“Lamento muito”: indemnização a Alexandra Reis correu mal

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Miguel A. Lopes / LUSA

Pedro Nuno Santos durante audição no Parlamento

Antigo Ministro das Infraestruturas ouvido no Parlamento, numa audição “mais difícil” do que a anterior, com assuntos “desconfortáveis”.

O ex-ministro Pedro Nuno Santos assumiu esta quinta-feira que a indemnização a Alexandra Reis foi um processo “que objetivamente correu mal”, apesar de ter representado menos de 1% do trabalho que o ministério teve na TAP.

Na intervenção inicial na audição que decorre esta tarde na comissão parlamentar de inquérito à TAP, Pedro Nuno Santos começou por referir que esta audição é “mais difícil” do que a da semana passada na comissão de economia e com “temas desconfortáveis”, mas sublinhou a importância de ter a oportunidade de poder falar e se poder defender depois destes meses de silêncio.

“A indemnização a Alexandra Reis é menos de 1% do trabalho que tivemos na TAP, é menos de 0,1% do trabalho que tivemos no ministério, mas foi um processo que objetivamente correu mal”, assumiu.

O ex-ministro admitiu que o valor da indemnização paga a Alexandra Reis “é alto em qualquer país do mundo” e em “Portugal ainda mais”.

“Mas numa empresa onde os salários dos administradores são altos, onde temos trabalhadores que também ganham muito, alguns mais do que vogais do Conselho de Administração e, por isso, a indemnização – sendo um valor alto – é conducente com os salários pagos naquela empresa, tal como na Caixa Geral de Depósitos, quando pagaram um milhão de euros a um ex-administrador e 750 mil euros a outro”, sublinhou.

“Lamento muito”

Quando respondia a questões do deputado da IL Bernardo Blanco, sobre um ‘email’ enviado por Alexandra Reis a colocar o cargo à disposição, anterior à saída com a indemnização de 500 mil euros, e ao qual Pedro Nuno Santos não respondeu, o ex-ministro disse lamentar o que aconteceu à ex-administradora.

“A engenheira Alexandra Reis era um quadro da TAP competentíssimo, altamente competente, inteligente, trabalhadora, lamento muito isto que lhe aconteceu e espero que consiga refazer-se rapidamente, porque será útil a quem quiser trabalhar com ela”, afirmou o ex-ministro que se demitiu na sequência da polémica indemnização.

Pedro Nuno Santos defendeu que aquele ‘email’ nada tem a ver com a saída de Alexandra Reis.

“Infelizmente, há de haver mais ‘emails’ aos quais não respondi. […] A questão para mim estava resolvida, a engenheira Alexandra Reis põe o lugar à disposição, no mesmo ‘email’ diz que quer continuar, nós não tínhamos nenhuma razão para a substituir e não partiu de nós a iniciativa de substituição”, afirmou.

O ex-governante reiterou que Alexandra Reis saiu da TAP, não por estar de mal com o acionista (Estado) ou por ser incompetente, mas porque a então presidente executiva, Christine Ourmières-Widener, queria alterar a sua equipa, que só tinha um elemento escolhido por si, e entendia que aquela administradora não tinha lugar na nova configuração.

Pedro Nuno Santos disse ainda que a autorização a Ourmières-Widener para avançar com a substituição foi dada por si, numa reunião a sós com a ex-CEO, em 04 de janeiro de 2022, e que o primeiro comunicado de demissão do Governo foi feito com a memória daquele momento.

“Logo que identifiquei a mensagem [a dar anuência ao valor de 500.000 euros], eu tornei-a pública”, acrescentou.

Já sobre a participação do ex-secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Mendes, na reunião com a TAP em que foi preparada a resposta ao despacho ministerial para perceber a questão da saída da ex-administradora, Pedro Nuno Santos disse apenas ter tido conhecimento pela comunicação social.

Sem arrastar

Pedro Nuno Santos explico que a sua demissão “não foi pedida por ninguém”, mas que era claro para a sua equipa que não se podia “arrastar no Governo” quando rebentou a polémica da indemnização de Alexandra Reis.

Na intervenção inicial na comissão parlamentar de inquérito à TAP, o antigo ministro das Infraestruturas e da Habitação recordou que a sua demissão “foi apresentada quatro dias depois de a noticia rebentar”, referindo-se à polémica criada em torno da indemnização de 500 mil euros à antiga administradora da TAP Alexandra Reis.

“Estávamos na época natalícia, aquilo ganhou uma centralidade enorme e era para nós claro e para a minha equipa que não nos podíamos arrastar no Governo, por nos próprios e pelo Governo”, referiu, assumindo que foi uma decisão “muito difícil para quem faz política há muitos anos e para quem estava no Governo há muitos anos”.

A demissão, que Pedro Nuno Santos garantiu que “não foi pedida por ninguém”, era essencial para que a sua equipa e o próprio Governo se livrassem “daquilo em que se estava a transformar” aquele processo.

O antigo ministro recordou que houve na prática dois comunicados sobre a sua demissão.

“Há verdades – e eu sei disso – há verdades que são mais inverosímeis que a mentira, mas eu não vou passar a mentir só porque a mentira parece mais credível que a verdade, as coisas são como são”, disse, referindo-se a um segundo comunicado em que assumiu que tinha sido informado do valor da indemnização por mensagem e que tinha dado anuência.

Pedro Nuno Santos sublinhou que, “nas semanas seguintes” à sua demissão, houve “um momento de descompressão e de luto pela decisão” tomada, aproximando-se depois a necessidade de dar um testemunho a Inspeção Geral de Finanças e de “tentar perceber exatamente como tinha acontecido” todo aquele dossiê.

Nenhuma interferência política

Pedro Nuno Santos rejeitou que tenha havido interferência política na TAP, considerando que as audições na comissão de inquérito o comprovam, reiterando que os governantes “não se comportam como gestores”.

“Ao longo destas dezenas de audições, o que se consegue comprovar […] é que não há interferência na gestão corrente da TAP”, afirmou o ex-ministro das Infraestruturas e da Habitação.

Pedro Nuno Santos, que está pela segunda vez no espaço de poucos dias a ser ouvido no parlamento sobre a TAP, apontou uma “exceção que confirma a regra”, em relação à polémica em torno da substituição da frota automóvel da companhia aérea, em que o Governo, “provavelmente errado”, pediu à empresa para pensar numa alternativa, tendo em conta a dimensão política que o caso ganhou.

Eu não percebo de aviação e sabia que no dia em que começasse a dar instruções na gestão da empresa as coisas iam correr mal”, sublinhou o ex-governante, que se demitiu na sequência da polémica indemnização de 500 mil euros paga à ex-administradora da companhia Alexandra Reis.

Pedro Nuno Santos recordou as declarações da ex-presidente executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener, sobre ter sentido pressão política enquanto esteve em funções, mas apontou que a gestora, “em nenhum momento”, se referia a si.

O ex-ministro leu excertos de intervenções passadas no parlamento em que afirmou: “O Estado comporta-se como acionista e os ministros não se comportam como gestores”.

Pedro Nuno Santos assumiu ter responsabilidades na perceção de interferência na empresa, “que não corresponde à realidade”, pela forma como se entregou a este tema e pela defesa da empresa no seu “estilo” e “registo”.

“Entreguei-me de corpo e alma ao dossiê da TAP, […] eu queria que as coisas corressem bem, dei a cara, dei o corpo às balas, entreguei-me pela empresa, mas sabia que a melhor forma para coisas correrem bem era não me meter na gestão”, referiu.

// Lusa

1 Comment

  1. A incompetência deste artista ficou bem cara ao país. Não se esqueçam disso. Em qualquer país onde o povo estivesse minimamente informado, este indivíduo estava morto e enterrado para a política. Em Portugal continua vivo, mesmo depois do estrago provocado na coisa pública.

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