O ministro das Finanças irritou-se em certas alturas, mas conseguiu passar o teste da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à gestão política da TAP, protegendo-se a si próprio e ao Governo, sem deixar cair João Galamba e Pedro Nuno Santos – mas deixando várias dúvidas no ar.
A ida de Fernando Medina à CPI à gestão política da TAP era muito esperada e admitia-se que podia pôr em xeque o ministro das Finanças, o que seria um duro golpe para um Governo socialista já debilitado pela sucessão de casos e casinhos. Mas Medina conseguiu passar o teste – embora não com distinção.
Em mais de seis horas e meia de audição, o ministro foi-se irritando e revelou vários lapsos de memória, respondendo a perguntas mais incómodas com frases como “Não lhe consigo precisar”, ou “Não lhe posso responder com rigor a essa questão”.
Uma postura de auto-protecção, onde foi defendendo a sua actuação, nomeadamente na questão do despedimento da ex-CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener.
Medina acabou a desmentir a gestora francesa, garantindo que esta foi informada do despedimento com justa causa numa reunião a um domingo, a 5 de Março passado.
Pelo meio, o ministro mostrou confiança plena no relatório da Inspecção-Geral de Finanças (IGF) que é “muito mais sólido do que qualquer parecer jurídico”, como garantiu aos deputados. Medina também assumiu que este relatório é “a base única” para o despedimento. “Não há necessidade de nenhum parecer adicional”, reforçou.
Ficam, contudo, as dúvidas quanto ao que os tribunais vão concluir. Em causa está uma eventual indemnização a pagar pelo Estado português à ex-CEO da TAP.
Ninguém teve más intenções
A indemnização a Alexandra Reis de 500 mil euros brutos no âmbito da sua saída da TAP, foi outro ponto fundamental da audição a Medina. O ministro deixou clara a ideia de que ninguém teve más intenções neste processo, nem Christine, nem Pedro Nuno Santos.
“Tenho a convicção profunda de que todos os envolvidos no processo agiram na convicção de que o estavam a fazer no cumprimento da lei“, reforçou. Mas “infelizmente não estavam”, concluiu.
Medina também foi garantindo que não soube nada da indemnização paga a Alexandra Reis antes de o assunto ter chegado à comunicação social.
A “informação que tinha era muito difusa”, foi dizendo, assumindo, contudo, que conhecia as divergências entre Alexandra Reis e Christine Ourmières-Widener, o motivo que levou a CEO da TAP a despedir a administradora.
Tanto na questão da indemnização como na do despedimento da ex-CEO, Medina não deixou certezas absolutas. Mas fez questão de defender o Governo, nomeadamente não deixando cair João Galamba e protegendo Pedro Nuno Santos, o ex-ministro que se afigura como o principal candidato a próximo líder do PS.
De resto, foi a defesa da actuação de Galamba, na polémica com a chamada do SIS no âmbito da altercação com o seu ex-adjunto no ministério das Infraestruturas, que motivou o momento mais tenso da audição a Medina que se irritou com acusações do PSD.
Um deputado social-democrata acusou o Governo de usar os serviços secretos como “arma” de intimidação. “Isso é falso”, respondeu um Medina bastante zangado numa das poucas certezas absolutas que revelou durante a audição.