter Cravinho como ministro da Defesa mas Marcelo Rebelo de Sousa avisou que não aceitaria essa continuidade. João Gomes Cravinho é o novo ministro dos Negócios Estrangeiros.

Em relação aos outros ministros do novo Executivo, nova confusão: aparentemente, o presidente da República só soube dos outros nomes através das notícias, porque nunca mais foi sondado pelo primeiro-ministro sobre o assunto. Aliás, foi isso que originou o cancelamento do encontro entre ambos, no dia da confirmação da nova composição o Governo. Uma fuga de informação que irritou os dois responsáveis.

Ainda nessa semana, novo “recado” por parte de Marcelo Rebelo de Sousa. Também por causa do novo Governo: “Eu não sou primeiro-ministro, sou Presidente da República, portanto, não sou eu que tenho de formar o Governo. Como primeiro-ministro, formaria certamente um governo noutra área política e com outras pessoas, mas não existe esse filme”.

Um filme que terá muitas cenas, aparentemente.

ZAP //

12 Comments

  1. Marcelo pensa que ainda é comentador da tv… abre a boca por tudo e por nada, mas mais por nada… mas tem em António Costa um discípulo à altura… depois de saber que Marcelo não queria Cravinho…. o Governo apareceu na comunicação social… antes de Marcelo dar a notícia…. Costa não precisa de Marcelo, e Marcelo para ser visto, vai ter de andar em bicos de pés… com o Moedas atrás, como cópia daquele casal dos Marretas.

    • De facto é preferível que Marcelo atue mais e comente menos, chega de andar com o governo nas palminhas da mão, jamais aconteceria se os lugares fossem o inverso!

  2. O comentador não gostou que o meia leca se tivesse antecipada a dar a notícia aos órgãos de comuniação social.

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