As longas e frias noites da Suécia podem desencorajá-lo a ir para lá no inverno, a menos que esteja à procura daquele luxo evasivo do século XXI: uma boa noite de sono.
Svartsö é uma das poucas ilhas do arquipélago de Estocolmo onde os alojamentos permanecem abertos no inverno. Os quartos são a simplicidade sueca na sua forma mais minimalista: uma cama, uma cadeira e uma mesa de cabeceira. Sem televisão e sem muito mais para distrair da tranquilidade imaculada do meio envolvente.
Numa era de conectividade implacável, dormir tornou-se o luxo supremo e gerou uma nova tendência de viagens: o turismo do sono, onde os viajantes privados de sono escolhem o seu hotel com base no menu de almofadas ou reservam refúgios para dormir longe de tudo, com atividades personalizadas que induzem o sono.
A Suécia, no entanto, tem uma abordagem diferente e mais natural ao turismo do sono, inspirada na paisagem e num estilo de vida mais tradicional. Frequentemente associada a cidades movimentadas e conectadas como Estocolmo e Gotemburgo, no inverno a Suécia abraça o seu lado sonolento e convida os visitantes a fazer o mesmo.
“A abundância de natureza acessível e grandes áreas de natureza selvagem tranquila, combinadas com noites escuras, temperaturas amenas e uma ênfase cultural no relaxamento, fazem da Suécia um local ideal para o turismo do sono“, explica Christian Benedict, investigador do sono na Universidade de Uppsala, na Suécia. “Os estudos mostram que a tecnologia e a forma como esta interfere com as nossas vidas têm um efeito significativo no nosso sono, e passar mais tempo na natureza está ligado a uma melhor saúde mental e a menos noites sem dormir.”
O arquipélago de Estocolmo é um paraíso para os amantes da natureza com mais de 30 000 ilhas, muitas delas desabitadas. Svartsö é uma das maiores ilhas, mas tem apenas cerca de 65 habitantes durante todo o ano.
Nos meses de inverno, o Skärgårdshotell é o único alojamento aberto, e os seus acolhedores chalés na floresta, afastados do edifício principal, na sua própria área arborizada e tranquila, oferecem o tipo de paz e tranquilidade que se procura, sem me deixar completamente sozinho na natureza.
Na ilha, no inverno, há pouco para fazer para além de caminhar, ler e observar os ritmos do dia de uma forma que não é possível quando se está rodeado pelas luzes brilhantes de uma cidade.
Svartsö significa literalmente “a ilha negra“, referindo-se ao leito rochoso de granito escuro, embora no inverno o nome possa simplesmente referir-se ao céu escuro, completamente livre do brilho da cidade. A escuridão, há muito vista como uma metáfora do medo e da depressão, é acolhida nestas regiões nórdicas. Mais a norte, no Círculo Polar Ártico, onde a noite polar cobre a terra de escuridão durante meses, longe de ficarem em casa, os habitantes locais colocam lanternas de cabeça e exploram trilhos nevados.
A sauna do hotel está discretamente aninhada entre as árvores e o dia acaba no clássico estilo escandinavo, suando-se todas as preocupações que poderiam manter os turistas acordados, seguido-se um revigorante mergulho no mar.
“Tradicionalmente, nos meses mais escuros, o fogo era importante para o calor e a luz, mas também como parte do ritual noturno”, conta uma mulher chamada Marie. “Depois do jantar, as pessoas aconchegavam-se à volta da fogueira e permitiam que o brilho das chamas aliviasse todo o stress de um dia de trabalho.”
É fácil pensar na privação de sono como um problema do século XXI, mas a lenda sueca da Mara mostra que é tão antiga como a floresta. Um estranho ser mítico que, segundo se dizia, torturava as pessoas durante o sono, provocando medo e aperto no peito, repleto de ansiedade. Mara deu origem à palavra “nightmare” (pesadelo). Mas, nos tempos modernos, as distrações tecnológicas substituíram as criaturas míticas, à medida que cada vez mais pessoas se esforçam por dormir.
“A Suécia é uma das sociedades mais digitalizadas da Europa e foi uma das primeiras a adotar a digitalização”, explica Thérèse Cedercreutz, diretora comercial do Scandic Hotels Group, também da Suécia. “O nosso interesse pelo sono, e especialmente pela falta dele, pode ser atribuído a isso e a uma maior consciencialização do seu impacto na nossa saúde, que procuramos combater com uma série de medidas. Temos quartos com blackout, playlists que induzem o sono e zonas de bem-estar onde os telemóveis são proibidos. Se os nossos clientes não dormem, o nosso negócio e a sua saúde sofrem.”
Em todo o mundo, outros hotéis, tanto urbanos como remotos, estão a ir ainda mais além.
O Cadogan Hotel, em Londres, oferece o seu próprio serviço de Sleep Concierge, desenvolvido em parceria com o hipnoterapeuta e especialista do sono Malminder Gill, que oferece um programa de meditação guiada para o sono. O Mandarin Oriental Geneva oferece um pacote de três dias, com uma clínica privada do sono, que envolve o estudo dos padrões de sono dos hóspedes e a criação de programas de sono individuais. Na Tailândia, no meio da vegetação tropical da Costa Real, o naturopata residente do resort Civa-Som Hua Hin irá orientá-lo sobre tudo, desde a dieta até às hormonas que podem estar a afetar os ritmos circadianos. Já o Carillon Miami Wellness Resort utiliza tecnologias eletromagnéticas e infravermelhas para ajudar os hóspedes a dormir.
“Os nossos clientes vinham ter connosco a dizer que se sentiam esgotados, e isso muitas vezes parecia dever-se à falta de sono”, diz Stella Photi, fundadora da empresa de viagens Wellbeing Escapes. “Tentamos incorporar elementos das culturas locais nos nossos programas de sono. Em países budistas como a Tailândia ou o Sri Lanka, oferecemos meditação e mindfulness. Na Índia, os tratamentos ayurvédicos utilizam ervas de origem local; e em Itália, as caminhadas guiadas por vinhas fazem parte de um programa de atividades que promove o sono.”
Na Suécia, no entanto, é a experiência de estar na natureza que constitui a base do turismo do sono. “O lema da natureza é manter a simplicidade“, diz Jennie Walker, fundadora da Walkers Naturturer, uma empresa de guias de natureza no arquipélago da costa oeste da Suécia. “No inverno, nos afloramentos áridos que caracterizam o arquipélago de Gotemburgo, há pouca vegetação, e as bétulas e os pinheiros afastam-se dos fortes ventos de oeste. Um passeio pelos campos de rochas num dia de inverno, talvez encontrando uma foca-comum a apanhar sol num dos recifes, é a preparação perfeita para uma boa noite de sono.”
E enquanto os retiros de sono tradicionais se concentram em relaxar antes de dormir, na Suécia o foco no sono começa ao amanhecer, com a possibilidade de praticar atividades que induzam o sono, como caminhadas, caiaque e banhos de floresta.
“Os retiros de sono não ajudam as pessoas a dormir apenas durante as férias”, diz Photi. “O objetivo é permitir uma abordagem relaxante, holística e pessoal que lhe proporcionará novos hábitos de sono e vigília, com o objetivo de promover mudanças duradouras.”
ZAP // BBC