/

Médicos do Sul ameaçam “fechar” Algarve se houver um surto de 100 casos

9

Desde o início da pandemia que o Algarve tem sido uma das regiões do país com menos casos de covid-19. No entanto, uma festa ilegal em Lagos já levou ao registo de 39 casos e levantou preocupações na Ordem dos Médicos do Sul.

Em entrevista ao Diário de Notícias, o presidente da Ordem dos Médicos do Sul, Alexandre Lourenço, alertou que o Algarve não tem condições nem recursos humanos para lidar com eventuais surtos de covid-19.

A Ordem dos Médicos do Sul teme que, com a chegada do verão, o turismo algarvio possa agravar a situação epidemiológica na região, que não teria capacidade de resposta.

Segundo o DN, Alexandre Lourenço considera insuficiente o aumento de vagas para médicos no sul durante o verão e pergunta se “vão ser tomadas medidas excecionais para interromper o turismo no Algarve no meio do verão”.

“O que nós estamos a ver, por exemplo, em Lisboa são múltiplos pequenos surtos, que nos preocupam pela incapacidade de a estrutura fazer aquilo que deve no que respeita a saúde pública (acompanhar todos os contactos e ter uma política eficaz de quarentena). Mas, se isto é difícil em alguns bairros de Lisboa e em população jovem, transpor para o Algarve pode ser mais preocupante“, disse, citado pelo DN.

Alexandre Lourenço compara o Algarve a Pequim, que voltou a tomar medidas para travar um novo surto de covid-19. “Como se viu agora em Pequim, com um surto de 100 casos, eles fecharam novamente a capital da China”, disse.

O presidente da Ordem dos Médicos do Sul afirmou mesmo, ao DN, que o Algarve pode ter de fechar em plena altura de verão. “Se nós de repente tivermos um surto de cem casos em Faro ou em Portimão vamos ter de fechar o Algarve“, rematou.

Com 413 casos desde março, o Algarve é das regiões do país com menos contágio de covid-19. Este mês, uma festa ilegal em Lagos foi vinculada a um surto de 39 casos positivos de covid-19 no Algarve.

O evento foi organizado num clube recreativo de Odiáxere, a cerca de 15 minutos de Lagos, alugado com a justificação de que seria usado para uma festa de aniversário com um grupo de entre 10 a 15 pessoas. A festa decorreu entre as 18h e as 20h, até que foi interrompida pela GNR, chamada ao local devido a várias queixas. Estiveram presentes neste evento cerca de 100 pessoas.

Comerciantes algarvios expectantes

A reabertura das fronteiras luso-espanholas, após três meses e meio encerradas devido à pandemia de covid-19, é aguardada com expectativa por comerciantes de Vila Real de Santo António, que atravessam graves dificuldades sem a habitual clientela espanhola.

A agência Lusa esteve na localidade algarvia localizada na foz do rio Guadiana e na fronteira fluvial com a localidade espanhola de Ayamonte, fechada desde meados de março, e constatou o impacto negativo que a falta de visitantes, sobretudo espanhóis, mas também de outras nacionalidades, está a ter na economia local, baseada na restauração e lojas de atoalhados.

Ana Sousa, que explora um quiosque com serviço de bar e café junto à alfândega e ao acesso para o transporte fluvial para Ayamonte a partir daquela cidade do distrito de Faro, disse à Lusa que já é tempo de reabrir as fronteiras, cujo encerramento originou perdas nas vendas a rondar os 70%.

“É lamentável, porque as vendas quebraram à vontade 70%, acima até”, estimou esta comerciante, considerando que “já chega de as fronteiras estarem fechadas”, porque “a covid está aqui e em Espanha” e o necessário é as pessoas “se protegerem para manter as distâncias”.

A mesma fonte lembrou que os comerciantes foram obrigados a fechar os negócios durante o confinamento imposto pelo estado de emergência e criticou a falta de apoio do Governo para suportar as despesas fixas, que ascendem a mais de 4.000 euros sem qualquer receita.

“Fomos obrigados a fechar e quem não tiver um fundo de maneio que possa manipular e sustentar as despesas todas, infelizmente é obrigada a fechar, porque o Estado não ajuda nada. E não sei por que razão as fronteiras estão há tanto tempo fechadas”, disse.

Taxistas sem trabalho

Dionísio Estêvão é taxista na localidade fronteiriça algarvia e afirmou que, neste período com as fronteiras encerradas, o negócio “tem sido péssimo” e “as receitas caíram mais de 90%”.

“Estávamos a faturar umas receitas mais ou menos, isto iria subir, só que o coronavírus veio-nos tramar. E nesta altura do ano, que já devíamos estar com umas contas boas, está muito mau”, lamentou o motorista, que anseia pela reabertura de fronteiras, prevista para 1 de julho.

Com muitos estrangeiros entre os clientes, este taxista tem tido pouco trabalho e deu um exemplo das dificuldades que sente no dia-a-dia para ganhar a vida, contando que pouco antes de falar com a Lusa “era para ter ido fazer um serviço até ao aeroporto de Sevilha [Espanha]”, mas “não deixaram passar” para Espanha pela ponte internacional sobre o rio Guadiana, já no concelho de Castro Marim, a oito quilómetros de Vila Real de Santo António.

“Tive eu que chamar um táxi espanhol para levar o cliente para o aeroporto de Sevilha e tive que voltar para trás”, acrescentou, considerando que as dificuldades financeiras vão manter-se “enquanto os hotéis não abrirem, o aeroporto não começar a trazer estrangeiros e a fronteira não deixar passar pessoal”.

Mário Ferramacho, que gere uma negócio de atoalhados na marginal de Vila Real de Santo António, relatou que os últimos tempos, com a fronteira fechada, têm sido “muito complicados” e “sem vendas”, empurrando a faturação para “zeros” e deixando o movimento “completamente morto”, porque o comércio local “vive dos espanhóis” e, “sem os espanhóis, aqui não se faz nada”.

A mesma fonte espera também que a fronteira possa mesmo reabrir a 1 de julho para ver se o negócio “retoma um pouco”, mas mostrou-se convencido de que “2020 vai ser um ano muito mau”, devido aos receios de uma “segunda vaga” na pandemia e ao “muito desemprego em Espanha” originado pelo confinamento e os efeitos da paragem de atividade no trabalho.

Rosa Cruz, que trabalha numa loja de atoalhados na principal praça da cidade, qualificou o período vivido nos últimos meses como “muito mau” e “um desastre” para a terra, devido ao “impacto negativo” da covid-19 num negócio em que, “não havendo espanhóis, não há salvação”.

A reabertura das fronteiras é também aguardada por esta comerciante, embora esteja pouco optimista quanto ao aumento imediato no afluxo de visitantes espanhóis à cidade pombalina, porque o espanhol também não tem poder de compra e vem para passeio”, por em Espanha haver “muita gente no desemprego”.

Devido à pandemia de covid-19, as fronteiras terrestres entre Portugal e Espanha foram encerradas às 23h do dia 16 de março, com nove pontos de passagem exclusivamente destinados ao transporte de mercadorias e a trabalhadores que tenham que se deslocar por razões profissionais, em termos definidos em conjunto pelos dois países.

O Governo de Espanha começou por anunciar a reabertura das fronteiras com Portugal para o dia 22 de junho, anúncio a que o Governo português reagiu com surpresa, tendo sido depois acertado o dia 1 de julho.

No dia da reabertura das fronteiras está prevista uma cerimónia com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o rei Felipe VI de Espanha, e os primeiros-ministros português, António Costa, e espanhol, Pedro Sánchez.

ZAP // Lusa

Siga o ZAP no Whatsapp

9 Comments

  1. Inaugurar a abertura das fronteiras com direito a corta fitas não lembra ao diabo. Mas estes políticos são piores que o diabo para aparecerem nas notícias.

  2. Gostava apenas de saber se o organizador da festa irá ser exemplarmente punido, por infringir as orientações da DGS. Segundo parece pode ir até 5 anos de prisão.

    • Devia mas com a justiça que temos só daqui a 10 anos é que sai sentença.
      Entretanto deve ficar em liberdade e ir à policia 1xmês marcar presença.

    • Porque carga de água teria que ser punido?? Por acaso alguém foi punido com a festa do 25abril? 1maio? Sos racismo?? Vocês são mesmo hipócritas já para não falar desta fantochada do vírus, China e França em fevereiro falavam bem da hidrocloroquina e diziam ser a “cura” quando Trump mencionou o uso da mesma, pegaram no medicamento e politizaram contra Trump , a França e a China mudaram logo de ideias. A comunidade científica até se contradisse e agora já vieram admitir o erro dando razão a Trump e Bolsonaro.

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.